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Estado de Minas

Rompimento de barragem deixa Rio Doce mais raso e eleva risco de enchentes

Profundidade do Rio Doce apresenta assoreamento entre 30 e 40 cent�metros no trecho de Governador Valadares ap�s rompimento da Barragem de Fund�o. Risco de transbordamento aumentou


postado em 01/11/2017 11:00 / atualizado em 01/11/2017 11:14

Curso d'água corta a cidade que teve abastecimento prejudicado e ficou mais suscetível a enchentes depois do desastre em Mariana(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 21/10/16)
Curso d'�gua corta a cidade que teve abastecimento prejudicado e ficou mais suscet�vel a enchentes depois do desastre em Mariana (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 21/10/16)

Conselheiro Pena e Governador Valadares – O fantasma dos alagamentos frequentes, engolindo carros nas ruas, ilhando moradores em suas casas e levando risco de afogamentos e doen�as est� mais presente do que nunca em Governador Valadares e no distrito de Baguari, no Vale do Rio Doce. Depois de o rompimento da Barragem de Fund�o, em 5 de novembro de 2015, na Regi�o Central de Minas, ter despejado quase 40 milh�es de metros c�bicos de rejeitos de minera��o na Bacia Hidrogr�fica do Rio Doce, o ac�mulo desse material no leito tornou o manancial que banha a cidade mais vulner�vel ao regime de enchentes. De acordo com o professor de recursos h�dricos da Universidade Federal dos Vales dos Rios Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Alexandre S�lvio Vieira da Costa, estudos realizados pela institui��o mostram que o assoreamento causado pela lama chega a ter entre 30 e 40 cent�metros no trecho do munic�pio de Valadares. A profundidade m�dia do manancial, que seria de 86 cent�metros, chegou a ser de 70 a 50 cent�metros devido a esse desastre que completa dois anos. Essa condi��o tornou o transbordamento do curso d’�gua mais f�cil com chuvas menos intensas do que antes.


E essa realidade j� foi sentida na pr�tica pelos valadarenses. No dia 20 de janeiro do ano passado o Rio Doce transbordou com as chuvas alagando os bairros S�o Tarc�sio, S�o Paulo, Santa Terezinha e S�o Pedro. Devido �s chuvas, o n�vel do Rio Doce chegou a 2,56 metros e suas �guas escaparam do leito e invadiram a cidade, um comportamento que surpreendeu, uma vez que o hist�rico de monitoramento do manancial pelo Servi�o Geol�gico do Brasil (CPRM) aponta a cota de inunda��o em 3,6 metros. “Essa redu��o da profundidade � um fato e torna a situa��o das inunda��es muito pior do que antes. Principalmente devido � mudan�a do regime hidrol�gico na bacia. Temos tido per�odos secos mais secos e chuvas concentradas no ver�o. S�o de tr�s a quatro dias de chuvas fortes, que causam alagamentos e outros transtornos”, afirma o professor Alexandre S�lvio.


Um outro problema � justamente o revolvimento da camada de lama e rejeitos de min�rio de ferro assentada no fundo do leito do Rio Doce, de acordo com o especialista da UFVJM. “Esse material, quando come�a a chover, fica em suspens�o e aumenta bastante a turbidez (concentra��o de part�culas na �gua) e crescendo as medidas necess�rias para o tratamento da �gua que � consumida em Valadares. Isso compromete o tratamento, obriga a companhia de �gua a gastar mais com subst�ncias qu�micas para tratamento e traz picos de inutiliza��o das �guas”, afirma Alexandre S�lvio.


Uma realidade que lembra aos moradores de bairros que margeiam o Rio Doce de um sofrimento que parecia ter sido superado. “As piores enchentes foram de 1979 e de 1997, quando chegou a entrar 1,2 metro de �gua dentro de casa. Agora, com essa lama, j� teve uma enchente que entrou 22 cent�metros dentro da minha casa, com pouca chuva. O medo da gente � voltar �quela situa��o de antigamente, quando a gente ficava preso em casa, sem poder trabalhar e perdia um tanto de coisa. Cheguei a sair de cal��o, com a roupa na cabe�a e vestia depois para trabalhar”, lembra o vigia Edson Jos� Ferreira, de 64 anos. De acordo com ele, at� hoje a �gua tirada do rio n�o � consumida na casa dele. “A �gua s� presta para lavar a casa e roupas. Para cozinhar ou beber tem de comprar ou pegar com a Samarco (Funda��o Renova). A gente aqui faz estoque numa caixa d’�gua para n�o correr o risco de faltar. � esse o medo e o de a �gua entrar aqui e levantar as nossas coisas como antes. J� perdi guarda-roupas, m�veis, ventilador, mantimentos. N�o gosto nem de lembrar”, afirma o morador do Bairro S�o Paulo, um dos mais amea�ados com as cheias do Rio Doce.

Camada de lama e medi��es constantes


As sondagens para saber qual a altura da camada de lama no fundo do Rio Doce foram realizadas no ano passado pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, campus Te�filo Otoni. “Fomos ao rio no per�odo seco e tiramos amostras do leito. No fundo do rio deveria ter areia, o que � mais fino, como os rejeitos da Samarco, mas as amostras que tiramos de v�rios pontos entre Governador Valadares e a Barragem de Baguari mostram essa camada preocupante ainda presente”, disse o professor Alexandre S�lvio.


Mensalmente, 54 mil litros de �gua mineral s�o distribu�dos a atingidos pela Funda��o Renova, que foi criada para organizar e executar a repara��o dos danos do rompimento ap�s um acordo entre a Samarco, a Uni�o, os estados de Minas Gerais e Esp�rito Santo e as controladoras da mineradora, que s�o a Vale e a BHP Billiton. O presidente da Funda��o Renova, Roberto Waack, afirma que foram instalados 92 pontos de monitoramento ao longo do Rio Doce, tornando o manancial o mais monitorado do Brasil. De acordo com Waack, n�o foram detectadas grandes concentra��es de rejeitos acumulados no manancial. “Esse material que foi carreado a partir de (da Barragem de) Candonga � muito particulado. Muito fino. N�o ficou formando grandes ac�mulos no leito e acaba sendo levado. De qualquer forma teremos medi��es peri�dicas e os resultados de an�lises e monitoramento dever�o ser providenciados pela Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) periodicamente e em breve”, disse.


Por causa das restri��es de uso de �gua de rios atingidos por rejeitos para a dessedenta��o animal, determinadas por �rg�os ambientais, a Funda��o Renova fornece regularmente �gua para propriedades rurais impactadas. Entre a Barragem de Fund�o e a Barragem de Candonga, cerca de 40 produtores rurais recebem o fornecimento de �gua regular. A Renova fornece 140 mil litros de �gua por dia �til para essas propriedades, por meio de caminh�o-pipa. A quantidade definida para cada propriedade leva em conta as necessidades e capacidade de armazenamento. Quando � constatada necessidade de ampliar o fornecimento, a Funda��o Renova, estuda alternativas, como o empr�stimo de caixas d’�gua e perfura��o de po�os artesianos – 38 j� foram perfurados com este objetivo.

Vigia Edson José Ferreira afirma que uma chuva mais fraca fez com que o rio subisse e invadisse sua casa(foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
Vigia Edson Jos� Ferreira afirma que uma chuva mais fraca fez com que o rio subisse e invadisse sua casa (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)

In�cio do monitoramento

 

A ocupa��o do munic�pio de Governador Valadares ao largo das duas margens do Rio Doce sempre trouxeram conflitos para essa popula��o ribeirinha, que convivia com cheias prolongadas, destrui��o e perdas. Em fevereiro de 1979 ocorreu uma grande cheia que incentivou a cria��o, em dezembro de 1981, de um Grupo Interministerial de Trabalho com o objetivo de realizar estudos de preven��o e controle de cheias na bacia do rio Doce. Foi o trabalho desse grupo que originou, entre outras estrat�gias, na composi��o de um sistema de alerta de inunda��es para a popula��o se prevenir.


Na d�cada de 1980, foram instaladas uma s�rie de esta��es telem�tricas na bacia com transmiss�o via telefone ou r�dio. J� na d�cada de 1990, foram instaladas esta��es com transmiss�o via sat�lite e os dados disponibilizados via Internet. A rede foi criada e operada continuamente, mas um sistema de alerta capaz de coletar, analisar dados e alertar a popula��o em tempo h�bil sobre a ocorr�ncia de enchentes n�o chegou a ser implantado.


A bacia, ent�o, acabou sendo escolhida para o desenvolvimento de um projeto-piloto de gest�o de bacias hidrogr�ficas por meio da Coopera��o T�cnica entre os governos brasileiro e franc�s, com o objetivo de simular um sistema de gest�o de recursos h�dricos de acordo com o modelo franc�s. Em 1996, dando continuidade ao projeto, foi implantada a Ag�ncia T�cnica da Bacia do Rio Doce (Adoce), coordenada e financiada pela Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel) e operada pelo Servi�o Geol�gico do Brasil (CPRM).


Em janeiro de 1997, houve nova grande cheia na bacia e, a partir da�, a Adoce come�ou a operar um sistema de alerta contra enchentes. A partir de 2000 foi poss�vel a opera��o plena do sistema.

 

Indeniza��o demorada

A equipe do Estado de Minas mostrou ontem, na terceira mat�ria especial da s�rie sobre os dois anos do rompimento da Barragem de Fund�o, em Mariana, na Regi�o Central de Minas, a dificuldade que as fam�lias passam por n�o ter sido ainda reassentadas. Indeniza��o pode ficar mais cara devido � demora para regularizar a situa��o das v�timas. Para receber o valor, as pessoas precisam fazer um cadastro, que pode tornar a miss�o mais complicada.

 

DEPOIMENTO

 

Mateus Parreiras, rep�rter

 

Fardo grande

Uma imagem que sempre vinha � minha cabe�a quando o assunto era Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, al�m da maci�a imigra��o para os Estados Unidos e do intenso com�rcio de pedras preciosas, era a das enchentes. Recordo-me de o Rio Doce alagar ruas e casas �s suas margens deixando pessoas ilhadas. Um drama para a popula��o. Mas, depois do rompimento da Barragem do Fund�o, em Mariana, na Regi�o Central de Minas, achei que aquele drama seria esquecido, substitu�do por outro ainda pior que foi o desabastecimento e a fren�tica luta pela �gua, saques de fornecedores, filas para caminh�es-pipa e fardos de �gua mineral. Estava enganado, pois, ao que parece, em vez de ter ocorrido uma substitui��o de mazelas, a lama se somou �s devastadoras enchentes, � falta de �gua e ao desabastecimento. E isso voc� sente ao conversar com as pessoas que vivem nessas �reas inund�veis, a sensa��o de que o fardo delas s� cresce.

 


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