Uma frondosa buganv�lia, por exemplo, tombou ao longo dos anos sobre plantas de um canteiro impedindo a entrada dos raios solares e, por consequ�ncia, matando as plantas menores. Diante de dois ciprestes, no lado esquerdo de quem olha para o Pal�cio da Liberdade, o arquiteto explicou que far� somente podas em ambos. “Vamos retirar apenas os galhos velhos, pois s�o �rvores que fazem parte da hist�ria da pra�a”.
O movimento na Liberdade atraiu os olhares de moradores. Inconformada, uma mulher criticou o corte na base. Lana informou que n�o h� motivo para preocupa��o dos moradores e visitantes que buscam o espa�o para caminhadas, corridas, leitura ou contempla��o. “Para cada �rvore suprimida, ser� plantada outra da mesma esp�cie”, afirmou. Por enquanto, contou um funcion�rio terceirizado, o servi�o de supress�o e corte est� ocorrendo no lado esquerdo. Nessa �rea, foram retiradas uma tipuana, de 20 metros, e sete ciprestes, com altura m�dia de 15m. Em alguns ciprestes, era poss�vel ver o tronco completamente oco por meio de grande buraco na madeira.
O poder p�blico ainda mant�m sil�ncio sobre o projeto. A PBH, via assessoria de imprensa, informa que se trata de uma poda para melhorar a ilumina��o p�blica. J� o Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha) informa que n�o h� licita��o para as obras. E a Vale adianta que sua equipe trata da recupera��o com a prefeitura e o Iepha, embora sem algo concreto.
POSTES HIST�RICOS Conhecedor da Pra�a da Liberdade, que considera de import�ncia para BH, principalmente pela hist�ria, Ricardo Lana disse que a Reabilita��o Paisag�stica vai promover a transfer�ncia dos postes centen�rios de ferro que est�o nas laterais, como na cal�ada do Centro Cultural do Banco do Brasil, para o interior da pra�a, favorecendo a ilumina��o e a harmonia com o espa�o inaugurado em 1897 e tombado h� 40 anos pelo Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha-MG).
Nos �ltimos meses, a Pra�a da Liberdade, que sofre os impactos do tempo, do uso constante e de atos de vandalismo, est� no foco das aten��es urbanas. Em fevereiro, o coreto foi pichado. No ato, os agressores sujaram a fachada do equipamento com tinta spray preta. Em 2013, ele foi reinaugurado depois de dois anos interditado. Voltando no tempo, h� mais epis�dios lament�veis, que entristecem os frequentadores: em 2010, foi furtada a placa de bronze medindo 60cm de altura por 40cm de largura que identificava o busto do imperador dom Pedro II (1825-1891).

No �mbito pol�tico, o governador Fernando Pimentel desativou o Pal�cio Tiradentes, na Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, em Venda Nova, e consolidou o Pal�cio da Liberdade, em estilo ecl�tico com influ�ncia neocl�ssica, como sede do Executivo estadual – desde 2015, o governador petista despacha no pr�dio centen�rio, em estilo ecl�tico, que data da �poca da funda��o da capital. O local foi adotado e totalmente recuperado pela Vale em 1991, seguindo o estilo paisag�stico de sua primeira reforma, datada da d�cada de 1920, ano da visita dos reis da B�lgica a BH. O pioneirismo na ado��o virou refer�ncia e sedimentou o Programa Adote o Verde, uma iniciativa municipal que permite a empresas, institui��es e indiv�duos adotar e revitalizar espa�os p�blicos municipais.

DEGRADA��O Basta caminhar pela pra�a, cercada de 15 equipamentos culturais, para ver a necessidade urgente do projeto de reabilita��o. Enquanto observa a sebe de buxinho, circundando o espelho d’�gua, Lana destaca a necessidade de recupera��o das plantas. “� preciso fazer a manuten��o constante”, afirma. Conforme constatou o EM, h� locais em peda�os. A escultura Mo�a mirando o espelho d’�gua est� com o bra�o quebrado e o vaso faltando um peda�o. Uma rachadura na base impede que o monumento, sobre um espelho d’�gua no meio de um gramado, traduza toda a beleza da arte em m�rmore.
No gramado, h� extens�es pisoteadas, exigindo a recomposi��o. Mesmo com os problemas vis�veis, a popula��o n�o se afasta da Pra�a, procurando a sombra das �rvores para ler um livro, namorar, tocar um instrumento ou apenas curtir um dia no sossego.
ESPA�O NOBRE
1894
Pal�cio da Liberdade, em estilo ecl�tico com influ�ncia neocl�ssica e marco da Pra�a da Liberdade, sai da prancheta de Jos� de Magalh�es em 1894
1920
Visita dos reis da B�lgica a Belo Horizonte. Pra�a da Liberdade passa pela primeira grande reforma
1942
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Pra�a da Liberdade se torna palco de grandes manifesta��es contra a Alemanha, It�lia e Jap�o. O estopim ocorre quando mais de 50 navios brasileiros, em �guas nacionais, s�o torpeados por submarinos alem�es
1955
Depois de nomeado prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek se elege governador de Minas. No dia da posse, ele desfila em carro aberto pela Alameda das Palmeiras
1960
Em 31 de julho, multid�o festeja a consagra��o de Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas Gerais no local. A proclama��o ocorrera dois anos antes, em Roma, pelo papa Jo�o XXIII
1969
Criada a Feira de Artesanato da Pra�a da Liberdade, que ficou conhecida como Feira Hippie
1979
Em 29 de maio, professores que reivindicavam aumento salarial e melhores condi��es de trabalho s�o expulsos pela pela pol�cia, que usa jatos d’�gua e bombas de g�s lacrimog�neo
1985
Falecido em 21 de abril, o presidente Tancredo Neves � velado no Pal�cio da Liberdade. Na �poca, a grade do pal�cio arrebentou devido � multid�o que se comprimia �s portas da sede do governo. Houve gente pisoteada e sete mortos
1991
Come�a o projeto de restauro do espa�o a cargo da arquiteta J� Vasconcelos. Avenida Afonso Pena se torna endere�o dos expositores
1997
Em 24 de junho, o cabo da PM Val�rio dos Santos Oliveira, de 36 anos, � assassinado, com uma bala na cabe�a. Ele liderava passeata por melhores sal�rios
2010
Sede do governo de Minas � transferida para a Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, na Regi�o de Venda Nova
2018
Governador Fernando Pimentel volta a despachar oficialmente no Pal�cio da Liberdade
PALCO HIST�RICO
Pra�a de hist�rias, lutas, conquistas e lazer. A hist�ria de Minas passa necessariamente pela Liberdade. Ao longo de d�cadas, o espa�o foi palco de todos os tipos de manifesta��o: pol�ticas, sociais, religiosas, culturais e c�vicas. Durante a Segunda Guerra Mundial, depois que navios brasileiros foram torpedeados pelos nazistas em �guas nacionais, milhares de belo-horizontinos cerraram fileiras para protestar contra os ataques do Eixo: Alemanha, It�lia e Jap�o (foto). Mas a pra�a de 120 anos tamb�m abrigou cerim�nias f�nebres e festivas e n�o perde o posto de marco estrat�gico no munic�pio: especialistas explicam que, ao projetar a nova capital, a comiss�o construtora chefiada pelo engenheiro Aar�o Reis n�o escolheu o ponto mais alto para receber a sede do poder estadual. N�o custa lembrar que, al�m de lugar charmoso, a pra�a � s�ntese de v�rios estilos arquitet�nicos, como os pr�dios das antigas secretarias de Fazenda e Educa��o e Obras e Vias P�blicas, da �poca da constru��o; ou o Edif�cio Niemeyer e a Biblioteca P�blica, projetados pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer (1906-2012). Da lavra contempor�nea, pontifica o Rainha da Sucata, da d�cada de 1980, do arquiteto �olo Maia (1942-2002).