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Estado de Minas

Restaura��o revela pinturas escondidas em igreja de Cachoeira do Campo

Interven��es na Igreja Nossa Senhora das Dores, no distrito de Ouro Preto, trazem de volta obras de arte sob v�rias camadas de tinta no forro e nas paredes


postado em 30/05/2017 06:00 / atualizado em 30/05/2017 07:33

Uma das pinturas foi encontrada por técnicos logo na entrada do imóvel(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Uma das pinturas foi encontrada por t�cnicos logo na entrada do im�vel (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Ouro Preto – Ressurrei��o de cores, formas e beleza. O restauro da Igreja Nossa Senhora das Dores, no distrito de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Regi�o Central, traz de volta pinturas escondidas por d�cadas sob v�rias camadas de tinta no forro e nas paredes – em alguns pontos, at� 10.

A maior descoberta est� logo na entrada, no forro do �trio, onde a equipe encarregada do servi�o encontrou guirlandas em policromia tampadas pelo branco, que deixava � mostra apenas a cena do calv�rio, correspondente a 10% do trabalho original. Reivindicada pela comunidade e custeada integralmente com recursos do Fundo Municipal do Patrim�nio (Funpatri), no valor de R$ 970 mil, a obra dever� ser conclu�da e entregue em outubro, informa o secret�rio municipal de Cultura e Patrim�nio de Ouro Preto, Zaqueu Astoni Moreira.

Na manh� de quinta-feira, a equipe do Estado de Minas conferiu o avan�o do projeto de restauro, um quadro oposto ao de setembro de 2010, quando o tecn�logo em conserva��o e restaura��o Rodrigo da Concei��o Gomes, presidente da Associa��o dos Amigos de Cachoeira do Campo (Amic) e coordenador da comunidade de Nossa Senhora das Dores, alertava para o risco de perda do templo constru�do em 1761 e considerado o mais antigo do pa�s dedicado a Nossa Senhora das Dores, “conforme documento do Arquivo Ultramarino de Lisboa, Portugal”. Para ele, a interven��o significa “uma grande vit�ria dos moradores, que pediram provid�ncia �s autoridades e fizeram novena”.

Tombada pelo munic�pio em novembro de 2010 e alvo de reparos no telhado no ano seguinte, a igreja ganhou, na sequ�ncia, um projeto arquitet�nico para recupera��o e um pedido, dos moradores, ao Conselho Municipal do Patrim�nio Cultural (Compatri) para coloc�-lo em pr�tica. Coordenadora do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) Cidades Hist�rias pela Prefeitura de Ouro Preto, a arquiteta D�bora Queiroz conta que a interven��o do templo foi definida como priorit�ria e dividida em dois tempos. Na primeira fase, ao custo de R$ 380 mil, foram executados os servi�os de recupera��o do piso, paredes e esquadrias, implanta��o de manta de prote��o sob a cobertura, troca de telhas, preenchimento de trincas e drenagem no entorno. Al�m desse pacote de obras civis, a equipe cuidou da parte el�trica, sonoriza��o e Sistema de Prote��o contra Descargas Atmosf�ricas (SPDA).

“Estamos felizes com o resultado de tanta luta. Esperamos muito para ver a igreja em obra. Ela � importante para Cachoeira do Campo, Ouro Preto e Minas”, diz a zeladora do templo e m�e de Rodrigo, Geralda Flaviana Ara�jo Gomes, de 68 anos. Para quem trabalha como marceneiro, atuar no restauro de uma constru��o do s�culo 18 � uma experi�ncia �nica, principalmente quando se refere � salva��o dela. “A madeira estava cheia de cupins e com cera demais”, afirma Cl�udio Braga, de 63.

ARTE COLONIAL
A segunda fase, em andamento, compreende os elementos art�sticos, no valor de R$ 590 mil e tamb�m com recursos do Funpatri, explica D�bora, ao lado do restaurador S�lvio Luiz Rocha Viana de Oliveira, coordenador contratado pela prefeitura para essa �rea, e do arquiteto Paulo Herm�nio Guimar�es, respons�vel t�cnico pela empresa contratada. Depois de mostrar as delicadas flores na pintura do �trio, os tr�s se dirigem � capela-mor, que guarda a pintura da santa e cont�m a inscri��o em latim Consolatris aflito rum (Consoladora dos aflitos). “Tudo indica se tratar da representa��o de um ex-voto”, explica S�lvio, numa refer�ncia ao pagamento de uma promessa por um fidalgo retratado aos p�s de Nossa Senhora das Dores.
Técnicos em restauração, como Lunara Cristina Silva, recuperam o forro, que tem painéis recriando cenas bíblicas(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
T�cnicos em restaura��o, como Lunara Cristina Silva, recuperam o forro, que tem pain�is recriando cenas b�blicas (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)


O altar da capela-mor exibe um verde forte, achado “sob oito camadas de tinta de cinco cores diferentes”, mostra S�lvio, ressaltando o restauro da igreja, feito h� 25 anos, por Zenith In�cio, vi�va de Jair Afonso In�cio, criador do curso de conserva��o-restaura��o da Funda��o de Arte de Ouro Preto (Faop) e com atua��o no Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha). S�lvio revela que, no caso da madeira, havia muita cera por tr�s, material usado durante muito tempo para recuperar as t�buas.

Outro ponto de destaque est� nas paredes, algo tamb�m surpreendente para a equipe: debaixo de tinta, foi localizado um barrado com pinturas marmorizadas, no tom salm�o e datadas de 1870-1880, creditadas a italianos que moraram na regi�o no s�culo 19. Tamb�m fi�is �s cores que as prospec��es mostraram, os restauradores decidiram por um tom bege para a parede sobre o barrado.

A obra t�o ansiosamente aguardada pela comunidade de Cachoeira do Campo n�o para de encantar. Para quem pensa que acabou, h� mais surpresas perto do forro da nave, a quatro metros de altura. De p� ou sentados sobre a estrutura de andaimes, recuperam o forro com narrativa b�blica os t�cnicos em restaura��o Ernesto Alves de Almeida, Elen Carvalho, Ana Paula Gon�alves dos Reis, Lunara Cristina Ferreira da Silva, Lindalva Ferreira de Freitas e Adriane Juliano Barroso. “� um trabalho muito gratificante”, avalia Lunara, que j� trabalhou em outras igrejas dos tempos coloniais, enquanto Ana Paula brinca que ali, “pertinho do c�u”, � poss�vel desempenhar tarefas muito compensadoras e ben�ficas para o patrim�nio da cidade.

HIST�RIA
Constru�da em 1761 para as cerim�nias da semana santa, a Igreja Nossa Senhora das Dores tem no forro o maior destaque. O que chama logo a aten��o de quem entra � a ornamenta��o com os 15 pain�is da nave, de inspira��o medieval, representando a Paix�o de Cristo, do horto das oliveiras � ressurrei��o.

Muitas hist�rias e lendas rondam a hist�ria da igreja. A imagem da santa de roca, conforme a tradi��o oral, chegou a Cachoeira do Campo em meados do s�culo 18 portando v�rias joias, que desapareceram. “Contam que, sob os ausp�cios de uma mulher chamada Maria Dolorosa, a imagem percorria as casas do distrito angariando fundos para a constru��o da igreja. Outra antiga lenda afirma que os inconfidentes se reuniam no interior do templo para, do alto de sua torre esquerda, espionar o Visconde de Barbacena em seu pal�cio”, conta Rodrigo Gomes.

Mem�ria
Luta pela preserva��o


Em 15 de setembro de 2010, dia dedicado a Nossa Senhora das Dores, a comunidade cat�lica de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Regi�o Central de Minas, fortaleceu a campanha para salvar o templo dedicado � santa. Fechada havia tr�s anos, a edifica��o, no Bairro de Nossa Senhora das Dores, apresentava s�rios problemas. O forro estava cedendo e, com isso, imperava o medo de se perderem as pinturas originais, tanto na capela-mor, que traz a imagem de Nossa Senhora das Dores em meio a anjos, como na nave, com os da via-sacra, sem autoria identificada. Por medida de seguran�a, todas as imagens foram retiradas e guardadas em outro local. Al�m de pedir a intercess�o de Nossa Senhora das Dores, a comunidade rezou, todo dia 28, para S�o Judas Tadeu, o das causas imposs�veis. “Deu certo. Uma noite, sonhei que uma guirlanda tinha sido encontrada sob a tinta branca”, conta Rodrigo, que reside em Barbacena e est� sempre em Cachoeira do Campo.


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