(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Saiba como criar uma rede de vizinhos eficiente no WhatsApp

Grupos de WhatsApp s�o formados por moradores em bairros e condom�nios de Belo Horizonte para aumentar a seguran�a. No estado, h� cerca de 1.100 redes atuantes


postado em 08/01/2018 06:00 / atualizado em 08/01/2018 11:29

O servidor público Pedro Cunha faz parte da rede virtual criada depois que um ex-morador foi assaltado à mão armada na porta do seu prédio, no Bairro Sagrada Família (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
O servidor p�blico Pedro Cunha faz parte da rede virtual criada depois que um ex-morador foi assaltado � m�o armada na porta do seu pr�dio, no Bairro Sagrada Fam�lia (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Uma rede formada por quatro grupos de WhatsApp – cada um com cerca de 160 pessoas – em que n�o circulam mensagens de “bom dia”, piadas, memes ou tretas. Como se n�o bastasse, as conversas entre os participantes s�o 100% objetivas, focadas no tema da comunidade virtual. Esse cen�rio soa fact�vel? A reportagem do Estado de Minas tamb�m duvidou que ele existisse. Mas, depois de passar alguns dias inserida na rede de vizinhos do Bairro Padre Eust�quio, Regi�o Noroeste em Belo Horizonte, pode atestar: ele � real. Seguran�a � o motivo que mobiliza os usu�rios desse canal, e de pelo menos 1.100 outras organizadas em todo o estado. O levantamento � da Pol�cia Militar de Minas Gerais.

Criada em 2015, a rede do Padre Eust�quio surgiu a partir de uma reuni�o realizada na Rua Tuiuti com alguns moradores amedrontados, ap�s uma onda de arrombamentos de casas e ve�culos que ocorreu nas redondezas. O whatsApp funciona como um meio de disparar alertas sobre crimes, atitudes suspeitas, entre outros eventos que possam amea�ar aqueles que vivem na mesma localidade. Os participantes tamb�m se orientam sobre a a��o da PM, al�m das circunst�ncias em que se deve acion�-la.

"Gra�as � seriedade com que a tocamos, sabemos que se ele emite uma notifica��o no smartphone � porque o assunto � importante. N�o faz sentido manter um grupo de WhatsApp sobre seguran�a que as pessoas v�o acabar silenciando porque est� cheio de 'bom dia', 'boa tarde, 'boa noite e outras amenidades"

Hamilton Xavier, de 60 anos, que participa de um Grupo Bairro Padre Eust�quio



“Isso gera nas pessoas uma aten��o preventiva, um senso de autoprote��o. A troca de informa��es evita muitas situa��es de perigo para todos. Outro dia, por exemplo, identificamos um homem batendo de casa em casa, insistindo muito para que o deixassem entrar. Dizia ser vendedor e ficava nervoso quando recebia uma negativa. Algu�m deu o alerta em um dos grupos da rede, descrevendo, inclusive, as caracter�sticas do suspeito. E eu logo repassei a informa��o para os outros tr�s grupos. Pronto. Com essa atitude, evitamos que algum incauto abrisse suas portas e, de repente, colocasse sua vida ou integridade f�sica em risco”, conta a arquiteta Vanessa Freitas, integrante da iniciativa desde o in�cio.

RIGOR Vanessa � tamb�m a respons�vel por administrar a rede, atividade que conduz com not�vel organiza��o e m�os de ferro. A admiss�o nos grupos s� ocorre por indica��o, e depois que ela confirma que o interessado mora mesmo no bairro. Com a entrada aprovada, o novo componente recebe as regras de participa��o. � proibido falar sobre qualquer outro assunto que n�o seja relacionado � seguran�a local, fazer propagandas, bater papo ou reclamar. Por quest�es �ticas, postar imagens de criminosos ou suspeitos tamb�m � vetado. A boataria � outra pr�tica combatida. Quem descumpre o regulamento � exclu�do sumariamente, sem aviso pr�vio.

“Esse rigor � muito necess�rio para a efetividade da rede. Gra�as � seriedade com que a tocamos, sabemos que se ela emite uma notifica��o no smartphone � porque o assunto � importante. N�o faz sentido manter um grupo de whatsApp sobre seguran�a que as pessoas v�o acabar silenciando porque est� cheio de ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ‘boa noite e outras amenidades’”, reflete Hamilton Xavier, de 60 anos, que participa do grupo. O banc�rio mant�m ainda outro canal, espec�fico para os moradores da rua dele no Padre Eust�quio, que gerencia com a mesma rigidez.

Vanessa Freitas integra ainda um grupo de l�deres de pelo menos 65 redes como a que ela administra. “Algumas iniciativas partiram de associa��es de bairro. Outras s�o independentes, caso da minha. H� vizinhos organizados no Bairro Mangabeiras (na Regi�o Centro-Sul), no S�o Luiz (na Pampulha), e por a�”, explica a arquiteta, que atualmente est� na Espanha, concluindo atividades de seu doutorado. Mesmo a dist�ncia, ela segue cuidando do espa�o virtual, onde inclusive divulga informa��es marcadas por tags. #Aconteceu indica a ocorr�ncia de crimes. #Alerta, fatos a que as pessoas devem ficar atentas. #Informa��o, dados importantes, como telefones �teis, J� #Dica, acompanha recomenda��es, como registro de boletins de ocorr�ncia.

(foto: Arte/EM)
(foto: Arte/EM)
COLETIVIDADE
O aplicativo de mensagens mais popular do mundo – atualmente com um bilh�o de usu�rios ativos por dia – tamb�m tem funcionado como ferramenta de promo��o de seguran�a dentro de condom�nios. No Residencial Assun��o Life, no Bairro Camargos, Regi�o Oeste da capital, por exemplo, a organiza��o dos moradores no whatsApp evitou que a queda de um muro fizesse v�timas no in�cio de dezembro.

Em 4 de dezembro, um deslizamento de terra destruiu um muro pr�ximo a tr�s pr�dios do conjunto – composto de 34 blocos e 680 apartamentos. Por causa do deslize, 62 fam�lias tiveram que deixar seus apartamentos. A r�pida circula��o de mensagens atrav�s do whatsApp facilitou a evacua��o do condom�nio. “Foi uma noite terr�vel. Mas assim que os primeiros estrondos foram ouvidos, as pessoas come�aram a avisar do desabamento do muro com mensagens. Gra�as a isso, deu tempo de os moradores dos im�veis afetados sa�rem com vida e sem se machucar”, relembra Nilma Helena, subs�ndica de um dos pr�dios.

A aposentada ressalta ainda como a rede refor�a o senso de coletividade entre seus vizinhos em situa��es diversas. “Somos muitos moradores. O conjunto � uma minicidade. Ent�o, ficamos de olho nas pessoas que circulam por aqui e nos alertamos sobre fatos estranhos por meio do grupo”, relata.

Residente do Bairro Sagrada Fam�lia, na Regi�o Leste de BH, Pedro Cunha participa de uma comunidade virtual bem menor. Criado em 2015, tornou-se mais ativo desde que uma ex-moradora sofreu um assalto � m�o armada na porta de seu edif�cio. “Desde ent�o, tomamos o cuidado de sempre avisar, pelo grupo, quando algu�m deixa o port�o aberto, por exemplo. N�o fosse o grupo de whatsApp, demorar�amos muito mais tempo para descobrir deslizes como esse, que nos deixam t�o expostos. Essa prote��o m�tua � importante por aqui, inclusive porque sabemos que o contingente de policiais que tomam conta do Sagrada Fam�lia � pequeno. A unidade respons�vel pela nossa regi�o toma conta de mais dois bairros. Logo, estamos bem vulner�veis”, diz o servidor p�blico.

APROXIMA��O
Especialista em Seguran�a P�blica, o capit�o da PMMG Romie Lopes Pereira afirma que a corpora��o v� com bons olhos os grupos virtuais organizados pela sociedade civil para a promo��o da seguran�a. Em muitos deles h�, inclusive, policiais inseridos, caso da rede do Padre Eust�quio.

Hamilton Xavier participa de um grupo no Bairro Padre Eustáquio (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Hamilton Xavier participa de um grupo no Bairro Padre Eust�quio (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Autor de um estudo envolvendo 65 l�deres de rede de vizinhos que usam o whatsApp como ferramenta de comunica��o, o policial identifica alguns benef�cios dessa pr�tica. “O foco da minha pesquisa, realizada em outubro de 2017, foram as redes cobertas pelo 34º batalh�o, na Regi�o da Pampulha. Por l�, s�o aproximadamente 65, com cerca de 4 mil participantes, entre policiais, comerciantes e moradores. O que eu pude identificar � que, atrav�s desse espa�o, o cidad�o se aproxima dos policiais que atuam nas proximidades de sua resid�ncia. Exercita o h�bito de nos fornecer informa��es amadurecidas, como placas de carro, descri��es precisas de pessoas e contextos. Isso facilita o nosso trabalho, prevenindo crimes e, muitas vezes, possibilitando a identifica��o mais r�pida de infratores”, explica.

O capit�o frisa, contudo, que participar desses coletivos n�o substitui discar 190 sempre que necess�rio. “O grupo de whatsApp n�o serve para chamar a pol�cia. Mas, dentro das redes de seguran�a, muita gente aprende, inclusive, o papel de cada �rg�o diante de circunst�ncias de motivam crime, medo e desordem”, alerta.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)