
No sert�o mineiro, a palavra “catrumano” teria sido trazida por viajantes europeus dos s�culos 18 e 19, para se referir aos nativos do Norte como “quatro patas” ou “quatro m�os”, diante do apego impressionante que mantinham por suas montarias. O termo ilustra a cultura da sociedade pastoril que surgiu nos currais do S�o Francisco, estabelecida d�cadas antes da descoberta do ouro nas zonas mineradoras.
Buscando “o lugar do Norte”, que se ressente por crer que nunca teve reconhecida sua import�ncia hist�rica na forma��o do mineiro, o Movimento Catrumano nasce “de um inc�modo c�vico, psicol�gico e emocional”, e da necessidade de “construir um poder simb�lico para o Norte de Minas”, como explica o antrop�logo Jo�o Batista de Almeida Costa, professor da Universidade Estadual de Montes Claros e um dos integrantes da iniciativa. Ele aponta que na forma��o cultural predominante em Minas prevaleceu a ideologia do ouro e do poder, em detrimento da cultura dos sert�es, do gado.
A sociedade pastoril, afirma, mesmo quando revelada na maestria de Guimar�es Rosa, aparece como romance e n�o como hist�ria. “O Norte de Minas � fundamental na constitui��o de Minas Gerais. � a conjun��o das duas sociedades, pastoril e mineradora, que d� forma � sociedade mineira”, diz o pesquisador. No entanto, ainda hoje, uma vis�o de separa��o e exclus�o permanece sobre a regi�o, sustenta. “A gente � jogado para a Bahia”, observa o pesquisador.
A cidade mais s�bia do mundo
Os mantimentos do Norte, garantidos pela pecu�ria, tornaram poss�vel a exist�ncia das �reas mineradoras nascentes ao Sul do estado, afirma o professor. Nos primeiros anos da minera��o, a fome esvaziava periodicamente as minas de ouro. Somente no in�cio do s�culo 18, quando foi feito o abastecimento pelo Norte, � que a minera��o se firmou. “Mas parece que os mineiros t�m vergonha de ter sido alimentados por n�s”, questiona Jo�o Batista.
Desde 2005, integrantes do Movimento Catrumano celebram, em 8 de dezembro, o Dia dos Gerais. A data foi oficializada em 2011, e nesse dia a cidade de Matias Cardoso, a primeira ocupa��o documentada no atual territ�rio mineiro, se torna a capital simb�lica de Minas.

As duplas consistem em “puxador” e “esteira”, e t�m como objetivo derrubar o boi, solto por uma pequena porteira em uma pista de cerca de 160 metros. Na faixa de pontua��o demarcada com cal, o animal deve ser derrubado. A competi��o prossegue por elimina��o, e n�o � raro que entre madrugada adentro.
Propriet�ria do Parque de Vaquejada Bom Sucesso, a advogada Roseni Nogueira lembra as dificuldades encontradas na atual ordena��o jur�dica, que entende haver maus-tratos contra os animais na pr�tica. Ela defende que se trata de “um esporte meio radical, sertanejo”. Fazendo pequena justi�a aos bois, um radialista da regi�o filma e vende grava��es editadas das vaquejadas. As mais procuradas, segundo ele, s�o colet�neas das quedas dos vaqueiros, vendidas a R$ 15 em bancas de rua pelo Norte de Minas.
NOTAS DO PEDAL
Presen�a feminina
Inspirada e incentivada pelo av�, a vaqueira Brenda Stefany Nunes, de 17 anos, � presen�a feminina constante em vaquejadas do Norte de Minas, boa parte das vezes sendo a �nica mulher a correr. Acostumada ao apoio e aos aplausos do p�blico feminino, na 24ª Vaquejada Nacional de Mirav�nia ela contava tamb�m com um f�-clube mirim, que vestido a car�ter aguardava sua vez na pista.“Eu j� andei no cavalo dela”, informava, orgulhosa, uma das tr�s garotas de chap�u, botas, luvas e esporas cor-de-rosa. Morando em fazenda de Manga, a jovem vaqueira monta em velocidade e derruba boi pelo rabo desde cedo. Em competi��es, est� desde os 14 anos. Afirma que ama o que faz e que s� tem que agradecer, “cada fim de semana um lugar diferente, novas amizades, uma nova fam�lia”.

Artista de estrada
Nascido numa barraca de circo, filho de artistas em turn� pelo Rio de Janeiro, Milton Magalh�es Lacerda foi registrado dias depois como mineiro, de passagem pela cidade de Rodeiro, Zona da Mata. Com 47 anos e tendo rodado as cinco regi�es do Brasil, ele conta que come�ou aos 13 e nunca conseguiu ficar muito tempo fora das arenas. Um tapete com a inscri��o “Lar, doce lar” d� as boas-vindas na escada do �nibus adaptado onde mora, com quarto, banheiro, cozinha, tev� e internet. Em frente ao espelho, ele d� vida ao palha�o Mulambo, criado h� 25 anos, quando a fam�lia achou melhor aposentar o pai, o palha�o Furreca. O trabalho exige capacidade f�sica, t�cnica e coragem no trato com animais. Na trupe, cada um dos 10 integrantes se desdobra em fun��es que v�o da montagem � bilheteria. Mulambo, que j� toreou nas maiores festas de rodeio do pa�s, critica a falta de apoio das autoridades e diz que o circo de tourada est� acabando. “Tenho a alegria de levar a alegria por onde eu passo”, conclui, sorrindo, antes de partir para a Bahia.
