
Ao acompanhar a equipe do Estado de Minas nessa viagem pelos espa�os sagrados de Ouro Preto, Bohrer explica que foram contempladas capelas e igrejas do s�culo 17 ao 21, notando-se uma caracter�stica b�sica. “� impressionante, pois, nas constru��es mais recentes, a forma de capela � sempre a mesma. As pessoas seguem o partido (formato) das primitivas”, diz o professor, que leciona no Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG). Diante da Capela de Santo Ant�nio do Monte, aonde se chega pelo Caminho Velho da Estrada Real (Vila Rica a S�o Paulo), ele ressalta a import�ncia da arte religiosa na vida da cidade que, devido � explora��o centen�ria do ouro, sediou templos cat�licos em todos os distritos (Cachoeira do Campo, S�o Bartolomeu, Glaura, Miguel Burnier, Engenheiro Corr�a, Lavras Novas, Ant�nio Pereira, Amarantina, Santo Ant�nio do Leite, Rodrigo Silva, Santo Ant�nio do Salto e Santa Rita de Ouro Preto). Em Engenheiro Corr�a, o professor mostra, na parte urbanizada, a Capela de S�o Jos�, erguida no fim do s�culo e in�cio do 20, de linhas s�brias e tend�ncias neocl�ssicas.
MAIS ANTIGA No trabalho, Bohrer, acompanhado dos estudantes bolsistas T�ssia Rocha e Jefferson Alexandre, de conserva��o e restaura��o, e Thatyanna Mota, de jornalismo, encarregada do registro fotogr�fico, visitou todas as 131 igrejas, capelas e Passos da Paix�o de Cristo. Na caminhada, o grupo esteve na Capela de Santa Quit�ria da Boa Vista, datada de cerca de 1680, localizada no distrito de Rodrigo Silva. “Uma orientanda minha no mestrado, Jussara Duarte, descobriu documenta��o in�dita e podemos dizer, sem medo de errar, que essa � a mais antiga de Ouro Preto”, afirma Bohrer, autor de Ouro Preto: Um novo olhar, lan�ado em 2011.
� impressionante como praticamente a cada esquina surge um novo espa�o religioso cat�lico, fruto da a��o dos monges e freis e das ordens terceiras ou de leigos. Na pesquisa, Bohrer verificou que a maior parte dos templos foi edificada no s�culo 18, �poca �urea da minera��o (1720-1760) e tamb�m apogeu das irmandades. No s�culo 19 houve decl�nio do per�odo aur�fero e fortalecimento da agricultura e chegada da ferrovia, o que favoreceu o surgimento de templos ao longo das linhas de trem. J� no 20 ocorreu a ascens�o da metalurgia, como no distrito de Miguel Burnier, onde o destaque vai para a Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora de Calastrois, atualmente em estado cr�tico de conserva��o. “De maneira geral, o patrim�nio da sede e dos munic�pios est� bem preservado. H�, claro, templos demandando restauro, mas perdeu-se muito pouco. Ha poucas ru�nas”, diz o professor.
Dupla deVO��o A cerca da casa ainda est� enfeitada com bandeiras vermelhas, heran�a da festa de S�o Sebasti�o celebrada dia 20, e parece dar as boas vindas a quem chega ao Morro de S�o Sebasti�o, a dois quil�metros da Pra�a Tiradentes, no Centro Hist�rico de Ouro Preto. O lugar tamb�m � desconhecido da maioria, diz o morador Jos� Carlos da Costa, de 79, natural do distrito de S�o Bartolomeu e residente no local desde 1962: “Aqui � mesmo bem reservado, mas todo s�bado tem missa �s 15h; �s quartas e sextas, de manh�, tem a reza do ter�o. � um bom momento para conhecer a igreja constru�da no s�culo 18”. As duas torres s�o vazadas e Jos� Carlos explica que havia sinos. Perguntado se � devoto de S�o Bartolomeu ou de S�o Sebasti�o, ele responde sem titubear, como bom mineiro: “Dos dois, mas S�o Sebasti�o � meu vizinho, n�?”
Alex Bohrer conta que as capelas dos morros s�o pouco divulgadas e merecem uma visita. � o caso tamb�m da Capela de S�o Jo�o, no Morro de S�o Jo�o, mais exatamente na Pra�a de S�o Jo�o de Ouro Fino. “A primeira data referente � capela � 24 de junho de 1698, quando foi celebrada missa campal no dia de S�o Jo�o”, conta o zelador, Luiz Gordiano Gon�alves, de 70, pertencente � irmandade de S�o Jo�o. Com as chaves na m�o, ele diz que a melhor oportunidade para conhecer o templo � durante missa dos domingos, �s 17h, e tamb�m na celebra��o em honra do padroeiro. N�o muito longe fica o Morro de Santana, onde est� a capela de mesmo nome, com um muro de pedras como base.
JOIAS DO BARROCO Escrever sobre Ouro Preto � falar das igrejas que enchem os olhos dos turistas e de orgulho os visitantes, muitos deles surpresos com o n�mero levantado pela equipe. “N�o sabiam que eram tantas! As capelas e igrejas s�o uma b�n��o para todos n�s”, diz Marta Cordeiro, de 58 anos, aposentada e moradora da Rua Santa Efig�nia. Da janela de casa, ela avista a Matriz de Nossa Senhora da Concei��o de Ant�nio Dias, em restaura��o e agora na cor amarelo-ocre.
No distrito de Cachoeira do Campo, onde mora, Bohrer lembra que na pra�a diante da Matriz de Nossa Senhora de Nazar� ocorreram momentos decisivos da hist�ria de Ouro Preto, como a Sedi��o de Vila Rica, em 1720, cujo protagonista foi Felipe dos Santos, e a Guerra dos Emboabas. Bohrer lembra que foi dentro da matriz, ainda em constru��o, em 1708, que o portugu�s Manuel Nunes Viana se sagrou, por aclama��o popular, primeiro governador das Gerais. Eram tempos da Guerra dos Emboabas e Cachoeira do Campo foi campo da batalha mais sangrenta na disputa pelo ouro. “O que n�o falta em Ouro Preto � hist�ria”, conclui.

S�CULOS 17 E 18 (PRIMEIRA METADE)
- Capela de Santa Quit�ria da Boa Vista, no distrito de Rodrigo Silva
- Capela de Santo Ant�nio do Monte, no distrito de Engenheiro Corr�a
- Capela de S�o Sebasti�o, no Morro de S�o Sebasti�o
- Capela de S�o Jo�o, no Morro de S�o Jo�o
Capela de S�o Jo�o (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
S�CULO 18 (SEGUNDA METADE)
- Igreja de S�o Francisco de Assis
- Igreja de Nossa Senhora do Carmo
- Igreja de Nossa Senhora das Dores, de Cachoeira do Campo
S�CULO 19
- Igreja de S�o Francisco de Paula, no Centro Hist�rico
- Capela do Bom Despacho, em Cachoeira do Campo
S�CULO 20
- Capela de S�o Jos�, em Engenheiro Corr�a
