postado em 11/03/2018 07:00 / atualizado em 12/03/2018 10:47
Escarpas e montes precisaram ser domados para erguer casas e igrejas. Nas encostas long�nquas, a escava��o de minas de ouro, diamantes e ferro exigiu o plantio e o pastoreio nos vales do sert�o. Para viajar por essas terras, abriram-se trilhas em serras t�o elevadas que receberam a denomina��o de alterosas. Um dos territ�rios brasileiros mais acidentados e in�spitos, Minas Gerais nasceu como destino de aventureiros buscando riquezas minerais. Se por um lado essas cadeias intrincadas de serras e morros impuseram extrema dificuldade de circula��o, por outro, foram respons�veis por preservar a arte, a culin�ria, a arquitetura e os modos do povo que floresceu no seio das �ngremes forma��es.
E � do alto, da perspectiva delineada pelos picos, vales e cordilheiras, que o Estado de Minas remonta a saga dos mineiros pela s�rie “Montanhas de Hist�rias”. A cada m�s, como parte das comemora��es dos 90 anos de funda��o do EM, a identidade do estado ser� retratada a partir de suas montanhas e do povo que as escolheu como lar.
Minas � um estado facetado pelas cadeias montanhosas. Basta destacar aquela que � considerada a sua espinha dorsal. Senhora das maiores jazidas produtoras de min�rio de ferro do Brasil, a Serra do Espinha�o � a �nica cordilheira brasileira e assim foi denominada por lembrar uma colossal coluna vertebral. Barreira que impediu a entrada dos europeus por mais de 100 anos, a Serra da Mantiqueira, segundo a tradu��o do tupi para o portugu�s, significa “serra que chora �gua”. Uma refer�ncia aos mananciais que desses altos fluem, como o Rio Para�ba do Sul, respons�vel por abastecer o Rio de Janeiro e �reas de S�o Paulo, e tamb�m o Rio Grande, detentor do maior complexo de barramentos geradores de eletricidade do pa�s.
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Ber��rio de nascentes
Logo no batismo a Serra do Capara� foi marcada como um centro de batalhas, seu nome sendo traduzido do tupi como “cabana de folhas grandes” por causa das habita��es dos �ndios botocudos bravios que ali resistiram por s�culos. Foi palco tamb�m da Guerra do Contestado (Minas Gerais contra o Esp�rito Santo, entre 1912 e 1916) e da Guerrilha do Capara� (1966 a 1967). Ali est� a mais alta montanha do Sudeste brasileiro e o terceiro ponto culminante do pa�s, o Pico da Bandeira (2.891 metros). Como um ba�, a Serra da Canastra guarda as nascentes que se fundem no rio da integra��o nacional, o S�o Francisco, um leito de prosperidade e cultura pr�prias, que de Minas leva alento ao Nordeste.
J� no s�culo 18, Minas Gerais era conhecido como o estado montanh�s
Alex Bohrer, professor de hist�ria da arte e iconografia do IFMG
“J� no s�culo 18, Minas Gerais era conhecido como o estado montanh�s”, diz o professor de Hist�ria da Arte e Iconografia do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Alex Bohrer. “As montanhas s�o parte essencial de Minas. Porque eram onde estavam o ouro e os diamantes. Sem essas jazidas, n�o existiriam cidades como Diamantina, Mariana, Ouro Preto, S�o Jo�o Del-Rei ou Serro. As montanhas foram, ainda, respons�veis pelo isolamento dos mineiros. Isso se traduziu numa cultura muito pr�pria e rica, ainda hoje presente em nossas tradi��es”, considera Bohrer.
As montanhas tiveram import�ncia fundamental na preserva��o da cultura mineira, segundo o professor Alex Bohrer, do IFMG
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
As forma��es montanhosas de Minas Gerais s�o muito antigas em termos geol�gicos, com centenas de milh�es de anos. “As montanhas e serras que vemos hoje estavam aprofundadas e foram expostas ap�s milh�es de anos de a��o erosiva do meio ambiente”, afirma o ge�logo e diretor do Museu de Hist�ria Natural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ant�nio Gilberto Costa. “Uma das caracter�sticas de Minas Gerais � o consider�vel n�mero de serras. � o estado mais montanhoso do Brasil”, define o professor.
As montanhas, de certa forma, isolaram Minas Gerais, preservando a sua cultura. “Isso � muito n�tido, por exemplo, na linguagem mineira. Temos muitas evid�ncias de que o portugu�s de Portugal, no s�culo 18, era muito mais semelhante ao que se fala em regi�es rurais de Minas, hoje, do que aquele que se fala em Portugal atualmente”, aponta o professor do IFMG, Alex Bohrer.
Reflexos no comportamento
Caracter�sticas conservadas e que ainda s�o vis�veis nos h�bitos do estado. “No interior de Minas � tradicional a forma��o de grandes quintais onde se planta couve. A couve � uma hortali�a de consci�ncia sobrevivente, que os portugueses cultivavam para combater grandes crises e fomes. Voc� retira as folhas para o consumo e n�o mata o p�. E isso proliferou na culin�ria mineira. O mesmo se agregou aos pratos a base de carne su�na. Porcos tamb�m s�o animais de lida f�cil em �reas de sobreviv�ncia dif�cil, pois eram criados soltos nas ruas da regi�o das minas. Por isso, ainda se observam portinholas na porta das casas antigas, que eram feitas para que os porcos n�o entrassem nas resid�ncias”, conta Bohrer.
“A arquitetura do estado, as formas construtivas, as artes: tudo se moldou ao relevo desafiador das montanhas. Boa parte disso se deve � chegada de imigrantes vindos da regi�o portuguesa do Rio Minho. Eram acostumados aos rigores de um territ�rio montanh�s e se sentiram em casa aqui em Minas Gerais”, afirma Bohrer. (A LOJA ROTA PERDIDA/ROTA EXTREMA - www.rotaperdida.com.br - forneceu parte dos equipamentos usados nas expedi��es)