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Estado de Minas

Brasil ainda tem altas taxas de mortalidade infantil

Com a 30� posi��o em investimentos na sa�de entre os concorrentes do Mundial de Futebol, o Brasil ainda n�o resolveu problemas b�sicos, como as altas taxas de mortalidade infantil


postado em 24/06/2018 06:00 / atualizado em 24/06/2018 07:24

Com 6,8% de seus gastos voltados para saúde, país é o 30º nesse item entre os adversários no gramado(foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)
Com 6,8% de seus gastos voltados para sa�de, pa�s � o 30� nesse item entre os advers�rios no gramado (foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)

O choro, o desespero, a ansiedade. Num Mundial de Futebol, a bola rola e o torcedor sofre at� o t�o esperado gol. E, ali, o sufoco se transforma em alegria. Depois de um empate e uma vit�ria contra a Costa Rica na sexta-feira, a Sele��o pentacampe� segue respirando na R�ssia. Haja cora��o, para os apaixonados por essa categoria do esporte. Mas, se a bola fosse um estetosc�pio, certamente detectaria que cora��o e �rg�os do Brasil, vitais para a sobreviv�ncia desse corpo, v�o mal. Muito mal. O sufoco tem virado, com frequ�ncia, dor. Dor de perder um ente querido na fila do hospital, pelo rem�dio que n�o chega ao posto de sa�de, pelo exame ou consulta jamais marcados. Chagas profundas numa sociedade marcada ainda pela realidade da mortalidade infantil e de crian�as nascidas de m�es apenas adolescentes. Numa hipot�tica Copa da Sa�de, o pa�s perderia, e de goleada, para muitos dos 32 pa�ses participantes.

O problema come�a na raiz: investimentos. As Estat�sticas Mundiais da Sa�de, relat�rio de 2017 da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), mostra que os gastos do Brasil nessa �rea representam apenas 6,8% do total de despesas do pa�s, atr�s apenas de Egito (5,6%) e Marrocos (6%). Ou seja, no ranking dessa Copa, o Brasil � o 30º colocado. No grupo do Brasil, a Costa Rica se classificaria em primeiro lugar para as oitavas de final, com 23,3% de seu or�amento dedicado � sa�de, seguida pela Su��a (22,7%). A S�rvia ficaria em terceiro (13,9%) e a sele��o canarinho amargaria a �ltima posi��o, sem marcar nenhum gol.

Para o especialista em Ci�ncia e Tecnologia da Funda��o Osvaldo Cruz (Fiocruz) e professor titular aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Francisco Campos, o Brasil n�o � o melhor nem o pior pa�s do mundo: em termos de sa�de est� bem no meio. Ele alerta que n�o se pode tomar os indicadores como uma fotografia, sendo melhor ver suas tend�ncias e movimentos. “Similarmente, m�dias nacionais n�o refletem as diversidades, mas a sa�de aqui est� aqu�m do desejado. Isso � fruto de um desinvestimento cr�nico, que ocorreu a partir da retirada dos recursos previdenci�rios que abasteciam a sa�de at� a cria��o do Sistema �nico de Sa�de (SUS)”, conta.

Ele lembra que ocorreu a� um paradoxo: os sanitaristas, como ele, defendiam e conseguiram que os recursos para a sa�de proviessem do or�amento geral dos entes federados, o que representou avan�o pol�tico, mas expressiva perda financeira. “Sem recursos compat�veis com as expectativas de consumo de sa�de por parte de uma popula��o cada dia mais bem informada, ocorre esse descompasso. Os problemas assinalados pela imprensa no dia a dia s�o de fato vergonhosos e inadmiss�veis, civilizatoriamente falando. As filas, a interna��o em macas espalhadas por corredores e a falta de vacina, por exemplo, s�o completamente inaceit�veis. H� parte do SUS que funciona bem, mas n�o � noticiado porque n�o faz ‘mais que a obriga��o’”, diz.

Para mudar o jogo, � preciso investir mais e melhor em sa�de, ressalta o professor. Segundo ele, os investimentos sociais no Brasil – n�o apenas na sa�de – s�o p�fios, mesmo comparados aos de pa�ses de �ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) similar. Esse,  ali�s, outro indicador em que o pa�s perde de goleada, estando em 25º lugar e tomando um banho de seus advers�rios de chave: a Su��a � a segunda colocada, a S�rvia a 21ª e a Costa Rica a 22ª. E a goleada � grande, com placares bem largos, ao estilo do 7 a 1 sofrido na semifinal contra a Alemanha, atual campe� do mundo, na Copa de 2014, em pleno Est�dio do Mineir�o, em Belo Horizonte.

VULNERABILIDADE Assim como na educa��o, os mais vulner�veis ficam de lado, deixando a situa��o ainda mais cr�tica. “Gastamos cinco vezes menos que a Inglaterra: seria um 5x1 para eles. Caso o Brasil tivesse optado na Constitui��o por pol�ticas focais, como, por exemplo, cestas de servi�os b�sicos para os mais vulner�veis, os recursos poderiam ser suficientes. Entretanto, ao se optar pela declara��o de que sa�de � um direito de todos e dever do Estado, colocou-se um leque de possibilidades que v�o desde a vigil�ncia sanit�ria, as imuniza��es e a assist�ncia hospitalar at� medicamentos de alt�ssimo custo”, afirma o especialista da Fiocruz. “Isso faz com que os recursos sejam insuficientes, at� mesmo porque se judicializa o pagamento de tratamentos car�ssimos e sem efic�cia comprovada. H� tratamentos que custam centenas de milhares de reais mensais que a Justi�a obriga a pagar, e este dinheiro vem do mesmo fundo e disputa com vacinas e medicamentos para hipertens�o e diabetes. Como o pa�s avan�ou na pauta de direitos sociais � imposs�vel voltar atr�s e renunciar aos ditames da universalidade simult�nea com equidade.”

Francisco Campos destaca que o Brasil fez enorme progresso conceitual ao estabelecer o maior sistema universal e tem avan�os inequ�vocos, por exemplo, ao ser o l�der mundial em transplantes de �rg�os financiados publicamente, e ao ter um programa nacional de imuniza��es que at� cinco anos atr�s era invejado at� mesmo por pa�ses desenvolvidos. “No entanto, esse leque de a��es tem custo e esbarra no subfinanciamento. Evidentemente, por nossa renda per capita n�o podemos gastar o que os Estados Unidos gastam, e nem mesmo o que sistemas universais como os da Europa aplicam”, diz. Assim, destaca, neste jogo de financiamento para a sa�de, pa�ses como Inglaterra, Portugal e Espanha venceriam o Brasil por 5 a 1. “Gastar menos de US$ 1 mil por habitante por ano � infact�vel para um sistema que cobre da vacina ao transplante de �rg�os.”

Esquema t�tico exige aten��o b�sica


Nem das quest�es b�sicas, que muitos julgam estarem isoladas em determinados rinc�es, o pa�s escapa. A gravidez na adolesc�ncia p�e o pa�s na 25ª coloca��o. Outro exemplo � a mortalidade infantil, um desafio ainda gritante. A cada 1 mil nascidos vivos, 16,4 crian�as n�o sobrevivem, deixando o Brasil na 24ª posi��o e entre os seis piores �ndices no grupo dos 32. Na disputa pela lanterna, a sele��o canarinho perderia apenas para pa�ses da �frica – Nig�ria (108,8), Senegal (47,2) e Marrocos (27,6) – e, do lado americano, para Panam� (17) e Peru (16,9).

Na opini�o do professor Francisco Campos, se o Brasil tivesse pol�ticas mais equ�nimes e investisse em aten��o b�sica poderia ter baixado a mortalidade infantil para patamar inferior a 10%, como fizeram os hermanos argentinos e uruguaios. “Nesta disputa, eles estariam nos vencendo por 2 a 1. A Costa Rica, por exemplo, ganha de n�s o jogo na sa�de: n�o � um pa�s de Primeiro Mundo, mas tem conseguido resultados sanit�rios bons, com pol�ticas mais equ�nimes e tradi��o pacifista”, afirma.

“A mortalidade infantil na zona sul de Belo Horizonte, excetuado o Aglomerado da Serra, � similar � dos pa�ses europeus na Copa. Podemos imaginar ent�o que Carmo-Sion x Portugal resultaria em um empate. Se n�o houver pol�tica de saneamento, se n�o houver manuten��o das imuniza��es, pr�-natal adequado, seguiremos perdendo. E est� provado que investir em aten��o b�sica � o caminho mais certo. Diversas publica��es internacionais provam que nos locais onde a sa�de da fam�lia funciona os indicadores s�o melhores. Evid�ncias de pa�ses que investiram em aten��o b�sica e obtiveram melhores resultados s�o claras e dispon�veis. O desfinanciamento cr�nico, entretanto, coloca em xeque at� mesmo essa pol�tica.”


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