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Estado de Minas A MORTE N�O ESCOLHE ESTRADAS

Veja hist�rias de sofrimento e luta de quem perdeu parentes em acidentes nas BRs de Minas

Familiares de v�timas pedem a duplica��o de rodovias para barrar as colis�es frontais, acidente de alta letalidade. Em Minas, pistas simples persistem at� em vias com ped�gio


postado em 06/08/2018 06:00 / atualizado em 06/08/2018 08:13

Evandro e Lilian buscam forças para viver sem a filha, Anna(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Evandro e Lilian buscam for�as para viver sem a filha, Anna (foto: T�lio Santos/EM/DA Press)


“A Anna Laura estava em um per�odo de vida muito feliz. Rec�m-formada, trabalhando na �rea de que gostava. Hoje minha grande expectativa � ter alguma interven��o para que ningu�m passe pelo que estamos passando. � uma dor que s� quem sofreu pode imaginar”, diz o funcion�rio p�blico Evandro Fagundes dos Santos, de 55 anos, que compartilha o mesmo sentimento da engenheira civil e ambiental Leticia Robbe Basilio, de 28. “O que mais sentimos � que fomos travadas no meio de uma viv�ncia que poderia ter sido muito maior e melhor. A gente � jovem e sente que a vida do meu pai foi interrompida e ele tinha muito mais pra viver com a gente”, diz ela.

As fam�lias de Evandro e Leticia n�o se conhecem, mas o destino tr�gico de seus entes queridos no mesmo trecho da BR-040 os faz cobrar melhorias sonhadas n�o s� por eles, mas por milhares de outros motoristas. S�o condutores que viram a concess�o de rodovias em Minas Gerais como a possibilidade tirar do papel as obras de duplica��o capazes de eliminar o fantasma da colis�o frontal, tipo de acidente mais letal nas rodovias federais de Minas Gerais. Por�m, a cobran�a de ped�gio em rodovias como as BRs 040, 262 e 153 h� mais de quatro anos ainda n�o significou a t�o sonhada duplica��o.

Se por um lado a amplia��o da capacidade e a coloca��o de barreiras f�sicas para separar os fluxos opostos n�o garantem uma redu��o dr�stica nos desastres com mortes nas rodovias, principalmente devido � falta de um controle rigoroso de velocidade, conforme o Estado de Minas mostrou em sua edi��o de ontem, por outro ela � a principal medida para eliminar a chance de trag�dias como as 756 batidas que no ano passado mataram 289 pessoas nas BRs mineiras de responsabilidade da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF). Isso significa que, em termos de colis�o frontal, a cada 2,6 acidentes uma pessoa morreu em 2017. Se essa mesma conta for feita contando todas as ocorr�ncias, foram 11.953 acidentes e 580 �bitos, o que significa uma morte a cada 20 batidas.

Uma das rodovias em que a popula��o aguarda desde abril de 2014 por uma solu��o � BR-040, seja no trecho entre Belo Horizonte e Juiz de Fora (Zona da Mata) seja no que vai para Curvelo (Regi�o Central) e Bras�lia. No primeiro, as hist�rias de Evandro e Leticia se unem. Em fevereiro de 2016, Leticia perdeu o pai, o engenheiro Pedro Augusto Cainelli Basilio, que tinha 55 anos, ap�s uma batida na porta do Iate Clube Lagoa dos Ingleses. Ele atravessava a rodovia de carro para entrar no clube quando foi atingido pelo ve�culo que vinha no sentido BH da rodovia. J� Evandro perdeu a filha Anna Laura de Castro Fagundes, de 26, em fevereiro deste ano. Anna, que era engenheira qu�mica e trabalhava em uma cervejaria do Bairro Jardim Canad�, em Nova Lima, seguia de carro entre a entrada do condom�nio Retiro do Chal� e o trabalho, quando, segundo a PRF, seu ve�culo derrapou e atingiu de frente outro carro onde seguiam pai e filho, um jovem de 21, que tamb�m morreu na batida.

Anna morreu no mesmo trecho onde acidente tirou o pai de Letícia(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Anna morreu no mesmo trecho onde acidente tirou o pai de Let�cia (foto: T�lio Santos/EM/DA Press)


Junto com a esposa, Lilian Soares de Castro Fagundes, de 55, Evandro busca for�as para viver sem a presen�a da filha, que tinha uma vida pela frente. O casal, que tem casa no Retiro do Chal�, ajudava a jovem a montar uma microcervejaria artesanal pr�pria, que seria inaugurada uma semana depois do acidente. Hoje, a produ��o de cerveja para os amigos est� mantida, uma forma que os dois encontraram de manter a mem�ria de Anna viva. “Quero colocar vida no lugar que a gente sonhou e preparou para ela”, diz Evandro. “Se algo j� tivesse sido feito naquela estrada, quantas vidas poderiam ter sido preservadas?”, questiona Lilian. Ela destaca que tr�s acidentes da �ltima semana nas imedia��es do retiro, sendo dois bem pr�ximos ao condom�nio, reacenderam o medo que circula pelas mensagens de WhatsApp nos grupos de cond�minos. Seis pessoas morreram em tr�s batidas, sendo que em uma delas, um pouco mais distante, em Itabirito, um beb� foi resgatado das ferragens com vida (leia depoimento no fim da p�gina). “Quando tem acidente, o condom�nio inteiro j� fica esperando quem vai ser dessa vez”, acrescenta Lilian. “Eu gostaria de ter uma forma de sensibilizar quem pode fazer algo, porque as pessoas apenas podem imaginar a dor de quem perde um ente querido.A dimens�o do sofrimento s� tem quem realmente passa por isso”, finaliza Evandro.

O casal espera por interven��es urgentes entre o trevo de acesso � BR-356 e o ped�gio de Itabirito, que, segundo marido e mulher, teve o perigo potencializado nos �ltimos anos devido ao aumento do fluxo. Assim como eles, a engenheira Leticia Robbe Basilio tamb�m quer interven��es capazes de evitar trag�dias. Na semana da morte do pai em frente ao Iate Clube Lagoa dos Ingleses, o acesso ao local com o atravessamento da pista foi retirado e agora � necess�rio retornar na entrada do Retiro do Chal�. “O problema � que os respons�veis sempre esperam a fatalidade para fazer alguma coisa”, diz ela. Pedro Augusto Cainelli Basilio velejava na Lagoa dos Ingleses com frequ�ncia. Ele era um apaixonado pelo esporte, segundo a filha, pr�tica em que ela e as duas irm�s acompanhavam o pai e agora ficou de lado. “A gra�a era velejar com ele. Meu pai era uma pessoa cheia de vida. Meu melhor amigo, conselheiro e um cara que por onde passava fazia amigos e deixava marcas de alegria”, completa.

Concession�rias apontam barreiras


Na BR-040, estrada com cobrança de pedágio, trechos de pista simples representam perigo de ocorrência da temida colisão frontal (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Na BR-040, estrada com cobran�a de ped�gio, trechos de pista simples representam perigo de ocorr�ncia da temida colis�o frontal (foto: Ed�sio Ferreira/EM/DA Press)

A duplica��o da BR-040 esbarra na obten��o das licen�as ambientais para realizar as obras, de acordo com a Via 040, concession�ria respons�vel pela rodovia. A empresa sustenta que duplicou os 73 quil�metros para os quais tinha as licen�as, o que corresponde a mais de 10% da meta inicial. “Nos �ltimos quatro anos, a Via 040 registrou redu��o de 35,3% nos acidentes com mortes na BR-040, se comparado aos quatro anos anteriores � gest�o da concession�ria, que se iniciou em 2014. A concession�ria afirma que faz cont�nuos investimentos em manuten��o, equipamentos, melhoria do pavimento, conserva��o e sinaliza��o, principalmente em pontos que demandam mais aten��o dos motoristas. Ao longo desse per�odo, foram feitos investimentos em melhoria do asfalto e instaladas 19 mil novas placas de sinaliza��o”, informou.

Apesar de a BR-040 ter sempre duas faixas em cada sentido entre Belo Horizonte e Juiz de Fora, ela n�o possui uma barreira f�sica para dividir os fluxos opostos e por isso n�o � considerada duplicada. Al�m disso tamb�m n�o tem acostamento, outro fator de risco.

A gerente-geral do Retiro do Chal�, Lucimar Pereira Evangelista, conta que j� participou de reuni�es com a Via 040 e com a ANTT onde ouviu dos representantes da concession�ria que a falta de licen�as ambientais trava as obras. “A popula��o que mora ou transita por essa regi�o quer as obras de duplica��o e tamb�m um radar pr�ximo da entrada do retiro”, defende.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov�veis (Ibama) enviou nota dizendo que todo o trecho da BR-040 correspondente � concess�o da Via 040 j� possui licen�a para as obras de duplica��o, v�lida at� 6 de abril de 2022. Por�m, o �rg�o reconhece que existem segmentos em Minas bloqueados para as obras em raz�o da falta de estudos sobre cavernas naturais da regi�o. Tamb�m h� bloqueios por conta da reprova��o, pelo Ibama, de projetos de interven��o em cursos d’�gua.

J� a Triunfo Concebra, que tem a obriga��o de duplicar os trechos que ainda s�o de pistas simples das BRs 262 e 153 sustenta que n�o h� previs�o de interven��es. “A n�o libera��o do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) sem juros subsidiados inviabiliza a continuidade das obras”, diz a empresa em nota. A Triunfo afirma que a aquisi��o de financiamento no mercado financeiro n�o � fact�vel. A  ANTT informou que j� multou a Triunfo Concebra por descumprimento de metas de duplica��o. A ag�ncia afirma tamb�m que prop�s o desconto de reequil�brio da tarifa de ped�gio tanto para a Concebra quanto para a Via 040, mas n�o esclareceu se essa puni��o significou a redu��o do valor pago pelos motoristas nas cabines.

Resgate de beb� das ferragens com vida


(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


"A carreta tombou em cima do carro e o acesso era muito dif�cil , mas quando visualizamos o beb�, come�amos a cortar colunas e o teto para chegar a ele. Pensei no meu filho, de 3 meses, e fiquei tentando conversar com a crian�a para que ela permanecesse acordada. Quando o m�dico da Via 040 pegou o beb�, viu que n�o tinha les�es. Em quatro anos e meio servindo o Corpo de Bombeiros foi a ocorr�ncia que mais me emocionou". 

 

Frederico Campos Resende, de 30 anos, soldado do Corpo de Bombeiros que participou do resgate de um beb� de 10 meses depois de batida na BR-040 que matou os pais da crian�a e o condutor de outro carro envolvido no acidente


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