
Sentada no banco em frente da casa bem preservada, Leonor resume a hist�ria do seu tempo em duas fases. “Convivemos no passado com uma pacata cidade, quando o �nico trabalho era a ind�stria de telhas e tijolos, o artesanato de joias e objetos de prata e a lavoura. Mais tarde, surgiram talentosos artistas com mat�ria-prima diferenciada e fizeram a diferen�a. Deste modo, a cidade, lentamente, foi conquistando espa�o e se modificando, adquirindo novo perfil, com pousadas, lindos cen�rios para grava��o de novelas e eventos diversos. A cidade ocupa agora seu lugar ao sol, mas nem por isso deixou de ser uma cidadezinha do interior”.
Emoldurada pela Serra de S�o Jos�, com sete igrejas, cinco passos da Paix�o de Cristo, constru��es barrocas e conjunto urbano tombado pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), Tiradentes em mesmo a cara de uma cidade do interior mineiro. Com uma s�rie de atra��es, incluindo cinema (at� dia 27), fotografia (17 de mar�o), festival de gastronomia (24 de agosto a 1º de setembro) e Bike Fest (de 20 a 22 de julho), a cidade de 7,5 mil habitantes quer se internacionalizar mais, diz o secret�rio de Turismo, Cultura e Esportes, Mois�s Oliveira. O objetivo � lan�ar uma campanha na Europa, nos Estados Unidos e na �ndia criando la�os por meio de cidades-irm�s, e tamb�m na �ndia.

DI�LOGO FORTE “Queremos atrair mais visitantes, dialogar forte com o governo de outros pa�ses a fim de divulgar nosso projeto”, afirma o secret�rio. Com diferencial, ele diz que a cidade chega aos 300 anos com um patrim�nio muito bem preservado, sem modifica��es na arquitetura barroca e m�o de obra qualificada para atender o visitante. O prefeito Jos� Ant�nio do Nascimento adianta que trabalha para constru��o de um memorial em homenagem a Joaquim Jos� da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), nascido na Fazendo do Pombal, que pertencia ao Termo da Vila de S�o Jos�.
Morador do Bairro Pacu e bem da Serra de S�o Jos�, Jos� Domingos de Souza, o Jos� Machado, de 75, ourives, pedreiro e trabalhador numa fazenda de produ��o de leite, tem um sentimento de gratid�o em rela��o aos turistas. “Eles fazem Tiradentes”, afirma o homem casado h� 49 anos com Maria Trindade da Silva, com tr�s filhas e seis netos. “Tudo era 95% diferente, a cidade era muito pobre, n�o tinha servi�o. Devemos muitos aos que vieram de fora, muitos deles estrangeiros falando franc�s, espanhol, alem�o e ingl�s, constru�ram pousadas. Para ter uma ideia, em 1960 havia apenas uma pens�o aqui. Emprego, s� na ro�a”, conta Jos� Machado, que tem esse apelido porque, na fam�lia, todos sabiam manejar a ferramenta para fazer carros de boi.
Mesmo bem preservada, a cidade ainda enfrenta desafios, os quais s�o apontados pelos turistas. Um deles � concluir a requalifica��o, iniciada h� dois anos, do cal�amento no Centro Hist�rico. Quem visita a Matriz de Santo Ant�nio, por exemplo, n�o deixa de se espantar com as pedras soltas, buracos e desnivelamento das pedras.

Cr�nicas do Rio das Mortes
Pesquisador do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), integrante do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Tiradentes e correspondente do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais na cidade onde nasceu, Olinto Rodrigues dos

Ao narrar a hist�ria, Olinto conta que “outros relatos d�o conta que quem descobriu os veios de ouro foi o taubateano Jo�o de Siqueira Afonso, que tinha se hospedado em casa de Thom� Portes d’El Rei. Jo�o Siqueira Afonso j� tinha experi�ncia como minerador, pois havia descoberto as minas de Guarapiranga e do Arraial do Sumidouro, enquanto Thom� Portes havia se estabelecido �s margens do Rio das Mortes, explorando a passagem do Porto Real para quem ia de S�o Paulo para as minas de Ouro Preto e Sabar�, ditas ent�o Minas Gerais, e fornecia hospedagem e mantimentos para os viajantes. Mas como autoridade (Guarda-Mor substituto) lhe coube demarcar e distribuir as novas minas descobertas”.
E mais: “O ouro foi explorado nos leitos dos rios e c�rregos, nas encostas dos morros e sempre em grande quantidade, o que fez com que muitos aventureiros acorressem ao lugar numa corrida desesperada, e criando conflitos entre os paulistas e taubateanos descobridores das minas e os advindos do reino e de outras paragens da col�nia. O conflito iniciado em Caet� foi tomando conta de todos os arraiais aur�feros at� desembocar no Rio das Mortes, onde batalhas sangrentas v�o p�r fim a chamada Guerra dos Emboabas, l� por volta de 1709. Apaziguados os �nimos, o Arraial Velho de Santo Ant�nio foi crescendo e a pequena capela bandeirante tornou-se matriz por volta de 1710. (…) Em 8 de dezembro de 1713, o governador D. Br�s Baltazar da Silveira cria no Arraial Novo a Vila de S�o Jo�o del Rey, que tamb�m � cabe�a da Comarca Judicial e Eclesi�stica do Rio das Mortes.
Olinto informa que “al�m da documenta��o registrada no Livro primeiro de ac�rd�os e cria��o da Villa de S. Joseph, que hoje faz parte do acervo documental da IHGT, o governo registrou no livro de Termo nº 05 da Secretaria de Governo 1709-1754, um “Assento q. se tornou sobre a Erec��o da Va de S. Joseph do Rio das Mortes” datado de 19 de janeiro de 1718, em que aceita os argumentos contidos na peti��o tinha “resoluto mandar levantar hua Villa no do Arrayal com a denomina��o de S. Joseph...” O nome da vila foi dado em homenagem ao pr�ncipe D. Jos� (1714-1777), �quela �poca com apenas quatro anos de idade.