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Estado de Minas

Papa Francisco vai receber manto bordado por 39 mulheres e um homem em Moeda

Grupo de 40 pessoas confecciona manto com imagens de Nossa Senhora e Maria Madalena a ser enviado ao papa Francisco. Projeto surgiu ap�s viagem a Israel


postado em 23/04/2018 06:00 / atualizado em 23/04/2018 08:15

Após meses de muito capricho e dedicação, painel bordado com 40 imagens de Nossa Senhora e Santa Maria Madalena ficou pronto para seguir para o Vaticano (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Ap�s meses de muito capricho e dedica��o, painel bordado com 40 imagens de Nossa Senhora e Santa Maria Madalena ficou pronto para seguir para o Vaticano (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)

Os fios coloridos sa�ram direto do cora��o e encontraram o linho branco, enquanto as tramas da vida se encarregaram de apontar os rumos e as linhas do tempo de marcar o afeto. Sempre corajosas, jamais arrependidas, as Madalenas do s�culo 21 escrevem sua hist�ria com arte, compartilham alegrias e dores cotidianas com o mundo e, unidas, celebram cada minuto da exist�ncia humana. H� uma semana, n�o foi diferente. No s�tio Sert�ozinho, em Moeda, na Regi�o Central do estado, um grupo formado por 39 mulheres e um homem mostrou o trabalho que demandou meses de capricho: um pan� bordado com 40 imagens de Nossa Senhora e Santa Maria Madalena, que ser� enviado no m�s que vem ao papa Francisco. Junto com a pe�a, pr�pria para se colocar na parede, seguir� uma carta na qual o grupo pede licen�a ao pont�fice por “chegar assim t�o de repente, sem cerim�nia” e o cumprimenta por ser “o papa da fraternidade, do perd�o e da esperan�a”.


Idealizadora do projeto, a estudiosa de ervas medicinais Magui Ferreira Guedes, autodeclarada uma “mulher da terra” e propriet�ria do s�tio com o marido, Orestes, acalentava h� anos o sonho de bordar o tecido de linho. E o desejo ganhou for�a no anivers�rio de 60 anos, em Israel, numa visita ao filho. Ao entrar numa loja para comprar um livro, Magui, hoje com 67, viu cair em suas m�os uma obra de capa vermelha, com letras douradas, escrita em portugu�s e dedicada � vida de Maria Madalena. Foi ent�o que deu in�cio � miss�o de prestar homenagem a Nossa Senhora e � seguidora de Jesus, natural de Magdala, que em hebraico significa torre, �s margens do Mar da Galileia.


No livro de capa vermelha estava escrito: “Dentro de cada mulher vive uma Madalena”. N�o demorou muito para, das entranhas da hist�ria particular de Magui emergir o nome de batismo – Magdala, escolhido pelo pai, ex-seminarista – e por d�cadas ofuscado pelo apelido de adolesc�ncia e popularizado entre a legi�o de amigos. Olhando para o pan�, e usando uma capa de capuz, a exemplo das amigas, a moradora de Moeda v� o tecido como um manto pronto para “empoderar”. Satisfeita com o resultado, revela os elementos principais da produ��o, em que cada um bordou uma parte previamente silkada. “Foi tudo feito com amor, sil�ncio e o poder do feminino sagrado.” Desde 2005, Magui conduz no Sert�ozinho o “De volta para casa”, uma roda de mulheres, em meio � natureza, onde cada uma das Madalenas fala dos temores, dores e amores e das fragilidades, fortalezas e emo��es.


Sempre destacando o lado sagrado das mulheres e abominando o per�odo em que Maria Madalena foi identificada como pecadora, Magui ressalta que o trabalho passa longe de qualquer ran�o competitivo com os homens. “Queremos acordar, no masculino, o feminino sagrado que ali se encontra. Os homens precisam falar de seus sentimentos, chorar, abrir o peito sobre o que os aflige”, acredita Magui, belo-horizontina que passou a viver fora da cidade grande h� mais de 30 anos e planta flores, cultiva horta org�nica e tem como meta semear a harmonia. O pan�, com 2,20 metros por 1,30m, ser� entregue a Francisco por uma freira cat�lica.

FRUTO BENDITO As imagens de Nossa Senhora bordadas no linho obedecem a alguns dos t�tulos recebidos pela m�e de Jesus mundo afora. A engenheira eletricista aposentada Maria Helena Barbosa, natural de Araguari, no Tri�ngulo Mineiro, e moradora de BH, ficou com a Nossa Senhora de Nazar� e est� certa de que o tecido � uma forma de compartilhar com o planeta, a M�e Terra. E tem um sentido de cura. “O papa tem se preocupado com a quest�o do feminino. Eu sabia fazer croch�, mas aprendi a bordar especialmente para este pan�.” A psic�loga Cl�udia Siqueira Martins, moradora da capital, acompanhou todos os passos e conta que os bordados foram feitos separadamente para depois ser confeccionada a pe�a �nica por Auxiliadora Pereira, Patricia Talarico, do Atelier do Pano, e Marilene Cordeiro.


No meio do encontro de mulheres, na manh� de s�bado, havia um “bendito � o fruto”, que Magui prefere dizer “fruto bendito”. Trata-se do economista S�rgio da Luz Moreira, morador do Bairro Sion, na Regi�o Centro-Sul da capital. Totalmente peixe-fora d’�gua no universo das agulhas e linhas, S�rgio mergulhou de cabe�a e at� aprendeu a bordar com uma professora particular. “Um dia, estava almo�ando no s�tio quando foi feita a distribui��o de tarefas. Sou muito atirado e perguntei se poderia entrar, mesmo sendo daqueles que s� sabiam pregar bot�o. Ao ouvir o ‘sim’, n�o tive d�vidas”, diz o economista. Para ele, foi uma experi�ncia “bacana”, embora n�o tenha sido f�cil. “Fiz tudo como a professora me explicou, mas acho que foi s� desta vez”, confessa com bom humor e sem perder o fio da meada.

Em encontros inspirados em Madalena, mulheres que integram o grupo 'cantam, dançam, bordam, riem, choram e se curam'(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Em encontros inspirados em Madalena, mulheres que integram o grupo 'cantam, dan�am, bordam, riem, choram e se curam' (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)

Assim na tela, como na vida


Nada mais oportuno para o grupo de Madalenas, capitaneado por Magui Ferreira Guedes, batizada Magdala, do que assistir ao filme baseado na vida da disc�pula de Jesus, chamada de “Ap�stola dos Ap�stolos” por S�o Tom�s de Aquino. Aproveitando a exibi��o na capital de Maria Madalena, a turma p�s sua capa com capuz e fechou uma sala para acompanhar a hist�ria da mulher que seguiu Jesus. Depois, o filme serviu de tema para conversas no S�tio Sert�ozinho, em Moeda, na Regi�o Central de Minas, onde, desde 2005, � desenvolvido o projeto “De volta para casa”. Segundo Magui, os encontros se inspiram em Maria Madalena: “Cantamos, dan�amos, bordamos, rimos juntas, choramos juntas e principalmente curamos nossas dores. E somos inspiradas por Maria Madalena, que foi uma mulher como n�s, com toda a sua humanidade e sabedoria e conheceu o verdadeiro caminho do amor.”


Carta para o pont�fice


“Perdoai-nos, Francisco, por chegar assim t�o de repente, sem cerim�nia, chamando-o pelo nome. N�o d� para nome�-lo de sumo pont�fice ou Sua Santidade. Pois �s, o papa do s�culo 21, um revolucion�rio como Jesus. Perdoai-nos por compar�-lo a Jesus. Mas tu, papa Francisco, tamb�m chegaste com simplicidade, compaix�o, ternura e gentileza para redimir as mulheres de todas as culpas cat�licas, que foram pregadas na cruz de suas vidas. Para rever o rastro de machismo que contaminou a Igreja. Tu �s o papa da alegria, da fraternidade, do perd�o e da esperan�a. Vem curando todas as nossas feridas ancestrais abertas por um mundo masculino autorit�rio e inflex�vel, que diminuiu, baniu, pisoteou, enclausurou, incendiou, excluiu, maltratou e infernizou o feminino.


Tu �s o papa que devolveu o poder �s mulheres, assim como fez com Maria Madalena, elevando-a ao posto de ‘ap�stolo dos ap�stolos’. Dando um lugar de honra a Madalena e �s mulheres neste mundo atual, t�o ca�tico. Tu �s o mensageiro de um novo mundo, sem distin��o de g�nero, de ra�a, ou entre pobres e ricos. Tu �s o exemplo de que devemos respeitar a M�e Terra e tamb�m a natureza interior de cada mulher.


Aqui, deste front feminino, que fica em Moeda, Minas Gerais, Brasil, 39 mulheres e um homem encontraram um jeito especial de mostrar gratid�o a um papa que aboliu preconceitos e absolveu as m�es solteiras declarando: ‘M�e n�o � estado civil. M�e � m�e e pronto’. Um jeito de agradecer a um papa que parou de excomungar mulheres que praticaram aborto em algum momento dif�cil de suas vidas. Um papa que fala coisas assim: ‘A mulher � quem d� harmonia ao lar. N�o est� aqui para lavar lou�as’.


Tu �s muito mais a Igreja de Maria Madalena do que a de Paulo. Tu �s a Igreja do cuidado essencial, que n�o guerreia, mas acolhe, comunga e compartilha. A Igreja sem penit�ncias e mart�rios desnecess�rios, sem os pesados grilh�es de dogmas ultrapassados. Sem o peso da Inquisi��o.


Tu �s a Igreja dos dias atuais, mais leve e livre. A Igreja do coletivo e n�o do individualismo. Uma igreja sem pecados cometidos, sem culpa, sem dem�nios e sem o fogo do inferno, pois s� tu sabes que o inferno � aqui, como tens sentenciado aos quatro cantos.


Foi pensando em ti, papa Francisco, que 39 mulheres mineiras e um homem bordaram um pan� em sua homenagem. A jornada de cura dessas mulheres foi longa como a de Maria Madalena, em busca do autocuidado, da delicadeza, mas sem vacilo, sem medo, com a ousadia que s� as mulheres t�m. Guiadas pela espiritualidade de Magdala Ferreira Guedes (o nome n�o � mera coincid�ncia), sob a inspira��o de Maria Madalena, elas bordaram o pan� que agora chega em tuas m�os com as linhas e cores do feminino ressuscitado por v�s.


Um presente feito a 80 m�os, bordado com as cicatrizes da alma feminina, para anunciar o amanhecer de um novo tempo. Unidas, as mulheres d�o gra�as: bendito Francisco!” 


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