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Estado de Minas

Pintor de BH que superou a microcefalia publica livro com seus quadros na Espanha

Telas de Marcos Mello d�o testemunho do talento que agora busca apoio coletivo na internet para conseguir na capital mineira reconhecimento que j� teve no exterior


postado em 23/06/2017 06:00 / atualizado em 23/06/2017 08:01

A dentista Marcides ajuda o filho no processo de criação, que inclui fundo musical para inspirar as pinceladas: 'Tudo é uma questão de amor. Com ele, a caminhada fica bem mais leve'(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
A dentista Marcides ajuda o filho no processo de cria��o, que inclui fundo musical para inspirar as pinceladas: 'Tudo � uma quest�o de amor. Com ele, a caminhada fica bem mais leve' (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A PRESS)
“Se tirarem seu ch�o, aprenda a voar.” A frase, emoldurada em um quadro na parede da sala, parece at� uma f�rmula para superar barreiras aparentemente intranspon�veis. E desse assunto, a dentista Marcides Faria Moraes Mello, de 57 anos, entende bem. Quando o filho Marcos Faria Moraes Mello, hoje com 31, nasceu e recebeu o diagn�stico de microcefalia, ela pensou que a vida lhe tiraria o sorriso e reservaria o mais penoso dos caminhos. N�o podia imaginar que, tr�s d�cadas depois, o rapaz passaria por cima dos progn�sticos mais sombrios para se tornar um talentoso pintor. Com livro publicado no exterior sobre seu trabalho, a fam�lia organiza agora campanha pela internet para promover em Belo Horizonte a exposi��o “Marcos e Marcas”, e mostrar ao grande p�blico a versatilidade desse artista de tra�ados e cores surpreendentes. “Tudo � uma quest�o de amor. Com ele, a caminhada fica bem mais leve”, ensina Marcides.


Nos tempos em que o zika v�rus era algo ainda inimagin�vel, Marcides teve uma virose assintom�tica no oitavo m�s de gravidez, causada pelo citomegalov�rus. Logo depois de nascer, Marcos foi diagnosticado com microcefalia. “A gente nem ouvia falar nisso. S� existia na literatura”, conta. O progn�stico, relata a m�e, era o pior poss�vel: possibilidade de n�o andar e falar ou de n�o conseguir viver plenamente. Aos 3 meses, o beb� come�ou o tratamento com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional para ajud�-lo a se desenvolver. Aos 3 anos foi para a escola. Apesar do tempo diferenciado em rela��o �s outras crian�as, ele andou, falou, sentou... “Superamos obst�culos e aprendemos a cada dia a apreciar o novo, que se traduzia no sentar, no comer sozinho, em chamar de m�e”, conta a dentista.


A sensibilidade para as artes, seja na forma da pintura ou da m�sica, foi percebida desde cedo. A fam�lia morou em Portugal durante 15 anos, per�odo no qual, segundo a m�e, o filho mais se desenvolveu. Marcos Aprendeu a tocar viol�o sozinho observando o irm�o, Camilo Moraes Mello, publicit�rio de 34 anos. Nos instrumentos de cordas, gosta de tocar os sucessos da banda de rock pesado Metallica. Sem falar na percuss�o. Seja com instrumentos ou apenas batendo na mesa, n�o desafina nem perde o compasso. Cinemas, shows e teatros fazem parte de sua rotina.


Em 2015, o lado art�stico come�ou a dar sinais de que poderia falar mais alto. “Passei nove meses procurando apoio em Belo Horizonte para fazer uma exposi��o dele e n�o consegui. N�s mesmos bancamos a mostra de um dia, em um espa�o privado da capital”, relata a m�e. Foi naquele ano tamb�m que o artista espanhol Chencho Zocar, escritor, ilustrador e pintor, amigo de Marcides, pediu a ela que lhe enviasse algumas das obras de Marcos. Se na terra natal foi dif�cil fazer o trabalho ir a p�blico, do outro lado do oceano o sucesso foi imediato, com um trabalho a quatro m�os. Ano passado, foi publicado na Espanha o livro Unidos pela luz, assinado por Zocar e Marcolino, apelido dele em espanhol. Bil�ngue (portugu�s-espanhol), o trabalho conta com a reprodu��o de 21 quadros do rapaz. Cada pintura � precedida de um poema feito pelo escritor europeu a partir das telas. “O Chencho deu profundidade, mas sempre respeitando o trabalho do meu filho.”

Tra�os de ousadia e versatilidade

Marcos p�e o avental e escolhe as cores. Sentado na cadeira, a mesa faz as vezes de cavalete para o come�o de mais uma tela. Cada uma delas leva uma manh� inteira e depende da inspira��o, do tempo e da disposi��o do artista. � ele quem escolhe as cores. A m�e � a assistente perfeita: p�e os insumos na mesa, pega os pinc�is e liga a m�sica para inspirar a cria��o. Como bom artista, Marcos usa e abusa das possibilidades. N�o tem medo de ousar. Usa pincel, m�os, rolinhos e at� colher para pintar. Tra�os firmes e cores fortes s�o sua caracter�stica marcante, sequ�ncia por vezes interrompida pela delicadeza de algumas obras. “Gosto da cor preta e, quando termino, tenho tinta at� no cabelo”, relata o pintor, que tem o maior orgulho de dizer, em alto e bom som, qual � a sua profiss�o.


“Temos v�rios segmentos invis�veis na sociedade: portadores de necessidades especiais, idosos, refugiados... Todos n�s temos capacidades e incapacidades, independentemente de sermos ‘normais’. Nele, s� vejo as capacidades. Tenho meus tesouros em casa: meus dois filhos e as obras do Marcos”, afirma Marcides. Como da arte cada um se apropria, as telas do filho geram novas inspira��es. N�o s�o raros os momentos em que, a partir de uma delas, a m�e, boa contadora de hist�rias, se aproveita do que v� para narrar contos e aventuras. O contr�rio tamb�m ocorre. Tr�s telas, guardadas com carinho no quarto da m�e, foram pintadas depois de enredo inventado pelos dois, em que Marcos, um belo pr�ncipe, subia a Avenida Crist�v�o Colombo, na Savassi, montado em F�rias, seu cavalo preto, com a capa vermelha.


Os quadros de Marcos est�o � venda. “Quero fazer da arte um of�cio para o Marquinhos”, diz a m�e. A campanha de financiamento coletivo � a forma encontrada para viabilizar os projetos do jovem pintor. Al�m da exposi��o “Marcos e Marcas”, que contar� com 20 quadros in�ditos (a segunda gera��o de telas pintadas por ele), a mobiliza��o tem como objetivo criar um espa�o de e-commerce (com�rcio digital), para que o pintor exponha e continue vendendo suas obras futuramente. Fora da escola especializada desde o ano passado, ele parte agora para novos desafios. “Meu filho passou 25 anos repetindo a letra do nome e colando n�meros. De que isso adianta agora? Quero para ele o melhor. Quero para ele a pedagogia da vida.”

Saiba mais
Microcefalia


� uma malforma��o cong�nita, em que o c�rebro n�o se desenvolve de maneira adequada. Nesse caso, os beb�s nascem com per�metro cef�lico menor do que o normal, que habitualmente � superior a 32 cent�metros. Pode ser efeito de uma s�rie de fatores de diferentes origens, como exposi��o durante a gravidez a subst�ncias qu�micas e agentes biol�gicos (infecciosos), como elementos radioativos, bact�rias e v�rus. Cerca de 90% dos casos de microcefalia est�o associados a defici�ncia mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o n�vel de gravidade da sequela variam caso a caso. Tratamentos feitos desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida.

SERVI�O
Marcos e marcas
www.catarse.me/afelicidadedomarquinhos

 

 


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