A morte explica a ofensiva ontem no bairro da Zona Sul, que � padr�o em BH ap�s a confirma��o de casos do tipo, com aplica��o de fumac� e vistoria contra focos do mosquito nas casas ao redor daquela em que o diagn�stico foi confirmado. Segundo a fam�lia, o aposentado tinha um hist�rico de problemas card�acos, mas era imunizado contra a doen�a, j� tendo tomado quatro doses da vacina. Conforme investiga��o epidemiol�gica, o paciente participou de um retiro espiritual em uma gruta na Serra do Roncador, em Mato Grosso, regi�o de circula��o do v�rus da febre amarela. O m�dico infectologista Carlos Starling, que acompanhou o caso, destaca que, apesar de a vacina ser excelente e garantir altos n�veis de prote��o, existem exce��es, principalmente entre a popula��o idosa.
De acordo com a Secretaria de Estado de Sa�de, o paciente retornou da viagem realizada ao Mato Grosso em 7 de maio, e no dia 10 apresentou os primeiros sintomas. Foi internado no dia 12, no Hospital Life Center, na Regi�o Centro-Sul da capital, e faleceu dia 17. Exames de diagn�stico laboratorial para verificar a ocorr�ncia de febre amarela no paciente est�o sendo feitos na Funda��o Ezequiel Dias (Funed). Destes, um resultado preliminar foi compat�vel com a doen�a. Tamb�m foram coletadas amostras de v�sceras para diagn�stico laboratorial.
Ainda segundo a pasta, o hist�rico vacinal do paciente est� em investiga��o, embora a Secretaria Municipal de Sa�de tenha informado que a fam�lia n�o apresentou o cart�o de vacina durante as visitas de equipes da vigil�ncia epidemiol�gica � resid�ncia. Como o caso � de cont�gio fora de Minas Gerais, a morte n�o � contabilizada nos n�meros de transmiss�o dentro do estado.
Ontem, a Prefeitura de BH realizou a��es para preven��o da febre amarela na �rea em torno da resid�ncia do paciente, agindo em duas frentes para eliminar o mosquito Aedes aegypti: mais cedo, por volta das 7h, nove funcion�rios da Ger�ncia de Zoonoses aplicaram 15 litros de ultra-baixo volume (UBV), conhecido popularmente como fumac�, em um raio de 12 quarteir�es, totalizando 130 im�veis. Um pouco mais tarde, outro grupo de funcion�rios divididos entre agentes de combate a endemias e enfermeiros visitou casas para vistoriar poss�veis focos do mosquito e tamb�m conferir cart�es de vacina dos moradores.
Em uma das casas foram encontradas larvas na piscina. Como os moradores estavam fora, a funcion�ria do im�vel foi orientada a combater os focos. Outra moradia visitada foi a do aposentado acometido pela febre amarela, que tamb�m j� tinha sido aberta para aplica��o de fumac�. A vi�va do economista preferiu n�o se identificar e disse que o marido era adepto de uma filosofia que busca um conhecimento espiritual superior. A Serra do Roncador, onde ele se contaminou, � descrita como um lugar com caracter�sticas geol�gicas especiais, que conferem, segundo os seguidores, uma energia favor�vel �s pr�ticas espirituais, o que motivou a viagem.

De acordo com a mulher do aposentado, havia um certo temor, por ser um local de mata, com a possibilidade de transmiss�o da febre amarela. “Ele era um homem muito urbano. Chegou a desistir, marcar e remarcar a viagem. Mas, como j� se considerava imunizado, acabou indo”, contou a vi�va. A viagem inicialmente duraria 12 dias, mas acabou reduzida para apenas quatro, sendo que o aposentado passou dois dias viajando e outros dois no local. Pegou um avi�o at� Goi�nia e um �nibus que teve baldea��o em �gua Boa (MT) antes de chegar � serra.
Dois dias ap�s chegar a BH, com algumas picadas de mosquito pelo corpo, teve febre alta. No hospital, foi identificada queda de plaquetas e ele foi orientado a se hidratar bastante. Por�m, exames apontaram redu��o na fun��o hep�tica, que motivaram interna��o no CTI. Foram cinco dias at� a morte, com problemas n�o s� no f�gado, mas tamb�m nos rins e fal�ncia m�ltipla dos �rg�os. “N�o � f�cil perder uma pessoa numa circunst�ncia dessas, mas que sirva de alerta para quem tem as vacinas vencidas”, diz a mulher do aposentado, que disse j� ter sido informada pela Funda��o Ezequiel Dias (Funed) de que o caso � de febre amarela.
Durante a visita dos agentes da PBH, ela informou que est� com a vacina pendente e que sua m�dica j� indicou a imuniza��o, porque tem mais de 60 anos. Outra que tamb�m vai procurar o posto de sa�de � a filha do casal, que n�o � vacinada.

Vacina � eficiente, mas h� exce��es
O m�dico infectologista Carlos Starling, que acompanhou o caso do economista aposentado que morreu por febre amarela no Bairro Belvedere, em Belo Horizonte, apesar de ter sido vacinado, disse que j� teve acesso a um exame preliminar que deu positivo para a doen�a. Aliado � evolu��o cl�nica do paciente, ele informa que foi poss�vel obter a confirma��o do diagn�stico.
Por�m, Starling lembra que ainda vai acompanhar a investiga��o epidemiol�gica, que inclui, por exemplo, as informa��es sobre a vacina��o. Ele destaca que a vacina � muito importante e confere n�veis muito altos de prote��o, mas existem exce��es. “A vacina � excelente. Vamos ter uma prote��o que chega a 98%. Pacientes que se vacinaram h� mais de 20 anos costumam ter n�veis que superam 85%, mas n�o chegam a 100%. As exce��es est�o previstas do ponto de vista estat�stico, principalmente em pacientes idosos com alguma doen�a pr�-estabelecida”, afirma o especialista. Segundo a mulher do paciente, ele era hipertenso e j� havia implantado quatro pontes de safena no cora��o.
A Secretaria Municipal de Sa�de de BH informou que dois moradores da capital contra�ram febre amarela fora do munic�pio. N�o h� infec��es registradas na cidade e atualmente n�o h� paciente internado com a doen�a na capital. Considerando uma �nica dose da vacina, que � o cen�rio preconizado pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) para garantir a prote��o, praticamente toda a popula��o de BH est� imunizada, segundo a pasta, que contabiliza 670 mil doses do imunizante aplicadas s� em 2017. Antes do surto, o Minist�rio da Sa�de considerava necess�rias duas doses, mas durante o aparecimento dos casos acabou seguindo uma diretriz da OMS.
Ainda segundo a secretaria, a��es de pulveriza��o de UBV j� beneficiaram mais de 12 mil im�veis na capital. Al�m do Bairro Belvedere, outra �rea que recebeu a aplica��o recentemente foi a �rea de abrang�ncia do Centro de Sa�de Santos Anjos, dentro de uma programa��o de rotina da Zoonoses da Regional Noroeste. Neste caso, n�o h� rela��o com a febre amarela, segundo a pasta.
Para refor�ar as a��es de vacina��o, a PBH manteve em funcionamento, entre fevereiro e abril, cinco postos extras de vacina��o, com hor�rio ampliado. Houve tamb�m abertura de unidades de sa�de em fins de semana, exclusivamente, para vacina��o. “A PBH ainda instalou telas impregnadas com inseticidas nas UPAs Venda Nova, Pampulha, Oeste, Leste e Barreiro e nos hospitais Eduardo de Menezes e Jo�o Paulo II, ambos da Rede Fhemig”, afirma, em nota, a pasta. A secretaria n�o forneceu informa��es sobre o hist�rico vacinal do aposentado que morreu no Belvedere.
Palavra de especialista
Carlos Starling - infectologista
Aten��o deve ser permanente
“Esse � um caso de um paciente que veio de fora e ficou pouco tempo em casa antes de ser hospitalizado e falecer. Portanto, a chance de transmiss�o � pequena. Por outro lado, h� uma situa��o de maior controle com o aumento da cobertura vacinal alcan�ada por Belo Horizonte. Mas o momento � de ficar atento. A prefeitura j� deu in�cio a uma a��o para prevenir a transmiss�o da doen�a, com aplica��o de fumac� e identifica��o de poss�veis focos. Mas esse trabalho precisa ser sistem�tico, durante todo o ano e em toda a cidade. Uma a��o n�o pode vir sozinha e essas s�o medidas tamb�m important�ssimas para a preven��o das outras doen�as transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti – zika, dengue e chikungunya. Ou seja, n�o d� para baixar a guarda em hip�tese alguma”.