
Justi�a concede alvar� de soltura a motorista que matou jovem no ponto de �nibus
E infra��es como as que eles cometeram est�o longe de ser casos isolados, como comprovou ontem o Estado de Minas. De volta ao local da trag�dia no Bairro S�o Francisco, a equipe de reportagem testemunhou a m�dia de uma manobra irregular a cada tr�s minutos no Rua Estoril, onde moradores denunciam falta de fiscaliza��o e de sinaliza��o para pedestres, estacionamento em locais proibidos e fiscaliza��o prec�ria, tudo somado � imprud�ncia e � m� educa��o no tr�nsito.
Ultrapassagens irregulares como a que provocou a morte do adolescente se repetem durante todo o dia na Rua Estoril, esquina com a Rua Beira Alta, liga��o entre a Rua Boaventura e a Avenida Ant�nio Carlos. Em 45 minutos, a equipe do EM flagrou 14 manobras perigosas, feitas pelos condutores de um t�xi, uma ambul�ncia, um caminh�o, seis carros e quatro motocicletas. Todas ocorreram pela impaci�ncia do motorista para aguardar o ve�culo da frente.
O movimento da Rua Estoril � intenso e, a cada ve�culo de grande porte que parava em um dos pontos, os “apressadinhos” n�o se inibiam em ultrapass�-lo, apesar da faixa cont�nua que pro�be a manobra. Foram os poucos segundos que seriam economizados nesse tipo de infra��o que custaram a vida do estudante Paulo Dalmazio Fonseca. O motorista que o atropelou, D�nis Couto Batista, ultrapassava v�rios ve�culos, ignorando n�o s� a faixa amarela, como a �rea de cruzamento. Seu Gol, na contram�o, colidiu com um EcoSport que fazia convers�o permitida � esquerda. Sem controle, o carro de D�nis invadiu a cal�ada, onde o adolescente esperava carona para ir � escola. Quando os primeiros socorristas atenderam o jovem, ele j� estava inconsciente e com sangramento na cabe�a. Ao chegar, um m�dico do Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) constatou a morte.
“No hor�rio em que ocorreu o acidente, a rua � sempre um caos. O movimento � intenso e as filas de carro alcan�am a rua de cima. S� este ano, vi pelo menos 10 acidentes aqui”, disse Noel Martins, de 62 anos, que mora h� 40 na via onde ocorreu a trag�dia. “Aqui n�o poderia ser m�o dupla, a rua � muito estreita para a quantidade de carros e �nibus que passam”, disse Martins, que pretende se reunir com vizinhos para cobrar provid�ncias. Segundo agentes da BHTrans ouvidos pelo EM no dia do desastre, a solu��o para o perigo seria transformar a Rua Estoril em m�o �nica. Por�m, a Rua Alcoba�a, uma das op��es para o fluxo em dire��o contr�ria, n�o tem sa�da, por encontrar o C�rrego S�o Francisco, barreira natural para a continuidade da via.
Al�m do desrespeito, contribuem para a inseguran�a na Rua Estoril a cal�ada estreita e a dificuldade para atravessar a via, j� que faltam sinais de tr�nsito e faixas de pedestres. “Fiquei tr�s meses em cadeira de rodas. Na �poca, levava meia hora para conseguir atravessar. N�o � a primeira vez que algu�m morre aqui. Eu mesma quase fui v�tima”, disse uma das moradoras, que vive h� 26 anos na rua, mas prefere n�o se identificar. Ela tamb�m denuncia o n�mero de carros estacionados irregularmente, o que contribui para obrigar condutores a invadir a contram�o. Enquanto a equipe do EM esteve no local, dois carros e uma van dificultavam o fluxo de tr�fego.
Depois da morte do estudante, a BHTrans informou que vai implantar na via placa de velocidade m�xima de 40 km/h e sinaliza��o no asfalto, com a legenda “Devagar – 40 km/h”, al�m de revitalizar as placas que pro�bem estacionar. Sobre o acidente da �ltima sexta-feira, a empresa municipal ressaltou que ocorreu por desrespeito �s leis de tr�nsito pelo motorista.

LIBERDADE O universit�rio de direito D�nis Couto Batista, respons�vel pela manobra que resultou na morte de Paulo Fonseca, recebeu liberdade provis�ria ainda no domingo, um dia depois do sepultamento de sua v�tima. D�nis havia sido preso na sexta-feira, horas depois do desastre, e deixou a cadeia depois de ganhar direito a liberdade provis�ria sem pagamento de fian�a.
O delegado de plant�o da Pol�cia Civil considerou o caso como homic�dio culposo (n�o intencional), com agravante de o atropelamento ter ocorrido sobre o passeio. O Minist�rio P�blico pediu a convers�o da pris�o em flagrante para preventiva. Por�m, o juiz que analisou o processo decidiu pela soltura de D�nis, conforme pedido da defesa. Entre os argumentos usados pelo magistrado est� o que o motorista � r�u prim�rio. “Constato que o autuado � prim�rio, est� cursando o 7º per�odo do curso de direito e possui resid�ncia fixa, se comprometendo a comparecer a todos os atos processuais”, escreveu o magistrado em sua decis�o.
IMPUNIDADE Segundo o consultor de tr�nsito Alfredo Peris, que j� ocupou a dire��o do Departamento Nacional de Tr�nsito (Denatran), v�rias quest�es precisam ser aprimoradas para que de fato se reduza a viol�ncia no tr�nsito. “A come�ar pelos casos em que as puni��es n�o s�o cumpridas e o motorista respons�vel por um acidente fatal n�o fica preso, muitas vezes pagando multa com cesta b�sica. O processo de suspens�o do direito de dirigir tamb�m � demorado, portanto esse condutor continuar� dirigindo”, comenta Alfredo.
Outra quest�o levantada pelo consultor � a falta de repasse do dinheiro arrecadado em multas no tr�nsito para a��es educativas que visam ao aumento da seguran�a. “A Uni�o, os estados e munic�pios est�o aplicando essas verbas em outras �reas, que n�o a educativa, desviando para o aumento da pavimenta��o e obras p�blicas. � preciso que haja mais campanhas em bares, escolas, locais p�blicos, para reverter esse o quadro de mortes que s� aumenta”, diz Alfredo.
*Estagi�ria sob supervis�o do editor Andr� Garcia