
O primeiro impacto do t�tulo de Patrim�nio Cultural da Humanidade obtido pela Pampulha dever� ser no turismo, prev� o arquiteto e historiador Le�nidas Oliveira, presidente da Funda��o Municipal de Cultura (FMC) e Belotur, ambos vinculados � Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). “Desde que aumentou a mobiliza��o em torno da candidatura do conjunto moderno, a visita��o aumentou 35%”, constata. Ele diz que, conforme pesquisa, 60% das pessoas que chegam � capital visitam a Pampulha, com destaque para a Igreja de S�o Francisco de Assis, uma das joias projetadas por Oscar Niemeyer, com jardins planejados por Burle Marx, murais e quadros da via-sacra, interna, de C�ndido Portinari, al�m dos mosaicos externos de Paulo Werneck. No caso dos estrangeiros, o n�mero sobe para 83%.
Empenhado na campanha de candidatura da Pampulha iniciada j� quatro anos – em 1996 houve uma tentativa, embora sem resultados –, Le�nidas explica que a decis�o da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco) representa um cart�o de visitas para a cidade. “� um t�tulo muito potente, vigoroso e poderoso para atrair turistas e isso ocorre em todos os bens culturais reconhecidos. Pela import�ncia para a humanidade, a Pampulha est� no mesmo patamar das pir�mides do Egito e da arte barroca de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, presente em Congonhas e Ouro Preto”, afirma.
O destino de muitos turistas que chegam a Minas � Ouro Preto, mas, ao ter um “patrim�nio do mundo” reconhecido, a situa��o de BH pode mudar. No mundo, h� apenas 8% de bens modernos protegidos e a Pampulha tem os projetos de Niemeyer, que deixou registrado, como lembra Le�nidas: “A Pampulha foi onde tudo come�ou”. Para garantir a prote��o, especialmente quanto �s constru��es no entorno, ele ressalta que os bens s�o tombados pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e art�stico Nacional (Iphan), Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha) e Conselho Deliberativo Municipal do Patrim�nio cultural, al�m de a Pampulha ser uma �rea de Diretrizes Especiais (ADE).
DE PERTO De �nibus de turismo, de carro, a p� ou de bicicleta. Sozinhos, em fam�lia ou em grupos enormes. A todo momento, visitantes chegam � Pampulha e n�o se cansam de enaltecer suas caracter�sticas modernistas. As pernambucanas Marlene Jos� dos Santos, funcion�ria p�blica, e L�gia Andrade Sukar, professora universit�ria, se prepararam bem antes de chegar a BH. “Li um livro sobre a hist�ria de Juscelino Kubitschek, e, de perto, vejo esse conjunto como uma obra grandiosa”, disse L�gia, com o semblante que demonstra encantamento. “� minha primeira vez aqui e estou admirada com a arboriza��o e as constru��es da d�cada de 1940”, acrescentou Marlene. No mesmo grupo, a alagoana Nelita Maria da Silva n�o se cansava de admirar a capela � beira do lago e comentar sobre sua beleza.
Vindas de Santa Catarina, as amigas Deyse Koth, arquiteta, e B�rbara Nasato, designer de interiores e estudante de arquitetura, gostaram do que viram. Para Deyse, que visita pela segunda vez o conjunto moderno, o t�tulo � muito importante para BH. B�rbara, pela primeira vez no complexo, acrescenta: “� muito bom chegar caminhando, sentir o impacto de um lugar t�o lindo”.
Aos olhos dos estrangeiros, a Pampulha ganha outra dimens�o. Atenta aos detalhes da Igreja de S�o Francisco, a norte-americana Lee Ann Custer, de 29, faz pesquisas para a tese de doutorado em hist�ria da arte, na Universidade da Pensilv�nia. “A obra de Niemeyer � muito famosa. Acho tudo muito bonito, a Casa do Baile, a igreja... Cada edifica��o � �nica, n�o h� um lugar no mundo igual a este”, constatou a jovem de olhos verdes, tamb�m fazendo estudos sobre a arte colonial mineira.
VALOR Representante da Unesco no Brasil, o franc�s Lucien Mu�oz tamb�m acredita em aumento do turismo: “O valor excepcional e universal suscita de imediato o interesse da comunidade internacional – e tamb�m nacional – em conhecer e visitar determinado bem. H� novos holofotes sobre o s�tio e essa mudan�a na forma de ver o bem certamente desperta novos fluxos de turismo que, por sua vez, geram possibilidades para a cidade que o det�m”. Segundo Mu�oz, com bom planejamento e pr�ticas sustent�veis � poss�vel potencializar alternativas de desenvolvimento local, aliadas a pr�ticas integradas de promo��o, educa��o e preserva��o patrimonial.
Mu�oz explica que o fato de a cidade ou pa�s ter um bem inscrito na lista do Patrim�nio Mundial gera de imediato contrapartidas do poder p�blico e seu comprometimento oficial com a preserva��o do s�tio em harmonia com os crit�rios que o tornaram excepcional. “Enfatizando fortemente o papel das comunidades locais, a inscri��o funciona como uma ferramenta eficaz para o monitoramento de diversos desafios contempor�neos, especialmente a urbaniza��o acelerada, que pode acarretar descaracteriza��o.”


�gua: d�diva e desafio
Lan�amento de esgoto, lixo, polui��o de toda sorte e por todo canto. O espelho d’�gua da Pampulha nunca refletiu um bom estado de conserva��o – tanto que, na primeira tentativa de candidatura ao t�tulo de Patrim�nio Cultural da Humanidade, h� 20 anos, a sujeira foi empecilho para levar o sonho adiante, ao lado da degrada��o do patrim�nio. A expectativa da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) � de que, at� o fim do ano, as �guas estejam na classe 3, o que permite a pr�tica de esportes n�uticos.
Em mar�o, a PBH iniciou os trabalhos de recupera��o da qualidade da �gua do reservat�rio e a an�lise das primeiras amostras, feitas em abril e em maio, demonstrou que os tr�s primeiros meses de trabalho produziram bons resultados. Foram verificadas redu��es importantes nos par�metros estabelecidos para a avalia��o, como o DBO (indicador de presen�a de mat�ria org�nica), coliformes termotolerantes (indicador de presen�a de esgoto e micro-organismos patog�nicos), clorofila-A (algas) e f�sforo total (esgoto). Em tr�s par�metros avaliados foram obtidos valores que j� atendem �s exig�ncias de classe 3.

PRECEDENTE Em 2003, uma amea�a grave pairou sobre Ouro Preto, na Regi�o Central, primeira cidade brasileira declarada Patrim�nio Cultural da Humanidade (1980) pelo Unesco, devido � falta de pol�ticas e a��es para proteger aquele que � considerado o maior conjunto arquitet�nico colonial do pa�s. A popula��o se manifestou, vestiu-se de preto em sinal de luto, at� que o trem da preserva��o voltou aos trilhos. Com o t�tulo n�o � garantia eterna, a administra��o de Belo Horizonte tem outro grande desafio pela frente: resolver a quest�o do Iate T�nis Clube, que abriga um anexo de 4 mil metros quadrados inaugurado em 1984 (para abrigar garagem, academia de gin�stica e sal�o), quatro d�cadas ap�s a constru��o do clube.
A situa��o do Iate, que foi desapropriado pela Prefeitura de Belo Horizonte em fevereiro, est� sendo analisada pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais. O certo mesmo � que, se em tr�s anos o anexo n�o for demolido, a Pampulha pode perder o t�tulo conquistado. “Vamos resolver a quest�o do Iate e vai ser tudo preto no branco”, avisa o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda. A dire��o do clube diz que est� aberta � negocia��o e que sempre apoiou a candidatura da Pampulha. “O Iate foi projetado como clube e dever� continuar assim, embora sem o anexo que o descaracteriza”, observa o presidente da Funda��o Municipal de Cultura, Le�nidas Oliveira.