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Estado de Minas

'A gente desaba': m�dico fala sobre atendimento �s crian�as queimadas em Jana�ba

Hospital refer�ncia em tratamento de queimados, o Jo�o XXIII colocou toda a sua estrutura f�sica e de pessoal no atendimento �s v�timas da trag�dia de Jana�ba


postado em 09/10/2017 06:00 / atualizado em 09/10/2017 09:49



– Me v� um black picado, por favor?
– S� tenho azul.
– Tudo bem, pode ser. Estou s� com uma nota de R$ 20 aqui. Tem troco?
– Nenhum, mas pode levar. Passa aqui mais tarde e acerta.

O com�rcio de “blacks” e “azuis” picados – express�es usadas por fumantes para se referirem a cigarros avulsos da marca Lucky Strike – ocorre diariamente na banca de jornal de dona Yeda Freitas, situada h� 45 anos em frente ao Hospital Jo�o XXIII. No verso de uma das embalagens, o alerta do Minist�rio da sa�de que o fregu�s em quest�o – vestido com o uniforme verde que caracteriza os profissionais do Jo�o XXIII – com certeza, sabe de cor: “Fumar causa c�ncer de laringe”. Quem assistiu � cena, contudo, certamente chegou � outra conclus�o: n�o fumar, naquele momento, causaria no rapaz um colapso.


Cansado, visivelmente nervoso, ele leva poucos segundos entre acender o isqueiro e a primeira baforada. A reportagem tenta se aproximar. “Oi, o senhor � m�dico?”, pergunta a rep�rter. Mas o homem se afasta sem responder, assim que v� o crach� do Estado de Minas. Diz que tem pressa, n�o est� autorizado a dar entrevistas. A confirma��o vem de Ademirdes Silva, filha de cria��o de dona Yeda, a propriet�ria da banca. “Ele � m�dico. Hoje, est� todo mundo no maior estresse dentro desse hospital. A tens�o l� dentro � sempre grande, mas esses dias t�m sido mais apertados”, relata a comerciante

Sem comemorar, ela conta que o movimento se intensificou em seu pequeno neg�cio desde o massacre de Jana�ba, no Norte de Minas, protagonizado pelo vigia Dami�o Soares dos Santos, de 50 anos. Na �ltima quinta-feira, ele ateou fogo em uma das salas do Centro Municipal de Educa��o Infantil Gente Inocente, ocasionando, at� o fechamento desta edi��o, a morte de oito crian�as, dois adultos (incluindo o pr�prio Dami�o), e dezenas de feridos. Refer�ncia no tratamento de queimados, o Jo�o XXIII recebeu 14 v�timas da trag�dia. Duas foram transferidas para o Hospital Infantil Jo�o Paulo II e outras tr�s foram para o Odilon Behrens. Sete pequenos e duas professoras permanecem no HPS. “Profissional de sa�de fumante? � o que mais tem. Fica aqui meia hora e voc� vai ver quantos aparecem para comprar cigarro. Os que n�o fumam descontam o nervosismo no chocolate”, diz Ademirdes.


Os coment�rios dela e de outros ambulantes pr�ximos eram praticamente a �nica forma de acesso externo ao clima dentro do pronto-socorro. Dos faxineiros aos cirurgi�es, os funcion�rios da unidade aproveitavam seus breves momentos de pausa em sil�ncio, sem dar brecha � imprensa.



FAM�LIA Do lado de fora do Hospital Jo�o XXIII, os gestos de solidariedade demonstrados faziam com que seus praticantes, por vezes, se comportassem como parentes. Fam�lia, ali�s, � o sentimento que parece unir os janaubenses, que compareceram em peso � porta do hospital. “Moro em BH, mas sou de Jana�ba. Vim aqui ver se encontro algum familiar das v�timas internadas para oferecer minha casa, um banho, o que as pessoas precisarem. N�o consegui nem trabalhar hoje”, diz, emocionada, Maria Omilda Ferreira. Antes que ela terminasse de falar, um conterr�neo a interrompeu para abra��-la, com os olhos tamb�m marejados. “� muito triste isso que aconteceu na nossa cidade”, comentou o homem, que n�o quis se identificar.

Entre ora��es e busca de not�cias, eles se apresentavam entre si � moda do munic�pio interiorano. “Meu sobrenome na certid�o � Ferreira, mas eu sou da fam�lia dos ‘Dias’, e voc�?”, pergunta uma janaubense. “Sei sim. Voc� � parente Jos� Inoc�ncio Dias? Eu sou dos lado dos Peres”, respondeu outro visitante.

Quem nunca pisou na cidade do Norte mineiro tamb�m fez quest�o de oferecer apoio. Dona Deusenir Alves, aposentada de 60 anos, deixou no local reservado �s homenagens para as v�timas do massacre uma ora��o e algumas palavras de conforto. “N�o sou m�e, mas sei o que � perder algu�m que a gente ama. Esse caso me tocou muito. Que Jesus conforte todas as fam�lias que sofrem em Jana�ba com o mesmo carinho e miseric�rdia com que j� me confortou tantas vezes. Vou ficar aqui um tempo s� para oferecer meu abra�o a quem precisar”, emociona-se a senhora.

Sob forte emo��o


(Guilherme Paranaiba) A trag�dia dentro da creche Gente Inocente, em Jana�ba, no Norte de Minas, demandou uma grande reorganiza��o no Hospital Jo�o XXIII, unidade refer�ncia no estado para tratamento de queimados que assumiu o tratamento dos feridos em pior situa��o. Ao receber 12 crian�as e dois adultos, a unidade de sa�de centralizou seus recursos para atender os pacientes, ativando um protocolo de cat�strofes que tem apoio de outros hospitais. O Risoleta Neves, na Regi�o de Venda Nova, por exemplo, se prontificou a receber outros tipos de casos para que o Jo�o XXIII se preocupasse exclusivamente na dedica��o aos queimados. A situa��o gerou grande como��o dos pr�prios profissionais de sa�de, segundo o diretor do hospital, Silvio Grandinetti J�nior. Com 40 anos de experi�ncia na unidade, o m�dico que se especializou na pediatria destaca que a tens�o acompanha os envolvidos no tratamento e por isso � preciso ter tranquilidade, mesmo sob forte emo��o.

“Nesse momento a gente tem que ter serenidade na aten��o �s v�timas e aos familiares. Decis�es terap�uticas importantes t�m que ser tomadas em segundos e por isso n�s temos que ter muita calma. Com certeza, � muito estressante. No final, quando d� tempo de parar, � a� que a gente sofre as consequ�ncias. A gente desaba um pouquinho, pois a tens�o � muito grande”, afirma o profissional que tamb�m dirige o Hospital Maria Am�lia Lins, outra unidade da rede da Funda��o Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig).

Grandinetti diz ter visto no rosto de seus profissionais a emo��o vis�vel principalmente pelo fato de a maioria das v�timas ser crian�as. De todos os 14 pacientes que entraram no hospital, dois foram transferidos para o Hospital Infantil Jo�o Paulo II e outros tr�s foram para o Odilon Behrens. Sete crian�as e duas professoras permanecem no Jo�o XXIII. “Pelo fato de serem crian�as, a como��o � maior. Todo mundo que � pai e � m�e vendo aquela situa��o fica muito triste. A dor � indescrit�vel”, diz o diretor. Ele acrescenta ainda que o hospital conta com uma equipe de psic�logos para atendimento de v�timas dos mais diversos problemas e seus familiares e essa estrutura tamb�m pode ser usada a favor dos pr�prios funcion�rios, caso eles sintam necessidade. Na sexta-feira, um psic�logo ministrou sess�es de ioga para ajudar no relaxamento daqueles que tiveram interesse na a��o.

“� uma tristeza isso que aconteceu, mas a resposta que tivemos de todos os profissionais do hospital � indescrit�vel. A atua��o desde o porteiro at� a dire��o foi fant�stica. A emo��o estava vis�vel em todos os funcion�rios. O que eu vi foi uma solidariedade entre todos. V�rios trabalhadores que n�o estavam escalados vieram ajudar fora do seu hor�rio de trabalho”, completa Grandinetti, destacando que a unidade est� fazendo o poss�vel para entregar as v�timas de volta para suas fam�lias nas melhores condi��es.


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