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Estado de Minas

Aumento do consumo � fator determinante para a escassez da �gua em Minas

Diagn�stico de redu��o das chuvas em Minas nos �ltimos anos coincide com aumento de 44% nos pedidos de outorga para explorar recursos h�dricos e com o uso indiscriminado


postado em 20/11/2017 06:00 / atualizado em 20/11/2017 10:53

Queimada consome buritis em vereda já seca no Norte de Minas: apenas próximo ao Vale do Peruaçu, 50 paisagens do tipo sumiram este ano (foto: Solon Queiroz/Especial para o EM)
Queimada consome buritis em vereda j� seca no Norte de Minas: apenas pr�ximo ao Vale do Perua�u, 50 paisagens do tipo sumiram este ano (foto: Solon Queiroz/Especial para o EM)

Enquanto diminu�a o volume de chuva em Minas Gerais nos �ltimos seis anos, per�odo em que a pouca precipita��o que ca�a era mal distribu�da, crescia a press�o sobre os recursos h�dricos dispon�veis – e em baixa. A diretora-geral do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam), Mar�lia Carvalho de Melo, revela que nos �ltimos cinco anos (2013/17) os pedidos de outorga para capta��es de �gua subiram nada menos que 44% em rela��o ao quinqu�nio anterior (2008/12), segundo dados do �rg�o que ela dirige. Uma situa��o ainda mais preocupante quando se considera que essas solicita��es refletem apenas os usu�rios que registram regularmente suas demandas junto ao poder p�blico. N�o reflete, portanto, as capta��es clandestinas ou n�o autorizadas.

A maioria dos 265 munic�pios mineiros que tiveram decretada situa��o de emerg�ncia neste ano em fun��o da estiagem est� no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, �reas historicamente castigadas pela falta de chuvas. Por�m, a car�ncia de �gua afetou praticamente todo o estado. Neste ano, foi declarada escassez h�drica em 12 por��es hidrogr�ficas de Minas, a maior parte delas nas bacias do Rio S�o Francisco (sete) e Rio Doce (quatro). “Quanto � abrang�ncia de �rea da restri��o imposta, a Bacia do Rio Doce teve o maior percentual da sua �rea declarada em situa��o de escassez h�drica, com 33,92%. Em seguida, as bacias dos rios Jequitinhonha, com 16,61%, e S�o Francisco, com 8,73% de suas �reas em restri��o”, explica a diretora-geral do Igam.

Para o ex-ministro do Meio Ambiente Jos� Carlos Carvalho, o esgotamento dos recursos h�dricos em Minas Gerais tem como causa a ideia da abund�ncia de �gua, com uso indiscriminado e  sem a contrapartida de medidas preservacionistas. “Em Minas Gerais e no Brasil, somos v�timas do falso conceito da inesgotabilidade dos recursos da natureza. Tamb�m somos v�timas do conceito da abund�ncia de �gua. Com essa cultura, n�o se criou a mentalidade de que era necess�rio proteger os recursos h�dricos”, afirma.

Ele salienta que � preciso criar outra cultura em rela��o � gest�o e ao uso da �gua. “Com a nova realidade, surge tamb�m um fato novo: vamos come�ar a fazer a gest�o da �gua baseada na escassez.” Jos� Carlos Carvalho salienta que, com “toda uma legisla��o e uma pol�tica baseadas no conceito da abund�ncia”, o abastecimento p�blico no Brasil sempre foi baseado no consumo, sem levar em considera��o a oferta de �gua. “A pol�tica baseada no consumo el�stico e ilimitado (de �gua) morreu. Ter�o que ser realizadas obras de infraestrutura para reter mais �gua e aumentar a oferta, como barraginhas”, observa.

'�gua n�o nasce no reservat�rio'


Carvalho tamb�m assinala que, at� agora, o debate em torno da crise h�drica que afetou grandes centros, como Belo Horizonte, S�o Paulo e o Distrito Federal, “sempre discutiu a falta d’�gua do reservat�rio para a torneira”. “Essa � uma vis�o equivocada, baseada na premissa de que a �gua nasce no reservat�rio. A �gua vem das nascentes, dos pequenos riachos e das propriedades rurais. Se n�o houver uma pol�tica de prote��o ambiental junto com a pol�tica do uso racional dos recursos da Terra, n�o vamos superar esse problema. Podem ser feitas obras de infraestrutura, mas teremos novos reservat�rios secos no futuro, se n�o for equacionada a capacidade do solo de produzir �gua”, recomenda.

Na mesma linha, o bi�logo e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais C�lio Valle afirma que a escassez de �gua em um estado que at� pouco tempo era rico no recurso, como Minas Gerais, � consequ�ncia do uso ilimitado dos recursos naturais, sem observar a necessidade da preserva��o.  “Estamos destruindo tudo, sem pensar que a Terra tem limites. � preciso trat�-la com mais carinho, sabendo que a �gua � fundamental para a vida”, avalia C�lio Valle, ex-diretor de Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais.

 

 

AN�LISE DA NOT�CIA

Recupera��o ainda que tardia

Roney Garcia

A crise h�drica n�o � fen�meno recente. Ela se anuncia – e n�o apenas em Minas – h� anos. Menosprezada por um sistema que por s�culos privilegiou buscar recursos em outras fontes, em vez de recuperar as que definham, a escassez mostrou sua cara de terra rachada com mais evid�ncia em 2014. N�o podia mais ser ignorada, mas a mais vigorosa resposta a ela foi – de novo – espetar canudos de abastecimento nas profundezas da terra ou em rios um pouco mais distantes, � espera da bonan�a da pr�xima chuva. Que n�o veio, ao menos no volume necess�rio. Enquanto o n�vel pluviom�trico baixava, pedidos de licen�a para uso de �gua subiam � taxa de 44% em Minas. N�mero j� assustador, mas que mascara milhares de po�os perfurados sem conhecimento oficial e sugadores clandestinos que irrigam seus neg�cios com �gua “barata” que faltar� rio abaixo. Ainda que tardia, a cria��o de um grupo especial com a miss�o de enfrentar o desafio no estado surge como uma nuvem de esperan�a em um horizonte que parece caminhar aceleradamente para passar da emerg�ncia � calamidade. Resta esperar que as a��es n�o s� acompanhem a urg�ncia que a situa��o exige, como sejam capazes de envolver toda a sociedade.


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