
A cal�ada se transforma em ateli�; a superf�cie de concreto, numa tela; e a cidade ganha o formato de galeria de arte ao ar livre. Perto de completar 120 anos de funda��o – a data ser� celebrada em 12 de dezembro –, Belo Horizonte assiste ao despertar do programa municipal Gentileza, que tem o objetivo de semear grafites por �reas de grande movimenta��o e oferecer cores, desenhos e criatividade a quem passa na rua. Ou olha da janela de casa.
Para come�ar, duas interven��es: no Viaduto Mo�ambique, na Avenida Ant�nio Carlos, no Bairro Cachoeirinha, na Regi�o Nordeste, e na Rua Silvian�polis, no Bairro Santa Tereza, na Regi�o Leste.
“J� me acostumei com o barulho dos carros e as pessoas pedindo informa��es”, diz, com bom humor, o artista visual Nilo Zack, que come�ou o trabalho na tarde desse s�bado (9), no muro de conten��o do Mo�ambique, dividindo o espa�o com Hely Costa e Ata�de Miranda.
O grafite da Avenida Ant�nio Carlos vai ocupar 200 metros quadrados (50m de comprimento por 4m de altura), na fachada lateral entre as ruas Parana�ba e dos Oper�rios, no sentido bairro-Centro. “A ideia surgiu como um presente para a cidade e tamb�m para transform�-la numa grande galeria”, diz Hely, de 47 anos, artista de rua com larga experi�ncia, formado em desenho e pl�stica e p�s-graduado na Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg).
Para sua parte no mural, Hely, coordenador do projeto Arte-Favela, escolheu o rosto de uma crian�a negra. Al�m de uma homenagem ao pa�s africano que batiza o viaduto, ele diz que estudou muito antes de fazer o esbo�o e se interessa por manifesta��es culturais, a exemplo do congado. “O grafite dialoga com as pessoas, enquanto um quadro � muito limitado”, compara.
Ao lado, com a foto de uma crian�a personificando um palha�o, imagem que j� se tornou sua marca registrada em outros grafites, Nilo Zack, de 30, conta que atua como grafiteiro desde 2006 na capital. Formado em cinema de anima��o e artes digitais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com especializa��o em Portugal, o artista nascido no Bairro Taquaril, na Regi�o Leste, tem uma certeza: “o grafite � a arte do s�culo 21 em todo o mundo”.

“Este tipo de arte valoriza o bairro. Moro aqui desde crian�a e acho que a paisagem urbana fica mais bonita. As cores tomam lugar do concreto e da sujeira do muro”, diz o morador Carlos Alberto Ferreira, de 56, um apaixonado pelo Bairro Santa Tereza.
“Pode p�r a�: meu apelido � God� de Santa Tereza”, diz ao rep�rter, com entusiasmo. A obra coletiva completa ter� como tema a hist�ria e as caracter�sticas culturais do tradicional bairro da Regi�o Leste.
SEM BUROCRACIA A coordena��o e idealiza��o do Programa Gentileza s�o da primeira-dama da cidade, Ana Laender, que atua de forma volunt�ria. Na primeira etapa, a mulher do prefeito Alexandre Kalil recebeu pessoalmente as propostas de Hely Costa e Ata�de Miranda.
Para ter o projeto aprovado, bastou aos artistas apresentarem um desenho do grafite, que, na sequ�ncia, teve avalia��o da diretoria de Patrim�nio, da Secretaria de Regula��o Urbana e da BHTrans. O melhor � a desburocratiza��o”, afirma Hely, lembrando que a produ��o do grafite dever� durar um m�s.
Uma pr�xima etapa ser� o lan�amento de um edital, j� nas �reas da rec�m-criada Secretaria Municipal de Cultura e da Funda��o Municipal de Cultura. O objetivo � estimular a arte urbana em diversos espa�os da cidade.
Ana Laender explica o conceito da iniciativa: “Gentileza � a palavra que resume uma s�rie de a��es que nossa cidade recebe todos os dias de artistas, volunt�rios e outras pessoas que, com gestos simples, fazem de Belo Horizonte um lugar mais bonito, mais po�tico e mais humano para se viver.
Assim, o Programa Gentileza quer identificar, estimular e apoiar a��es socioculturais e art�sticas que, nas suas mais variadas formas de express�o, socializam, requalificam e ressignificam o espa�o urbano, criando uma atmosfera de amor e suavizando o nosso cotidiano com tra�os, cores, sons e gestos de grande valor humano.”
De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), os artistas visuais que fazem o grafite com seu pr�prio material, sem custos para o poder p�blico, a exemplo dos coletivos de agora, podem fazer contato diretamente no gabinete do chefe do Executivo.
DIN�MICA No in�cio da tarde de ontem, Hely Costa e Nilo Zack davam in�cio � sua empreitada, que ter� a companhia de Ata�de Miranda. “O Ata�de � mais intuitivo, dever� fazer uma grande moldura, espelhando-se na cultura afro”, adianta Hely. Com as escadas encostadas no muro do viaduto, r�guas e l�pis, eles come�aram o primeiro movimento, que � fazer medi��es e verificar as propor��es.
Em seguida, v�o dividir os espa�os e, finalmente fazer os esbo�os. A �ltima etapa ser� a pintura com spray, que, segundo eles, d� cores mais vivas ao grafite e permite maior durabilidade. “Sou muito ligado �s quest�es dos patrim�nios imaterial e material, enfim, � cultura. Penso que esses murais devem ser incorporados ao patrim�nio da cidade, fazer parte da mem�ria de BH”.
Olhando a parede nua, Nilo diz que tem trabalhos seus em cole��es de pessoas conhecidas e diz que 90% dos grafites que fez at� hoje n�o tiveram autoriza��o: “O que desanima � a burocracia”. Nesse momento, um �nibus passa fazendo o barulho caracter�stico. “Isso incomoda?” Sem titubear, Nilo revela j� ter se acostumado. “Na rua, v�-se de tudo. E, muitas vezes, a gente tem que parar e dar informa��es.”
Parceiros na arte
Idealizadora do Programa Gentileza, a primeira-dama Ana Laender acredita que a parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte e os artistas visuais � primordial para que mais espa�os p�blicos sejam ocupados com o grafite.
“Ele e o muralismo j� come�aram a mudar a cena urbana de Belo Horizonte. Interven��es como as que ser�o feitas no Viaduto Mo�ambique e no Bairro Santa Tereza s�o sementes de �timas ideias culturais, que s� tendem a se multiplicar. A ocupa��o dos espa�os traz a beleza da arte, a poesia ilustrada e o incentivo para que os moradores encontrem ali um local agrad�vel de perman�ncia e conviv�ncia”.