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Estado de Minas

Degrada��o das veredas complica a vida dos pequenos produtores

Na segunda parte da s�rie sobre os o�sis retratados na obra-prima do escritor Guimar�es Rosa, EM mostra os impactos da destrui��o dos brejos


postado em 17/10/2016 11:00 / atualizado em 17/10/2016 11:02

Vereda Almescla foi afetada por incêndio e deixou vizinhos sem água(foto: Solon Queiroz/Esp.EM/D.A PRESS)
Vereda Almescla foi afetada por inc�ndio e deixou vizinhos sem �gua (foto: Solon Queiroz/Esp.EM/D.A PRESS)
Bonito de Minas, Chapada Ga�cha, Urucuia, Arinos – Eles viviam com um certo conforto, tendo em seus terrenos – e at� mesmo na porta de casa – �gua farta, que garantia a produ��o e o sustento. Atingidos pela degrada��o e secamento dos o�sis do cerrado onde Riobaldo e seus companheiros se refrescam em Grande sert�o: veredas, pequenos produtores do Norte e Noroeste de Minas perderam esse privil�gio, substitu�do pelo flagelo, numa transforma��o radical em suas vidas.


O sert�o se alarga. A crise h�drica se imp�e �s cidades, afetando a qualidade de vida da popula��o e o desenvolvimento econ�mico. Mas s�o os pequenos produtores vizinhos dos buritizais, tema da segunda parte desta s�rie de reportagens do Estado de Minas que marca a comemora��o dos 60 anos de lan�amento da obra-prima de Guimar�es Rosa, os primeiros afetados diretamente pelo fim dos brejos. Sem �gua por perto, o sofrimento enfrentado por eles se repete de sol a sol.

Como o EM mostrou na edi��o de ontem, as veredas – respons�veis por reter a �gua das chuvas e alimentar os mananciais ao longo do ano – v�m sendo destru�das, sobretudo pelas queimadas, levando ao secamento das nascentes, no palco da trama rosiana.

A agonia das veredas sufoca o pequeno produtor. “Antigamente, aqui tinha muita �gua, fartura mesmo. Tinha at� peixe. Hoje acabou tudo. S� ficou areia”, testemunha o agricultor Esa� Ribeiro dos Santos, de 54 anos, sobre um peda�o de madeira que antes servia como pinguela para atravessar o c�rrego formado pela Vereda Almescla, no munic�pio de Bonito de Minas. “Atearam fogo na cabeceira da vereda. Depois do fogo, a �gua come�ou a diminuir, at� acabar de vez h� quatro anos”, relata o pequeno produtor.

A fam�lia de Esa�, que antes tinha �gua em abund�ncia a 50 metros da casa, agora enfrenta um verdadeiro drama para ter acesso ao l�quido. A mulher dele, Pedrelina Ribeiro dos Santos, � obrigada recorrer a um olho d’�gua – pequeno po�o – que ainda restou em um ponto da vereda e, em seguida, caminhar cerca de 300 metros com uma lata d’ �gua na cabe�a at� a sua casa. � com ela que a fam�lia mata a sede e cozinha seus alimentos.
Esaú Santos mostra a madeira que já serviu de pinguela para atravessar terreno alagado(foto: Solon Queiroz/Esp.EM/D.A PRESS)
Esa� Santos mostra a madeira que j� serviu de pinguela para atravessar terreno alagado (foto: Solon Queiroz/Esp.EM/D.A PRESS)


Pedrelina conta que teve 12 filhos, dos quais cinco moram com ela e Esa�. Os outros, “mais velhos”, se casaram ou sa�ram para trabalhar. A fam�lia vive em uma casa coberta com palhas de buriti, em situa��o de extrema pobreza, agravada pela falta d’�gua. “Assim n�o se pode produzir nada”, lamenta Esa�.

Tomar banho e matar a sede dos animais – cenas recorrentes nas veredas de Rosa – n�o � mais poss�vel na Almescla. “Como a vereda perto de casa secou, tenho que levar os cavalos a uma dist�ncia de quatro quil�metros, no Rio Pandeiros, para dar �gua para eles, conta o pequeno produtor. “Ou ent�o, temos que ir l� buscar a �gua no rio e, depois, dar �gua para os animais no balde”,  acrescentou. O mesmo percurso � feito pela fam�lia quando deseja um banho mais completo que o de balde no quintal de casa.

Vest�gios de antigos plantios de cana-de-a��car, feij�o, mandioca e outras culturas de subsist�ncia d�o ind�cios dos motivos que levaram � degrada��o da Almescla. pequenos agricultores. Proibidos nas veredas, por serem �reas de preserva��o permanente, os cultivos s�o de dif�cil combate, comenta do t�cnico do Instituto Estadual de Florestas Jairo Wilson Viana, que defende a cria��o de alternativas de renda para pequenos produtores para que isso n�o ocorra.

Sem água, pobreza é agravada no sertão mineiro(foto: Solon Queiroz/Esp.EM/D.A PRESS)
Sem �gua, pobreza � agravada no sert�o mineiro (foto: Solon Queiroz/Esp.EM/D.A PRESS)

Tamb�m no munic�pio de Bonito de Minas, a fam�lia de Isaura Pereira Santana, de 66, sofre as amarguras do secamento de uma vereda, a do Pindaibal, que garantiu �gua para a comunidade em seu entorno at� 10 anos atr�s, quando come�ou a secar levando consigo o c�rrego de mesmo nome. A “�nica salva��o” da fam�lia � uma cisterna, de onde � �gua para beber e fazer comida.

No dia que recebeu a reportagem, no in�cio de outubro, pingos de chuva encheram Isaura de esperan�a.


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