
Jana�ba – Uma ang�stia que parece n�o ter fim. Quase um m�s depois de o vigilante Dami�o Soares dos Santos incendiar a creche Gente Inocente, em Jana�ba, as fam�lias das v�timas ainda tentam entender os motivos do ato b�rbaro que matou nove crian�as e uma professora. O ataque ocorrido na manh� de 5 de outubro deixou em luto a cidade de pouco mais de 71 mil habitantes no Norte de Minas e marcou a vida de parentes, a maioria moradores de �reas de baixa renda da periferia da cidade, que ainda convivem com a incerteza sobre as indeniza��es do poder p�blico sobre a trag�dia.
Nove pessoas ainda continuam internadas, sendo quatro adultos e cinco crian�as, na Santa Casa de Montes Claros e em Belo Horizonte. A reportagem do Estado de Minas retornou a Jana�ba para acompanhar o drama das fam�lias que, no feriado de Finados, se reencontraram no cemit�rio do munic�pio para homenagear as crian�as e a professora Heley de Abreu Batista, de 43 anos, que morreu queimada enquanto salvava seus alunos do inc�ndio. Na quarta-feira, o pr�dio onde funcionava a creche come�ou a ser demolido. No local ser� constru�da uma moderna unidade, com recurso tirado de doa��o feita por empres�rios. A previs�o � de que a creche seja reaberta em 25 de fevereiro de 2018, no in�cio do ano letivo.
A trag�dia transformou completamente a vida da dom�stica Luana Ferreira da Silva, de 34 anos. Quatro filhos dela estavam matriculados na unidade de ensino infantil. Um deles, a menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, morreu queimada. Duas outras filhas ficaram feridas. Um quarto filho, Victor Hugo, de 4, g�meo de Ana Clara, escapou ileso porque n�o foi � creche por estar com conjuntivite. “Ainda n�o digeri tudo que aconteceu”, afirmou. Ela diz que ainda aguarda reforma no quintal de sua casa prometida pela Prefeitura de Jana�ba. Isso porque as duas filhas que se recuperam da inala��o de fuma�a t�xica n�o podem inalar poeira. A dom�stica ainda n�o levou os outros tr�s filhos para as atividades na creche, que est� funcionando de maneira improvisada. “N�o voltei e nem quero que eles voltem”, desabafou.
Desde de 18 de outubro, as atividades para os alunos da creche Gente Inocente foram reiniciadas em um pr�dio improvisado, cedido pela Secretaria Municipal de Sa�de de Jana�ba, onde de 66 crian�as matriculadas, 44 retornaram �s aulas. Em uma das salas da institui��o est� escrito em letras coloridas: “Crian�a. Festejamos a alegria da sua exist�ncia”.
DESABAFO Mas, para muitos pais, a dor da perda � uma sensa��o que jamais ser� superada. “Nem sei explicar. � uma dor que permanece, mas a vida tem de continuar. N�o tem para onde correr”, declara a dona de casa Daniele de Oliveira Barros, de 34, ao falar da saudade da filha Thallyta Vitoria Bispo de Oliveira Barros, de 4, morta na trag�dia da Gente Inocente. Thallyta teve queimaduras de segundo e terceiro graus por quase todo o corpo e foi encaminhada para o Hospital Jo�o XXIII, em BH, mas n�o resistiu e morreu dois dias depois da trag�dia. “N�o queria que minha filha continuasse sofrendo, com mais de 70% do corpo queimado. Entreguei-a para Deus. Acho que Deus fez o melhor para minha filha”, desabafa.
M�e de Mateus Felipe Rocha Santos, de 5, que tamb�m perdeu a vida na trag�dia da creche Gente Inocente, a balconista Valdirene Santos, de 39, afirmou que, aos poucos, vem tentando retomar a vida. Ela recebeu tr�s sal�rios m�nimos, oriundos das doa��es para as v�timas, que vieram de todas as partes do Brasil. “Sei que a doa��o foi feita por pessoas de bom cora��o. Vamos gastar uma parte no t�mulo do meu filho”, comentou. Assim como muitos outros parentes das v�timas, diz ainda aguardar indeniza��o da prefeitura.
Fernanda Concei��o Rodrigues, de 34, diz que os �ltimos dias foram os mais dif�ceis desde a morte do filho �nico, Luiz Davi Carlos Rodrigues, de 4. “Os outros dias do m�s que passou parecem que foram piores do que o pr�prio acontecimento”, afirma. Desde o dia do inc�ndio, a �nica mudan�a que a tem ajudado, segundo Fernanda, foi ter conseguido arrumar um emprego.