
Nos �ltimos dois anos, Dagson fez v�rios projetos de interc�mbio e exposi��es na Fran�a. Na �ltima viagem, em mar�o, quando participava de um festival, decidiu tentar a sorte. Sua estadia coincidiu com o per�odo em que as escolas abrem suas portas a futuros alunos. De tr�s institui��es visitadas, o belo-horizontino se apaixonou pela Escola Superior de Arte e Design de Marseille, no Sul do pa�s europeu.
“A escola desenvolve muito arte contempor�nea e artistas com pegada social. Quando entrei para a UFMG (onde cursa atualmente o 4º per�odo de belas artes), tinha a ideia de fazer um interc�mbio. Como n�o consegui pela universidade, porque neste momento n�o tem bolsa de estudo, fiz por minha conta”, relata. A entrevista da sele��o ocorreu por videoconfer�ncia e, por meio dela, teve a oportunidade de mostrar suas obras.
A trajet�ria de Dagson Silva come�ou na adolesc�ncia, quando passou a grafitar e a oferecer oficinas de inicia��o nas ruas do Morro das Pedras por sua conta e risco. Em 2004, quando o Fica Vivo! foi instaurado, ele se tornou aluno da oficina de artes. Desenvolvido pela Secretaria de Estado de Seguran�a P�blica (Sesp), � um programa que tem foco na preven��o e redu��o de homic�dios de adolescentes e jovens, com atua��o em �reas com registros de �ndices elevados de criminalidade violenta.
Pouco tempo depois, o adolescente ganhou oficialmente o cargo de oficineiro. Em paralelo, Dagson trabalhou como agente cultural na Secretaria Municipal de Educa��o em v�rias escolas e como professor na Arena da Cultura, projeto de forma��o art�stica e cultural da Funda��o Municipal de Cultura. “Quando comecei a trabalhar no aglomerado, queria mostrar outra perspectiva e a minha vis�o. Isso me deu experi�ncia de rela��o com o pr�ximo para trabalhar a arte no contexto de coopera��o e trabalho coletivo. Minhas tem�ticas sempre envolvem o outro”, conta. A atua��o abordando arte no pr�prio territ�rio e articulado com quest�es da sociedade foram os diferenciais no curr�culo que encantaram a escola francesa durante a sele��o.
O jovem mostra humildade com os novos rumos que a vida toma: “Comecei com a necessidade de provocar mudan�as sociais, mas era bem despretensioso. Fui participando de outros projetos na cidade e isso construiu minha trajet�ria. Mas fico mais feliz � por ter o reconhecimento da comunidade”, diz. Em uma d�cada e meia, passaram pelas m�os do artista cerca de 7 mil alunos, envolvidos em tr�s projetos.
PESQUISA Levar a periferia para outros espa�os e lhe dar, assim, outros significados. A arte do jovem grafiteiro � baseada no cotidiano e personagens do Morro das Pedras. Diariamente, ele se empenha em pesquisas para descobrir e redescobrir sua comunidade. Desenha, fotografa e grava v�deos. Na hora de grafitar, sempre lhe vem algo disso para servir de inspira��o. As trocas culturais do aglomerado s�o valorizadas, com seus moradores oriundos de quilombolas, comunidades tradicionais ind�genas, Vale do Jequitinhonha e tantas outras partes do pa�s.
Nos muros, a pintura � mais r�pida. Na parede de uma casa, personagens em desenho contempor�neo est�o retratados em meio a pedras, um rio e barraco de madeira, em alus�o a um cen�rio que mostra a hist�ria do Morro e com elementos que ele j� teve. J� as telas t�m enredos mais detalhados e aprofundados. Em junho do ano passado, o “alvo” foram lajes de algumas casas. A ideia nasceu depois de ver no notici�rio imagens a�reas do aglomerado por ocasi�o de um conflito. “Percebi ali que n�o s� os muros, mas tamb�m as lajes poderiam ser suporte para interferir nesse olhar que vem de cima.”
Desafio agora � garantir anuidade
As aulas na Fran�a come�am em setembro. No dia 9 o grafiteiro Dagson Silva embarca para um grande sonho. As economias servir�o para se manter em terras europeias, mas ele ainda precisa arrecadar R$ 15 mil, o equivalente a 60% do total necess�rio para custear o estudos durante os pr�ximos dois anos. Somente a anuidade da faculdade em Marseille custa 1,7 mil euros (cerca de R$ 6,1 mil). Para isso, ele lan�ou na internet uma campanha de financiamento coletivo (www.catarse.me/vaidagsonsilva).
Uma bolsa parcial de estudos de uma institui��o que n�o quer o nome divulgado � outra grande ajuda. “Se eu n�o conseguir o valor todo, tentarei uma alternativa. Mas vou ocupar minha vaga de qualquer maneira”, afirma. No momento, n�o h� bolsa de estudos oferecida por �rg�o do estado ou outra institui��o. Em n�vel federal, as institui��es brasileiras de fomento indicaram recentemente o corte de bolsas por falta de verbas.

Desde 2014, Dagson Silva prepara seus alunos para o momento da partida ao t�o sonhado interc�mbio. A ideia � que um dos pupilos assuma o posto em Belo Horizonte. “Eles est�o empolgados e muitos est�o comigo h� sete anos. �s vezes, n�o vale s� falar que � poss�vel fazer outros caminhos. � preciso provar.”
Um dos que torcem pelo sucesso do mestre � o estudante Pablo Cristian Moreira dos Santos, de 16 anos. Aluno do 2º ano do ensino m�dio, ele frequenta aulas de grafite desde 2012, mas, na faculdade, quer seguir um caminho totalmente diferente: biomedicina. Mesmo assim, ele pensa em continuar as oficinas por mais dois anos, inspirado nas ideias do professor que o preparou para desenhar e, como diz, para enfrentar a vida: “Ele sempre fala para tentarmos fazer o que quisermos e seguir nossos sonhos”.