
A s�ndrome � um dist�rbio do sistema visual que tem como sintomas mais comuns a dificuldade de adapta��o � luz, desorganiza��o espacial (no��o de direita, esquerda, em cima e embaixo) e desconforto com o movimento e com figuras complexas e de alto contraste. Tudo isso impacta quem sofre com ela, principalmente por afetar a coordena��o da movimenta��o ocular, e, consequentemente, prejudicar a leitura, como se textos e palavras estivessem tremendo. Assim como a dislexia, se manifesta com intensidade vari�vel, mas � um problema oftalmol�gico demonstrado clinicamente e que tem tratamento. Estudos da Universidade de Harvard mostram que 15% da popula��o mundial sofre do problema.
Chefe do Departamento de Neurovis�o do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimar�es, a professora-doutora em dist�rbios de aprendizagem relacionados � vis�o M�rcia Guimar�es diz que o comportamento de uma crian�a com a s�ndrome tem peculiaridades e, por isso, ningu�m melhor que a professora em sala de aula para identificar. “Na 1ª e 2ª s�ries (ensino fundamental), ela tem � frente 30 ou 45 alunos que est�o no mesmo n�vel de constru��o para serem alfabetizados. � uma professora que sabe a habilidade oral, o que a crian�a compreende, que conhece a linguagem que ela usa”, afirma. “O menino habitualmente muito esperto na parte oral, que participa da aula e, na hora da leitura, da c�pia no quadro, do ditado n�o consegue acompanhar os colegas, deve ser olhado com aten��o. Ele come�a bem na segunda ou na ter�a-feira, depois j� est� mais ap�tico, mais lento. No terceiro hor�rio est� cansado, come�a a prova bem e, no meio, comete erros inexplic�veis pela habilidade que ele teve na parte inicial da avalia��o, porque est� cansado”, relata.
Segundo M�rcia, o cansa�o neurovisual dificulta a conex�o de ideias e o cuidado para elaborar racioc�nio ou fazer uma conta. Ela explica que a s�ndrome sempre existiu, mas que agora tem se manifestado cada vez mais por causa de um ponto-chave da vida moderna: o tipo de luz. As telas de tablets, computadores, televis�es de LED t�m fundo de luz com uma frequ�ncia temporal. Ela explica que as pessoas que t�m Irlen s�o mais agu�adas que a m�dia e percebem a frequ�ncia temporal de maneira mais clara que as demais. “L�mpadas fluorescentes s�o fabricadas a 60 hertz, ou seja, piscam 60 vezes por segundo. Estudos populacionais mostram que 85% da popula��o, se estiver a 60 hertz, tem uma fus�o de faixa e v� aquilo como se fosse uma emiss�o continuada”, explica. “J� quem tem dist�rbios neurovisuais percebe os pulsos como se fosse uma l�mpada fluorescente acesa querendo queimar, piscando. � assim que ele v�.”
Por isso, � preciso fazer o teste da vis�o em funcionamento, ao contr�rio do exame oftalmol�gico cl�ssico. A avalia��o deve excluir a instabilidade da movimenta��o ocular. A m�dica relata que quando lemos, normalmente movimentamos os olhos de tr�s a quatro vezes por segundo. Logo, para saber se a pessoa l� ou n�o, n�o se pode apenas avaliar se ela enxerga ou n�o a letra pequena, mas se enxerga e se movimenta bem os olhos da esquerda para a direita numa velocidade r�pida e constante e com os dois olhos em sincronia.
TESTE Para sanar esses dist�rbios e ajudar a quem precisa, surgiu nas escolas p�blicas de ensino fundamental mineiras o projeto Bom come�o, que visa fazer o rastreamento da sa�de visual. A iniciativa � da Funda��o Hospital de Olhos, bra�o social do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimar�es, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele busca justamente o resgate de crian�as subescolarizadas. As prefeituras selecionam professores para fazer o curso e aprender a caracteriza��o de um dist�rbio de aprendizagem relacionado � vis�o.
As educadoras recebem um kit que inclui transpar�ncias especiais de diversas cores (overlays), para serem colocadas no papel ou na tela do computador, possibilitando � pr�pria educadora fazer o teste de leitura com a crian�a. Depois de identificado problema, o aluno passa a usar as transpar�ncias, compradas pela pr�pria caixa escolar das institui��es de ensino a pre�o acess�vel, ou filtros nas lentes dos �culos.
Educadora capacita colegas
“S� quando a gente sofre na pele sabe que a crian�a n�o est� mentindo e n�o est� com pregui�a”. A frase � da professora Maria C�lia dos Santos Peixoto, de 55 anos, que descobriu tamb�m ter s�ndrome de Irlen ao fazer o curso de capacita��o dado a professores de escola p�blica pela Funda��o Hospital de Olhos. Enquanto o passo a passo era ensinado, ela percebia algo muito familiar. A s�ndrome � uma altera��o do processamento visual causada por um desequil�brio da capacidade de adapta��o � luz que produz altera��es no c�rtex visual e d�ficit na leitura. “Ela n�o impede a pessoa de aprender, mas fica mais desgastante. Foi uma liberta��o”, conta.
Maria C�lia relata que a mudan�a de luminosidade nos �ltimos tempos piorou a situa��o. Agora que usa �culos com filtros, a vida � outra. A professora se aposentou no fim do ano, mas ainda continua a fazer testes nas escolas e tem uma fila de crian�as esperando. Coordenadora pedag�gica, ela avaliou n�o apenas as crian�as em fase de alfabetiza��o, mas tamb�m adolescentes e at� os alunos da Educa��o de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Francisca Alves, no Bairro Santa Terezinha, na Pampulha, onde atuava, e em outras institui��es da redondeza. “Eu queria aprender bem o processo e mais de 90% das crian�as nos mais de 40 testes que fiz foram detectadas com Irlen e encaminhadas para o Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimar�es para avalia��o”, diz. Ela afirma que com o uso da transpar�ncia overlay houve melhora significativa.