
Em menos de 24 horas, as estacas de madeira s�o fincadas no ch�o. Ser�o a base para receber pe�as de tapumes, placas de metal e lonas, que come�am a formar paredes e telhados improvisados de mais um barraco que brota �s margens do Anel Rodovi�rio de Belo Horizonte, �s vezes a poucos metros da pista, amea�ando seus ocupantes e tornando-se um novo desafio para um poder p�blico inerte diante da expans�o. Mesmo sob os olhos das milhares de pessoas que trafegam diariamente em um dos corredores de tr�fego mais movimentados da capital, as estruturas prec�rias surgem da noite para o dia e v�o se multiplicando pela faixa de dom�nio da autoestrada. Com o tempo e a omiss�o oficial, v�o se tornando vilas, com “moradias” em �rea de risco que depois s� s�o removidas por meio judicial, tornando a rodovia ainda mais perigosa tanto para motoristas quanto para os pr�prios invasores
Enquanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o Minist�rio P�blico Federal (MPF) e a Defensoria P�blica da Uni�o (DPU) n�o conseguiram sequer encaminhar antigos invasores a programas habitacionais populares, a fim de viabilizar o projeto de amplia��o do Anel Rodovi�rio – que est� paralisado –, novas comunidades est�o surgindo e crescendo a olhos vistos. S� neste ano, pelo menos tr�s �reas invadidas entre as regi�es do Barreiro e Oeste est�o sendo expandidas, uma delas ocupada a partir de fevereiro, ampliando o passivo e tornando ainda mais distante a adequa��o de uma das vias que mais matam na capital mineira.

A mais recente das invas�es se alastrou em um aterro constru�do sobre as drenagens contra as cheias do C�rrego Bonsucesso, no Barreiro, no sentido Rio de Janeiro, perto do trevo da Avenida Waldyr Soeiro Emrich (Via do Min�rio). L�,

Oito anos depois, crian�as e adultos trabalham continuamente para tornar as habita��es permanentes, estruturando as paredes, antes de madeirite, com tijolos e lajes, uma das estrat�gias para n�o serem despejados com facilidade. A equipe do Estado de Minas tentou contato com alguns desses moradores, para saber detalhes sobre as ocupa��es, mas as pessoas abordadas se mostraram arredias e n�o quiseram comentar as amplia��es que faziam nos barrac�es. De acordo com a assessoria de imprensa da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), a situa��o dessa ocupa��o “est� sendo avaliada” pela Secretaria Municipal de Administra��o Regional Barreiro.

Enquanto o poder p�blico “avalia” situa��es do tipo, cada passagem de caminh�o ou �nibus pelo Anel Rodovi�rio provoca deslocamentos de ar que fazem sacudir o barrac�o de um c�modo da ex-moradora de rua Renata Ferreira dos Santos, de 34 anos. A estrutura prec�ria, que ela mesma construiu com peda�os de madeira e lona pl�stica a n�o mais que dois metros do asfalto, parece que vai ruir a qualquer momento. A desempregada conta que h� seis meses deixou os passeios da Savassi, na Regi�o Centro-Sul de BH, para tentar reestruturar a vida e reaver seus quatro filhos. “Minhas crian�as estavam em um abrigo. Tiraram tr�s delas de mim para ado��o e s� sobrou um. Preciso arranjar um emprego e uma casa de verdade para ter os meninos de volta”, afirma. A mulher � uma das mais recentes moradoras da invas�o que fica entre a linha f�rrea e a Avenida Tereza Cristina, no Bairro das Ind�strias, tamb�m no Barreiro.
A ocupa��o de casas no canteiro do Anel Rodovi�rio foi iniciada em 2015, mas continua crescendo, j� chegando a mais de 80 moradias. Os primeiros barracos de madeira recebem melhorias em ritmo lento, enquanto novas moradias com paredes de compensado v�o sendo erguidas. Algumas das portas e janelas ficam a meio metro do acostamento da via, pouco antes do estreitamento da pista sob o viaduto da estrada de ferro, no sentido Vit�ria. “Luz, aqui, a gente usa do poste, com cabo de telefone. A �gua vem de uma f�brica. Queria que a prefeitura me desse uma casa para n�o ter de ficar vivendo neste perigo todo, mas a �nica vez que vieram aqui foi para tentar me tirar � for�a”, disse Renata. De acordo com a Urbel, “a fiscaliza��o da prefeitura est� realizando as devidas a��es para punir os infratores” naquele local.
Indiferente �s provid�ncias que o poder p�blico diz estar tomando, a mais antiga das tr�s ocupa��es integrantes da nova onda de invas�es no Anel Rodovi�rio fica ao lado do p�tio de recolhimento de ve�culos usado pela Pol�cia Civil no Bairro Bet�nia, na Regi�o Oeste de BH. De acordo com a Urbel, o terreno invadido “� de propriedade particular e existe a��o fiscal em desfavor dos invasores”.