O dentista e m�dium Carlos Baccelli, de 64 anos, come�ou a psicografrar com Chico Xavier ainda adolescente, aos 17 anos. “Foi um atrevimento da minha parte. Se fosse hoje, com o discernimento que tenho, n�o ousaria psicografar ao lado dele”, avalia, acreditando que lhe tenha faltado autocr�tica. Baccelli e Valdo Vieira foram os �nicos m�diuns que psicografaram com Chico. O primeiro foi coautor de 10 livros; o segundo, de 17. Depois, Valdo, que morreu em 2015, deixou o espiritismo na d�cada de 1960 para fundar o que ele classificou como conscienciologia e projeciologia.
Bi�grafos relatam que Chico tinha todas as faculdades medi�nicas classificadas por Alan Kardec no Livro dos m�diuns. Entre elas, contabilizam a manifesta��o de efeitos f�sicos (materializa��o), o fato de que era sensitivo (sentia a presen�a de esp�ritos), audiente (ouvia), falante (os esp�ritos falavam por meio dele) e vidente (via esp�ritos), al�m, � claro, de psicografar.
Nessa seara na qual se tornou mais conhecido, come�ou aos 17 anos, mas por tr�s anos promoveu as chamadas sess�es de materializa��o. A �ltima da qual participou como m�dium de efeitos f�sicos contou, segundo presentes, com a presen�a de Emmanuel, seu mentor espiritual. Testemunhas dos efeitos medi�nicos garantem que o mentor, vis�vel a todos os que se encontravam na sala, proibiu Chico de continuar com a atividade.
“Meus irm�os, o m�dium Xavier, a partir desta data, est� proibido de se dedicar a estas reuni�es de materializa��o, porque, se a materializa��o dos esp�ritos pode deslumbrar uns poucos olhos ou mesmo curar uns poucos corpos f�sicos doentes, somente a tarefa do livro � semelhante � chuva que fertiliza o campo imenso das multid�es, desesperadas e aflitas, sedentas da �gua viva do amor que o evangelho de Jesus preconiza”, disse Emannuel, segundo testemunhos de presentes na ocasi�o � casa de Chico, em Pedro Leopoldo, na Grande BH.
Entre os que participaram dessa sess�o estava Jos� Martins Peralva, presidente da Uni�o Esp�rita Mineira, desencarnado em setembro de 2007. Sergipano, Peralva mudou-se para Belo Horizonte em 1949 por indica��o m�dica, com diagn�stico de tuberculose. Na �poca, o clima da cidade era considerado ideal para tratar doen�as respirat�rias. Em uma das sess�es de materializa��o ele foi curado, fato atestado por m�dicos e radiografias ap�s o encontro medi�nico, de acordo com seguidores de Chico Xavier.

FEN�MENO Psicometria era outra das manifesta��es do potencial medi�nico de Chico, segundo Geraldo Lemos Neto, o Geraldinho, presidente da funda��o que leva o nome do l�der espiritual, com sede em Pedro Leopoldo. Ele conta que presenciou o fen�meno ao ajud�-lo a responder a milhares de cartas que recebia – em m�dia mil por semana. Segundo Geraldinho, o m�dium n�o precisava abrir os envelopes para saber seu conte�do.
“Ele passava as m�os sobre as cartas e comentava: ‘Olha, Geraldinho, esta pessoa est� vivendo isso’. E eu perguntava: ‘Como voc� sabe? Voc� n�o abriu a carta!’”, conta o amigo de Chico. O l�der espiritual explicava ent�o que, ao tocar o envelope tinha a capacidade de entrar no universo mental da pessoa que escrevera. “�bvio que ele n�o conseguia responder a todas as cartas, mas as selecionava pela psicometria e fazia quest�o de ele pr�prio endere�ar o envelope, que continha livros ou uma caixinha com mensagens”, relata Geraldinho.
HUMOR E SEXUALIDADE Geraldinho tamb�m conta que, apesar das dificuldades que enfrentou – entre elas a orfandade, campanhas de difama��o, problemas graves de sa�de –, Chico nunca fez drama sobre sua condi��o. “Ele �s vezes nos fazia rir, contando alguma dificuldade. Mas isso n�o quer dizer que ele n�o sofresse ou sentisse dor”, testemunha.
Que n�o se pense tamb�m, adverte Geraldinho, que Chico fosse desprovido de severidade com quem ultrapassasse os limites. “Quando recebia cr�ticas sobre sua figura, as vestimentas que usava, nada disso importava. Mas quando o assunto era colocar em risco o caminhar da doutrina esp�rita, dentro da �tica do evangelho de Jesus, a� ele tomava decis�es radiciais”, assevera o admirador. “Valdo Vieira, ele nunca mais recebeu”, exemplifica Geraldinho, em refer�ncia ao m�dium que abandonou o espiritismo.
O amigo de Chico Xavier tamb�m lembra que, na d�cada de 80, um jornalista perguntou ao m�dium se ele era homossexual. “Sou, mas n�o pratico”, respondeu. Carlos Baccelli, emendou: “Quando Chico diz sim, n�o est� dizendo que fosse, mas que todos n�s possu�mos essa diversidade. O esp�rito n�o tem sexo. Mas, quando os esp�ritos dizem a Kardec que o esp�rito n�o tem sexo, n�o significa dizer que s�o assexuados.” Para Baccelli, por�m, essa especula��o n�o acrescenta nada ao legado de Chico Xavier ou �s pessoas que indagam sobre isso. “Isso � pertinente � individualidade de cada um.”

Di�logos com o mestre
Quarta-feira, 21 de junho, por volta das 11h. Em frente ao jazigo onde o corpo de Chico Xavier foi enterrado, no Cemit�rio S�o Jo�o Batista, no fim da Avenida da Saudade, em Uberaba, Maria do Carmo de Oliveira Campos, de 76 anos, repete diante do busto do l�der espiritual o gesto que o m�dium fazia quando psicografava, repousando uma das m�os sobre o rosto.
“O que isso quer dizer? A senhora conversa com ele?”, perguntamos. “Sim, troco ideias”, responde ela, que se declara cat�lica. “Tinha uma osteoporose que estava come�ando a me impedir de andar. H� oito meses venho aqui toda quarta-feira. At� quando? At� quando Deus quiser. Por qu�? Porque Chico fez um milagre para mim”, conta ela, testemunhando a melhora de suas condi��es de sa�de desde que adotou a rotina de “papear” com o m�dium.