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Estado de Minas

Conhe�a a tanatopraxia, t�cnica de preparar cad�veres para vel�rios e enterros

Embora ainda enfrente resist�ncia ou seja cercada de curiosidade, o trabalho atrai pessoas pelas oportunidades e elas relatam que a profiss�o as fizeram mudar


postado em 29/05/2017 06:00 / atualizado em 29/05/2017 16:21

Ajudante de caminhão e garçom, Mauro Dias Costa decidiu pelo curso depois que um amigo fez e, em menos de dois meses, conseguiu emprego(foto: Renan Damasceno/EM/D.A PRESS)
Ajudante de caminh�o e gar�om, Mauro Dias Costa decidiu pelo curso depois que um amigo fez e, em menos de dois meses, conseguiu emprego (foto: Renan Damasceno/EM/D.A PRESS)
Passava das 21h de quarta-feira quando o som seco da sirene alertou a equipe do tanatopraxista Edwilson Camilo que, em alguns minutos, todos deveriam estar a postos para preparar mais um cad�ver. Nas pr�ximas horas, em uma ampla sala de azulejos brancos na Santa Casa de Belo Horizonte, duas mesas de metal e um forte cheiro de produtos qu�micos, a equipe se dedicaria a trocar todo o sangue do corpo por um fluido arterial, higienizar e maquiar o falecido – um procedimento de retardamento da decomposi��o chamado de tanatopraxia.

Em contraposi��o ao aspecto s�rio e introspectivo da profiss�o, Edwilson sorri com facilidade e demonstra enorme devo��o pelo que faz. Depois de executar o trabalho, me conduz com orgulho at� diante de um caix�o para exibir o trabalho em uma senhora com a qual jamais trocou um olhar em vida. “Olha como ela ficou com semblante tranquilo”, comenta, enquanto ajeita as flores para tapar as marcas de um tratamento severo no cr�nio. “Ela n�o estava bem quando chegou, mas olha agora, que lindo que ficou. � um trabalho art�stico”, conta, orgulhoso.

A tanatopraxia – em refer�ncia a Th�natos, o deus da morte na mitologia grega – foi desenvolvida em pa�ses como Fran�a, It�lia e Estados Unidos ap�s a Segunda Guerra Mundial e chegou ao Brasil nos anos 1980, sendo Belo Horizonte uma das cidades pioneiras. Durante o processo, o sangue � substitu�do por um fluido arterial � base de formol, �lcool, glicerina e outros componentes. Atrav�s de uma incis�o de tr�s a quatro cent�metros na regi�o cervical ou femoral, o fluido � injetado no corpo com a ajuda de uma bomba que faz �s vezes de cora��o. A solu��o entra pela art�ria e expulsa o sangue vermelho e escuro pela veia jugular.

“O sangue � rico em oxig�nio, mas depois do �bito, resta apenas o g�s carb�nico, que deixa a pessoa com colora��o cian�tica, aquela apar�ncia roxa. O flu�do devolve a colora��o da pele, trazendo a dignidade que a pessoa teve em vida para os �ltimos momentos diante dos familiares e amigos”, conta Jos� Eust�quio Pereira Barbosa, t�cnico em anatomia e necropsia, professor do curso de tanatopraxia da Santa Casa.

A t�cnica � uma evolu��o no processo de tratamento do corpo executado principalmente por funer�rias da capital – no interior ainda h� desqualifica��o de m�o de obra e falta de equipamentos adequados. Antigamente, como n�o havia troca de fluidos, os corpos ganhavam aspecto cian�tico (por causa do g�s carb�nico) ou ficavam muito p�lido, j� que muitas vezes era apenas retirado o sangue, sem a inje��o de outro l�quido. A tanatopraxia mant�m a cor mais pr�xima do indiv�duo em vida.

"Meus amigos brincam comigo: 'Nossa, voc� � frio, n�o tem cora��o'. � o contr�rio, pois eu preparo o corpo com muito amor", diz Edwilson Camilo, tanatopraxista (foto: Renan Damasceno/EM/D.A PRESS)

DEVO��O A profiss�o de tanatopraxista, embora ainda enfrente a resist�ncia de alguns e a curiosidade de outros tantos, tem atra�do cada vez mais pessoas pelas oportunidades no mercado de trabalho. O curso, �nico em Belo Horizonte, oferecido pela Santa Casa, teve de mudar a frequ�ncia de trimestral para mensal. O sal�rio m�dio no Brasil, segundo a Pesquisa Salarial da Catho, � de R$ 1.250. Mas, segundo profissionais da �rea, os vencimentos podem variar entre R$ 2,5 mil e R$ 3,5 mil, dependendo do porte da funer�ria.

Sem emprego e um tost�o no bolso, Edwilson tinha 18 anos quando passou em frente a uma funer�ria e decidiu pedir emprego. Foi trabalhar com ornamenta��o, mas logo se especializou, estudou tanatopraxia, e, desde ent�o, se dedica de corpo e alma � profiss�o. “J� trabalhei em escrit�rio, em v�rios ambientes. N�o troco o tanat�rio por nenhum outro emprego que tive”, afirma. “Meus amigos brincam comigo: ‘Nossa, voc� � frio, n�o tem cora��o’. � o contr�rio, pois eu preparo o corpo com muito amor. A profiss�o me fez mudar muito e viver a vida mais alegre. Por que a gente vai terminar onde? Todos na mesa de tanato…”

Professor Rogério Araújo Filho, da Santa Casa, explica aspectos teóricos do curso de tanatopraxia(foto: Renan Damasceno/EM/D.A PRESS)
Professor Rog�rio Ara�jo Filho, da Santa Casa, explica aspectos te�ricos do curso de tanatopraxia (foto: Renan Damasceno/EM/D.A PRESS)

Aspectos �ticos da profiss�o

Fabiane Yemanj�, de 19 anos, arrancou gargalhadas dos companheiros de classe ao ser questionada por que havia se matriculado em um curso de tanatopraxia. “Minha m�e mandou”, rebateu a estudante, rec�m-aprovada na faculdade de enfermagem. Fabiane e outros 19 alunos, de diferentes idades, cidades e forma��es, demonstravam grande interesse e empolga��o a cada slide exibido pelo professor, que variava desde ensinamentos b�sicos de prote��o individual a imagens do dia a dia de um instituto m�dico legal (IML).

“Quando minha m�e me matriculou, porque sabia que poderia me ajudar na enfermagem, tive pesadelos com sangue e nem dormi. Fiquei preocupada em entrar em depress�o, mas depois de dois dias de aula j� estou dormindo em cinco minutos”, conta Fabiana, destacando a import�ncia de compreender a profiss�o antes de julg�-la.

O conte�do do curso, oferecido em Belo Horizonte pela Santa Casa, engloba aspectos te�ricos e pr�ticos. O curso dura uma semana, al�m de quatro aulas de est�gio supervisionado, e custa R$ 2.422, parcelado em cinco vezes. “� um p�blico heterog�neo que nos procura, pessoas que j� trabalham em funer�rias, t�cnicos de enfermagem at� profissionais que querem mudar de �rea em busca de nova ocupa��o ou aumento salarial”, explica o professor Rog�rio Ara�jo Filho.

� o caso de Mauro Dias Costa, ajudante de caminh�o e gar�om. “Um amigo fez o curso e, em menos de dois meses conseguiu emprego. Nunca me incomodei em ver pessoas mortas. Estou compreendendo e gostando”, conta. Rog�rio destaca tamb�m que muitos alunos se matriculam no curso por curiosidade. “E muita gente vem pela curiosidade, mas atentamos muito para os aspectos �ticos da profiss�o, do respeito aos corpos. Logo nas primeiras aulas, as pessoas j� passam a ter uma nova vis�o deste trabalho.”

 

ATUALIZA��O 29/5/2017 16h27: Em Belo Horizonte, al�m da Santa Casa, a UFMG tamb�m oferece o curso de tanatopraxia desde o fim de abril.

 

Aprendizado também inclui quatro aulas de estágio supervisionado(foto: Renan Damasceno/EM/D.A PRESS)
Aprendizado tamb�m inclui quatro aulas de est�gio supervisionado (foto: Renan Damasceno/EM/D.A PRESS)


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