
Quase sete anos depois de fundar o Arc�ngelo, no Edif�cio Arc�ngelo Malleta, no Centro, o desejo de servir e acolher transforma afeto em alimento para quem enfrenta o frio rigoroso deste inverno nas ruas. O toque de alquimia come�a com a doa��o de legumes, vegetais, aparas de frango, que s�o cozidos num caldo pelas m�os da chef na cozinha do bar restaurante. O prato preparado com cuidado n�o ter� como destino as mesas sempre lotadas do estabelecimento. � feito para quem n�o tem teto e, muitas vezes, nem alimento.
Santiago foi o primeiro a resgatar o potencial da sacada do Maletta para movimentar a vida cultural da cidade quando o segundo andar j� n�o tinha o mesmo glamour dos tempos �ureos nas d�cadas de 1970 e 1960. Ao saber da hist�ria do pr�dio emblem�tico da capital, ponto de resist�ncia � ditadura militar e local de encontro de poetas, escritores e artistas, o escultor investiu no bar batizado com o mesmo nome do edif�cio. Muitos na �poca n�o botavam literalmente f� no Arc�ngelo, mas, com o nome do anjo da mais alta ordem conforme o latim, o espa�o prosperou.
Neste inverno, Santigo se prop�e outro desafio nas ruas da cidade. Preparado por Mika, o caldo � acondicionado em vasilhas, que s�o colocadas num recipiente t�rmico acoplado � garupa da bicicleta de Mika e Santiago. No dia dos namorados, eles passaram a noite servindo os moradores de rua. A experi�ncia marcou o casal, que quis tornar o contato com a realidade de quem vive na rua algo regular.
Na segunda-feira, a equipe do Estado de Minas acompanhou o casal com os amigos, a designer de ambiente Ayumi Takizawa, de 24, e o m�sico Nicolas Vassou, de 38, nos locais onde vivem dezenas de pessoas. “Usamos a apara de frango para fazer um caldo saboroso, depois acrescentamos os vegetais e inclu�mos carnes e gr�o-de-bico para ficar uma refei��o bem proteica”, diz Mika. Com ajuda da bicicleta, o grupo oferece o alimento, mas muitos moradores, ao os verem se aproximar, se antecipam e pedem.
Na primeira vez que sa�ram �s ruas, eles pegaram as doa��es na gaveta da geladeira de suas casas. Desta, contaram com ajuda de comerciantes do Mercado do Cruzeiro. Do Arc�ngelo, o grupo seguiu pela Avenida Augusto de Lima em dire��o � Pra�a Raul Soares, a primeira parada. Antes mesmo de anunciar, muitos moradores se aproximaram. “� doa��o, mo�o? N�. Nesse frio � bom demais”, diz Leila Lemos da Silva, de 35. Ela conta que antes era preciso ir at� o elevado na regi�o da Avenida dos Andradas para conseguir o alimento, que s� era distribu�do por l�. “Est� maravilhoso. Quando n�o nos oferece, a gente fica com fome. Algumas pessoas passam e nos d�o p�o, mas o que sustenta � comida.”
A rua se tornou a casa de Leila depois que ela se desentendeu com a fam�lia. Foi para a rua, deixando o filho de 18 anos com o pai. “Ele vive com o pai dele, que tem mais condi��o. Se dependesse da minha m�e, eu n�o estava aqui”, diz. Em cada canteiro da pra�a, grupos de cinco e at� 10 pessoas dividem cobertores. “Ningu�m quer isso n�o, mo�a. N�o � vida, mas n�o tenho lugar para ir. N�o tenho nada. Tenho saudade dos meus filhos, da minha m�e e da minha ex-esposa”, desabafa Muriel Rodrigues Souto, de 26, que j� tentou se reabilitar do v�cio de droga, mas teve reca�das.
Depois de passar pelo Mercado Central, onde muitos pedem o alimento, o grupo seguiu para a Avenida Amazonas. Em praticamente todos os quarteir�es h� algu�m que tenta afugentar o frio com cobertores como � o caso de Maur�lio de Andrade, de 54. A cena de grupos de pessoas dormindo na cal�ada � corriqueira no Centro da capital. Ao longo do trajeto, Mika e Nicolas conversam sobre pol�ticas para moradores de rua.
“Muitas n�o querem recuperar o indiv�duo, querem limpar as ruas”, critica. Aos poucos, eles tomam contato com pessoas que t�m casa e fam�lia, mas pela depend�ncia do crack se junta a quem est� na rua. Na Rua dos Tamoios, o caldo � servido para Helo�sa de Lima Galdino, de 35, Geany Cristina Brito Pena, de 26, e Luciana Piovezan, de 22. Geany veio de Macap� (AP) e Luciana de Uar�, no Par�. “Vim por causa da minha ex-mulher. Fiquei 1 ano e 10 meses com ela e depois conheci outra pessoa”. Ela n�o pensa em voltar para casa, para n�o dar desgosto aos pais. “Prefiro ficar na rua a dar desgosto ao meu pai”, diz Geany.
Na Pra�a Sete, o caldo aquece tamb�m os artes�os que exp�em o trabalho. No quarteir�o da Rua Carij�s, quem est� embaixo das cobertas comemora e agradece a comitiva que chega com o alimento que foi o �nico da noite. � o caso de M�rio Ferreira da Costa, de 63, natural de Ara�ua� que veio para a capital em busca de oportunidade, mas sem encontr�-las foi viver embaixo das marquises. “Larguei minha terra em busca de alguma coisa. Minha fam�lia acabou. Todos morreram”, diz.
No meio do trajeto, um homem chega, assunta o que est� acontecendo e doa nota de R$ 100 para Mika e Santiago. O grupo segue pelas ruas S�o Paulo e Rio de Janeiro. Foram servidas 50 refei��es, mas a ideia � aumentar esse n�mero com o tempo. “Semana que vem pretendemos fazer o dobro”. A ideia foi de Mika, que estudou gastronomia na Faculdade Est�cio de S�, atuou como chef e subchef em restaurantes da capital e depois resolver seguir o caminho como consultora e personal chef.

CONVITE O desejo de ajudar o pr�ximo foi o que motivou o confeiteiro da Padaria P�o de Casa Vanderl�cio Cardoso de Sousa a colocar em pr�tica ideia simples, mas que ajuda quem vive nas ruas do Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul, a se proteger do frio. Ele colocou cartaz numa �rvore da Rua dos Aimor�s sugerindo que as pessoas deixem as doa��es. A iniciativa deu t�o certo que todos os dias v�rias pe�as s�o deixadas nos galhos, mas antes mesmo de o dia amanhecer j� n�o est�o mais l�. “Tem dois meses que todos os dias as pessoas colocam e, quando chego de manh�, j� n�o tem mais nada”, diz Vanderl�cio, que foi o primeiro a deixar as doa��es.
COLABORE PARA AQUECER QUEM PRECISA
Onde entregar doa��es
» Arc�ngelo
(O estabelecimento recebe alimentos para preparar o caldo)
Edif�cio Arc�ngelo Maletta - Rua da Bahia 1.148 – segundo piso
» �rvore da Amizade
Rua dos Aimor�s, na altura do 346, Bairro Funcion�rios
Minas T�nis Clube. At� 30 de junho.
Portarias das Unidade I, II, N�utico e Country
» Padaria Vianney
Est� recebendo doa��es de agasalhos na Rua Aimor�s, 155, Bairro Funcion�rios
» Conselho Regional de Farm�cia
Recebe pe�as de inverno na Rua Urucuia, 48, Bairro Floresta
» Campanha #CalorHumano
At� 25 de junho
Shoppings e universidades da capital