(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Presen�a de animais e regulamenta��o das atividades s�o desafios para esportes na Lagoa da Pampulha

Esgoto que ainda chega ao lago tamb�m gera desconfian�a na popula��o. Prefeitura de BH confirma enquadramento �gua da represa na classe que permite iatismo e pesca amadora


postado em 23/03/2017 06:00 / atualizado em 23/03/2017 07:40

Jacaré na lagoa: animais são incompatíveis com a prática de esportes, segundo prefeitura(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Jacar� na lagoa: animais s�o incompat�veis com a pr�tica de esportes, segundo prefeitura (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Ap�s d�cadas de espera e iniciativas que sugaram milh�es em dinheiro p�blico na tentativa de livrar a Lagoa da Pampulha da sujeira trazida pelo esgoto de seus afluentes, a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou ontem, Dia Mundial da �gua, o enquadramento da represa na chamada classe 3 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Como antecipou o Estado de Minas em sua edi��o de 8 de mar�o, pouco mais de um ano depois do in�cio do tratamento qu�mico da �gua, ao custo de R$ 30 milh�es at� o fim do contrato, os cinco par�metros de polui��o medidos pela administra��o municipal est�o dentro dos limites da classifica��o (veja arte).

Teoricamente essa � condi��o necess�ria para que o lago possa receber esportes n�uticos e pesca amadora, mas ainda h� obst�culos de peso para que as embarca��es voltem ao cen�rio do cart�o-postal, que desde o ano passado det�m o t�tulo de Patrim�nio Cultural da Humanidade. As principais apresentadas pela prefeitura s�o a presen�a no ecossistema de animais, como capivaras e jacar�s, e a necessidade de regulamenta��o da nova atividade. Por�m, h� tamb�m desafios como o esgoto e o lixo, que continuam chegando diariamente ao espelho d’�gua e deixam frequentadores desconfiados em rela��o ao atual n�vel de polui��o.

Desde o primeiro trimestre de aplica��o dos dois produtos que foram usados para tratar a �gua, tr�s par�metros se enquadraram dentro do que o Conama estabelece para a classe 3: os coliformes termotolerantes, a clorofila-A e a demanda bioqu�mica de oxig�nio. O n�vel de f�sforo total e a presen�a de cianobact�rias, dois indicadores do n�vel de nutrientes e da prolifera��o de micro-organismos no lago, s� chegaram ao patamar exigido nas medi��es de janeiro de 2017.

(foto: Arte/EM)
(foto: Arte/EM)

A nova situa��o gerou, imediatamente, questionamentos sobre os pr�ximos passos, j� que agora a cidade, teoricamente, tem condi��es t�cnicas para receber em seu cart�o-postal barcos e tamb�m a pesca amadora. “� preciso que haja uma regulamenta��o, um plano de manejo que discipline o uso, que fa�a um paralelo como um parque. Hor�rio de utiliza��o, quantos barcos v�o poder entrar, com qual frequ�ncia, de qual tamanho... Precisamos ter o m�nimo de ordenamento”, diz o gerente de �guas Urbanas de BH, Ricardo Aroeira.

Enquanto isso n�o ocorre e nem um prazo � estabelecido, ele recomenda cautela. “Em um lago urbano no qual se pretende liberar a pesca amadora e esportes n�uticos, � incompat�vel a conviv�ncia com animais como jacar�s e capivaras”, diz Aroeira. J� est� decidido que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, comandada pelo secret�rio M�rio Werneck, ficar� respons�vel pela regulamenta��o do uso, al�m de ser a pasta que j� trata da rela��o com o ecossistema local.

“Os jacar�s at� agora n�o trouxeram nenhum problema para a popula��o de Belo Horizonte. Esse controle de fauna aqu�tica e tamb�m das capivaras � uma coisa muito complicada para resolver da noite para o dia. Vamos resolver primeiro o problema da capivara e n�o deixemos que os jacar�s ataquem algu�m. Por isso, recomendamos que as pessoas n�o nadem e n�o fa�am esportes aqu�ticos at� que efetivamente haja uma delibera��o normativa”, diz o secret�rio.

At� l�, a prefeitura tamb�m ter� que lidar com a desconfian�a da popula��o, pois muitos frequentadores relatam que em alguns pontos ainda � poss�vel notar a presen�a de lixo, mau cheiro e �gua com aspecto de sujeira. Por�m, Ricardo Aroeira garante que percorre a lagoa de barco de 15 em 15 dias e que no corpo principal da represa n�o h� mais esse tipo de problema.

Segundo ele, � preciso ficar claro que, em eventos de chuvas intensas, � poss�vel que as pessoas notem piora na qualidade, mas o grande diferencial � a capacidade de resili�ncia da lagoa, que agora consegue, por meio do tratamento, retomar as condi��es da classe 3 em pouco tempo.

“Existe uma grande chance de que, quando tivermos grandes eventos de chuva, uma carga de poluentes muito grande seja carreada para dentro do lago. Essa � uma agress�o, mas � qual hoje a lagoa responde muito rapidamente”, afirma. Imagens divulgadas ontem pela prefeitura mostram que ao longo de 2016 os pontos monitorados estavam em bom aspecto, pioraram muito com as chuvas de dezembro, mas logo depois retomaram as condi��es anteriores, em janeiro.

Ainda segundo Aroeira, um ponto destoante � o bra�o da lagoa entre a ponte dos c�rregos Ressaca e Sarandi e o zool�gico de BH. � o local que mais sofre com o esgoto que continua chegando de Contagem, na Grande BH, e que passa por interven��es da Sudecap para retirada de lodo. “Esse revolvimento do lodo de fundo piora a qualidade da �gua. Enquanto esse trabalho permanecer, e ele durar� ainda alguns meses, imagino que ali vamos ter um problema localizado”, completa.

Esgoto deixa futuro turvo

Se � boa a not�cia de que o tratamento com produtos qu�micos trouxe bons resultados � qualidade da �gua da Lagoa da Pampulha, o fato de continuar chegando esgoto ao espelho d’�gua, especialmente de Contagem, lan�a sombras sobre o futuro da represa. A Prefeitura de Belo Horizonte fez quest�o de deixar claro que as metas estabelecidas pela Copasa, de alcan�ar em julho 95% de esgoto coletado na �rea da bacia, precisam ser cumpridas. Atualmente, segundo a concession�ria de �gua e esgoto, obras est�o em andamento para a conclus�o de mais 13 quil�metros de rede que v�o permitir alcan�ar o objetivo.

Mas � necess�rio mais que instalar as redes. Segundo a Copasa, dejetos de cerca de 10 mil im�veis que j� t�m rede coletora na porta – 3.270 em Belo Horizonte e 6.929 em Contagem – continuam sendo despejados em c�rregos de forma ilegal, porque os moradores n�o fizeram a obra para conectar suas casas � rede p�blica. Nesse caso, s� uma a��o fiscal pode dar resultado.

Essa situa��o � vis�vel especialmente no canal da represa que recebe diretamente esgoto dos c�rregos Sarandi e �gua Funda, que ainda carregam bastante esgoto vindo de Contagem. “A situa��o ali depende do cumprimento das metas da Copasa. Ainda chega um volume (de esgoto) consider�vel, aquela �rea � mais sens�vel. � medida que esse esgoto for retirado, o problema diminui. Nossa expectativa � muito pr�xima do corpo principal da lagoa”, afirma o gerente de �guas Urbanas de BH, Ricardo Aroeira.

Segundo a Copasa, atualmente, 91,6% do esgoto produzido na �rea da bacia – que conta com cerca de 500 mil pessoas em BH e Contagem – � coletado e tratado na esta��o de tratamento de esgoto On�a. A previs�o da concession�ria � de que o patamar de 95% seja atingido em julho. Para alcan�ar 100% do esgoto interceptado e livrar a Pampulha de dejetos, s� com interven��es em �reas de vilas e favelas, que demandam melhorias na urbaniza��o.

Canal da lagoa que começa próximo ao Parque Ecológico e vai até o Zoológico é o ponto mais complicado em relação à limpeza do espelho d'água(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Canal da lagoa que come�a pr�ximo ao Parque Ecol�gico e vai at� o Zool�gico � o ponto mais complicado em rela��o � limpeza do espelho d'�gua (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS)


Otimismo, mas p�s fora d'�gua


Contempla��o sim, esportes n�uticos ainda n�o. A boa not�cia dada ontem, Dia Mundial da �gua, pela Prefeitura de Belo Horizonte, sobre o enquadramento da Lagoa da Pampulha na classe 3 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, deixa moradores, visitantes e praticantes de esportes n�uticos animados, embora sem vontade de p�r o p� na �gua. “Sempre imaginei a etapa de um campeonato sendo realizada na Pampulha, mas, para isso, temos ainda que ter indicadores da limpeza da �gua e quest�es t�cnicas, como ventos e outras”, afirma o presidente da Federa��o Mineira de Velas (FMVelas), Rog�rio Marcos Ferreira Leite.

Rog�rio lembra que em algumas categorias de embarca��o o esportista tem contato com a �gua, da� a necessidade de a lagoa estar totalmente despolu�da. O dirigente observou que � muito cedo para pensar em um campeonato na lagoa, embora  a possibilidade deva ser considerada. “Minas tem uma flotilha grande e, pouca gente sabe, vai sediar este ano o Campeonato Brasileiro da Classe Microtoner, que � um tipo de barco cabinado”, adiantou o presidente da FMVelas.

Entre os moradores h� satisfa��o, com reservas. Batendo um papo no Mirante Bandeirantes, em frente � Casa JK, na Avenida Otac�lio Negr�o de Lima, os estudantes Igor Gon�alves e Addison Cristiano Passos, ambos de 18, disseram que se arriscariam em um passeio de barco pelo lago, mas s� se n�o houvesse contato com �gua. “Sou s�cio de um clube aqui desde que era crian�a e nunca tinha visto a �gua t�o limpa assim, inclusive sem mau cheiro. Antes, havia uma camada cor verde escura”, contou Igor, a poucos metros do lago.

MEDO DE JACAR� Morador do Bairro Santa In�s, na Regi�o Leste da capital, Addison lembrou que outro perigo s�o os jacar�s. “Nunca vi, mas dizem que tem”, afirmou. Na tarde de ontem, na entrada do Bairro C�u Azul, a equipe do EM flagrou um filhote do animal tomando o sol da tarde, bem tranquilo. “A not�cia de despolui��o � muito boa, mas � por essa e por outras que jamais teria coragem de entrar a�. J� vi muito jacar� perto de uma ilha, onde h� tamb�m carca�as de capivara”, contou um homem que curtia a folga admirando o cart�o-postal.

Igor Gonçalves (D) e Addison Passos na orla da lagoa: otimismo, com ressalvas(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Igor Gon�alves (D) e Addison Passos na orla da lagoa: otimismo, com ressalvas (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS)

N�o muito longe, o gar�om Gleisson de Oliveira, de 38, morador de Contagem, lembrava que a Pampulha � �tima para lazer. “Venho sempre aqui para descansar, por�m evito p�r o p� na �gua. N�o tenho coragem mesmo. Tenho receio de doen�as e dos bichos grandes. Um amigo revelou que, certa vez, um jacar� puxou a linha da vara de pescar dele, ent�o a gente fica ressabiado”, disse Gleisson.

MUITO TEMPO Uma das maiores diferen�as notadas na lagoa por  moradores e visitantes � a tr�gua no fedor que apagava o charme do conjunto moderno, incluindo a Igreja de S�o Francisco de Assis, o Iate, a Casa do Baile e o Museu de Arte (MAP), projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012). “� um lugar muito bonito, mas ainda n�o d� para entrar na lagoa, n�o.  Al�m disso, tem capivara, hospedeira do carrapato transmissor da febre maculosa”, destacou o motorista Pedro Henrique de Oliveira, de 22, ao lado da namorada Camila Lopes, de 20, tamb�m de Contagem. Eles escolheram as margens da lagoa para fazer fotos e curtir a tarde.

Pela primeira vez em BH, os namorados Elison Maia, militar nascido em Manaus (AM) e residente em Recife (PE), e Adriana Campos, moradora de Jo�o Pessoa (PB), ficaram encantados com a paisagem. “Veja s�, achei at� que essas capivaras eram esculturas, de t�o paradas que estavam. S� quando uma se moveu � que constatei que eram reais”, contou Adriana. Para Elison, a Pampulha � ideal para a contempla��o, sem necessidade de esportes n�uticos.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)