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Estado de Minas

Laudos detalham como aconteceu morte de franc�s na Serra do Mantiqueira

Casos recentes ligam sinal de alerta para quem se arrisca: em menos de dois meses, dois montanhistas se perderam nas trilhas do local


postado em 08/07/2018 06:00 / atualizado em 08/07/2018 07:48

(foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros de Minas Gerais)
(foto: Divulga��o/Corpo de Bombeiros de Minas Gerais)
Aventura, risco, tens�o e morte nas montanhas de Minas. O resgate na �ltima semana do paulista Lu�s C�ssio Bezerra de Santana, de 27 anos, depois de oito dias perdido no maci�o da Mantiqueira, chama a aten��o para a atitude de esportistas experientes ou amadores que se arriscam, muitas vezes despreparados, por trilhas nas incont�veis serras mineiras. A saga do trilheiro de S�o Paulo terminou sem maiores consequ�ncias, depois de uma opera��o que envolveu nada menos que 50 militares, sete guias, nove viaturas e duas aeronaves, mas desafios do tipo t�m vitimado at� mesmo aventureiros mais experientes. � o que comprovam laudos aos quais o Estado de Minas teve acesso, que revelam como ocorreu a morte do corredor de montanhas franc�s Eric Gilbert Welterl�n, de 53 anos, cujo corpo foi encontrado em 5 de maio, depois de uma expedi��o na mesma cadeia montanhosa do Sul mineiro.


Eric morreu de hipotermia a menos de mil metros de uma das fazendas da regi�o, depois de se perder e percorrer mais de 10 quil�metros na tentativa de retomar a trilha correta (veja na p�gina ao lado a reconstitui��o dos �ltimos passos do atleta). J� estava morto havia pelo menos 12 horas quando as primeiras equipes de bombeiros, policiais, militares e volunt�rios iniciaram as buscas pelo seu paradeiro, como mostram laudos do inqu�rito sobre o incidente, encerrado pela Pol�cia Civil de Itajub�, no Sul de Minas. Na manh� de 16 de abril, o franc�s iniciou a corrida para atingir o Pico dos Marins, de 2.420 metros de altitude, numa trilha dividida entre Minas Gerais e S�o Paulo, tamb�m na Serra da Mantiqueira e a 20 quil�metros da Pedra da Mina, o objetivo do paulista resgatado na �ltima semana.

O cume visado por Eric � o 26º mais elevado do pa�s, e a trilha � considerada um excelente treino para desportistas, exatamente pelo fato de o grau de dificuldade ser considerado alto. De acordo com a per�cia feita no corpo do atleta, encontrado depois de 19 dias, a morte dele ocorreu entre o fim da manh� e o in�cio da tarde de 17 de abril, sendo que as buscas s� haviam come�ado na manh� do dia 18, uma quarta-feira. O franc�s surpreendido pelas armadilhas das montanhas mineiras n�o era um atleta amador. Casado com uma brasileira, morava havia tr�s anos em Itajub�. Colecionava muitas aventuras em competi��es de corrida de montanha em diversos pa�ses, portanto, era considerado muito experiente.

O corpo de Eric Welterlín foi encontrado por equipes 19 dias depois do início das buscas(foto: Reprodução/Facebook)
O corpo de Eric Welterl�n foi encontrado por equipes 19 dias depois do in�cio das buscas (foto: Reprodu��o/Facebook)
Ao todo, somando-se os esfor�os de equipes mineiras e paulistas, mais de 100 pessoas se envolveram nas opera��es de buscas, que contaram tamb�m com cinco helic�pteros, al�m de drones. Trilhas oficiais e caminhos alternativos que poderiam ter sido tomados por engano pelo montanhista foram percorridos, com a hip�tese de morte tendo sido considerada apenas uma semana depois de as buscas terem se iniciado. “Nessa terceira fase da opera��o de buscas, as equipes concentraram-se tamb�m na observa��o da presen�a de aves de rapina e odores espec�ficos”, informou uma nota divulgada � �poca pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, indicando que o corpo em decomposi��o poderia chamar a aten��o desses animais ou orientar os socorristas.

O corpo do franc�s foi encontrado por um vaqueiro, em uma mata pr�xima a um pasto do munic�pio de Piquete, em S�o Paulo. Segundo um dos respons�veis pelas buscas, o capit�o Paulo Roberto Reis Teixeira de Souza, do 11º Grupamento de Bombeiros da Regi�o do Vale do Para�ba (SP), Eric estava fora de qualquer trilha, bem na base da montanha. “Se andasse mais um pouco ele sairia em um pasto, onde h� gado. Ainda teria que caminhar para encontrar a civiliza��o, mas estaria mais pr�ximo. Estava deitado com a perna cruzada e com a m�o no peito, encostado em uma pedra”, disse o oficial. A necropsia foi feita pelo Instituto M�dico-Legal (IML) de Guaratinguet� (SP) e o laudo, enviado para a delegacia de Itajub�.

Segundo o inqu�rito policial de Itajub�, a causa da morte foi hipotermia, que resumidamente ocorre quando a temperatura do corpo humano cai abaixo de 35°C o que, em casos extremos, provoca quedas das frequ�ncias card�aca, arterial e respirat�ria, segundo estudos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A Federa��o Francesa de Montanha e de Escalada (F�d�ration Fran�aise de la Montagne et de l’Escalade – FFME) afirma que numa montanha a temperatura externa cai em 6,5°C a cada mil metros de altura atingidos e os ventos s�o mais fortes, intensificando a perda de calor.

As investiga��es reconstitu�ram os momentos finais do atleta franc�s. Ele conseguiu sobreviver por cerca de 26 horas, mas n�o tinha abrigo nem material para se proteger. Em seu pulso foi encontrado um rel�gio com sistema de posicionamento global, o �nico meio de navega��o de que Eric dispunha, mas que j� o tinha levado a se perder em 2014, segundo informa��es dos bombeiros. Dados do aparelho mostram que o montanhista se perdeu pelo menos tr�s vezes. Com as informa��es do equipamento e levantamentos feitos pela investiga��o policial, chegou-se � conclus�o de que o corredor percorreu um total de 10.526 metros, sendo que 4.941 (47%) foram deslocamentos errados, feitos em caminhos inadequados, que podem t�-lo desgastado ainda mais. A temperatura na madrugada chegou a -4°C e a visibilidade devido � chuva e ao nevoeiro era de menos de 10 metros, segundo a pol�cia.


Equipes dormiram na Serra da Mantiqueira e vasculharam fendas em busca de atleta francês Gilbert Eric Weterlín, que desapareceu em 17 de abril(foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros de Minas Gerais)
Equipes dormiram na Serra da Mantiqueira e vasculharam fendas em busca de atleta franc�s Gilbert Eric Weterl�n, que desapareceu em 17 de abril (foto: Divulga��o/Corpo de Bombeiros de Minas Gerais)
DRAMA. Os registros da frequ�ncia card�aca muito acelerada de Eric mostram que o franc�s s� parou de correr quando errou pela �ltima vez a trilha e desceu beirando um abismo, seguindo caminhos de enxurradas, que pode ter acreditado tratar-se da trilha de retorno. Naquele momento, caso estivesse no caminho correto e seguisse por mais 2.098 metros, chegaria ao cume do Pico dos Marins, seu objetivo. Se decidisse retornar, teria de descer mais 3.575 metros. Os registros mostram que ele enfrentou um terreno extremamente acidentado, passando por caminhos entre rochas �ngremes e se arriscando a cair em precip�cios. Sua jornada se estendeu at� a noite, tendo como �nica fonte de luz uma lanterna de cabe�a. Se dispusesse de um localizador capaz de enviar sinais de socorro, �quela altura equipes de busca poderiam t�-lo encontrado.

Depois de descer por 1.729 metros, ele ainda tentou um n�tido esfor�o de se localizar. Deixou o vale seguindo por onde a �gua da chuva naturalmente escorre da montanha e andou 518 metros at� uma eleva��o 180 metros mais alta do que a vala de onde veio. Nesse ponto do inqu�rito, a pol�cia conjectura que o atleta tenha feito esse movimento em busca de alguma forma de orienta��o abaixo, ou para tentar buscar sinal de telefonia celular. Desse ponto em diante, tudo parte de hip�teses levantadas pelos investigadores, uma vez que a bateria do rel�gio acabou e o equipamento parou de registrar os deslocamentos de Eric. O mais prov�vel, segundo os levantamentos periciais, � que o montanhista tenha retornado ao curso de �gua e descido por mais 2.694 metros, at� o ponto onde seu corpo foi finalmente encontrado. Estava a apenas 223 metros de um pasto e a mais 620 metros da sede uma fazenda, onde poderia finalmente encontrar socorro e se salvar.

PERDIDO NA SERRA. 
Na �ltima quarta-feira, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e a Pol�cia Militar de S�o Paulo resgataram o paulista de Campinas Lu�s C�ssio Bezerra de Santana, de 27 anos, que ficou perdido por oito dias depois de ter entrado na Serra Fina, em Minas Gerais, com o objetivo de chegar at� a Pedra da Mina, quarto mais alto pico do Brasil, com 2.798 metros. At� o desfecho dos trabalhos foram tr�s dias de buscas, que envolveram meia centena de militares, guias experientes, nove viaturas e duas aeronaves de corpora��es dos dois estados. Ao escutar a passagem do helic�ptero �guia, da PM paulista, o jovem fez acenos e foi localizados. Por�m, devido �s dificuldades de pouso, uma equipe de solo fez o trabalho de resgate.


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