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Estado de Minas

Mu�ulmanas que vivem em BH revelam rotina de preconceitos

Grupo compartilha luta por direitos femininos e defende modo de viver e de se vestir


postado em 19/08/2018 06:00 / atualizado em 21/08/2018 12:08



“Em entrevista de emprego, disseram que gostaram das minhas experi�ncias, mas vieram com um questionamento: ‘Voc� vai trabalhar com isso (referindo-se ao v�u)?’”, relembra Imane el Khal, designer de interiores, de 20 anos, mu�ulmana. “Estava numa padaria e veio um pastor tentar arrancar meu v�u. Ele come�ou a gritar comigo e tentava falar em �rabe”, diz a tamb�m mu�ulmana Daniela (nome fict�cio), contabilista, de 36. “Por nossa postura, somos apontadas como se f�ssemos exemplo de opress�o, mas, na realidade, v�rias mulheres s�o agredidas e a culpa n�o � da religi�o. � algo que ocorre em todas as sociedades”, lamenta Luar Furtado, de 24. Os relatos de intoler�ncia religiosa, se n�o chegam a surpreender, est�o muito mais pr�ximos do que se poderia imaginar: refletem a rotina que mulheres isl�micas enfrentam no dia a dia nas ruas de Belo Horizonte.

'Vemos evolução nos direitos das mulheres, mas nós, muçulmanas, não podemos usufruir dessas conquistas. Parece que não estamos juntas. Posso me vestir da maneira que quiser, a menos que eu seja muçulmana', Imane el Khal, 20 anos, designer de interiores(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
'Vemos evolu��o nos direitos das mulheres, mas n�s, mu�ulmanas, n�o podemos usufruir dessas conquistas. Parece que n�o estamos juntas. Posso me vestir da maneira que quiser, a menos que eu seja mu�ulmana', Imane el Khal, 20 anos, designer de interiores (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


Cercada de mitos e curiosidades, as vestimentas das mulheres mu�ulmanas tanto encantam quanto provocam rea��es de reprova��o. Pela tradi��o, o corpo deve ser coberto da cabe�a at� os p�s, deixando apenas o rosto e as m�os expostos. As vestes tamb�m n�o podem ter transpar�ncias, tampouco ser ajustadas ao corpo, para n�o marcar, j� que partes �ntimas n�o devem ser destacadas.

Imane, Luar e Daniela compartilham n�o s� a f� e os desafios di�rios de se viver em uma cidade de maioria crist�, mas tamb�m o desejo de combater o preconceito, que consideram deturpado e que sempre as coloca na posi��o de mulheres oprimidas e submissas. “Vivemos em uma sociedade em que a nudez � muito exaltada. Ent�o, pelo fato de estar coberta parece que voc� est� se escondendo do mundo, sendo que n�o � essa a realidade. O hijab (v�u) que usamos � muito mais que uma vestimenta, ele simboliza a mod�stia”, explica Imane, que, mesmo sendo filha do sheik da �nica mesquita do estado, s� se converteu ao islamismo aos 14 anos.
'O hijab (véu) que usamos é muito mais que uma vestimenta, ele simboliza a modéstia', Imane el Khal, 20 anos, designer de interiores
'O hijab (v�u) que usamos � muito mais que uma vestimenta, ele simboliza a mod�stia', Imane el Khal, 20 anos, designer de interiores


Ela avalia que ser mulher mu�ulmana em pa�ses ocidentais � miss�o ainda mais desafiadora. “Vejo que h� um preconceito que est� muito infiltrado na sociedade. A gente v� que tem uma evolu��o nos direitos das mulheres, nas lutas que o feminismo promove. Mas n�s, mu�ulmanas, n�o podemos usufruir dessas conquistas. Parece que n�o estamos juntas no mesmo barco. Posso, teoricamente, me vestir da maneira que eu quiser, a menos que eu seja mu�ulmana”, destaca.

Luar Furtado n�o encontrou muita dificuldade de se adaptar ao v�u e �s roupas mais compridas, quando h� dois anos se converteu ao islamismo. “O v�u foi o mais dif�cil, por causa do calor. O restante foi muito tranquilo. � s� uma quest�o de adapta��o. Hoje, ando de skate e passeio com meu cachorro toda montada no look isl�mico”, brinca. “N�o saio de casa mais sem o v�u. E me sinto empoderada com ele”, afirma a jovem de Ipatinga, no Vale do A�o, que se mudou para Belo Horizonte para estudar design gr�fico. Hoje, formada, trabalha em casa.

'Hoje, ando de skate e passeio com meu cachorro toda montada no look islâmico', Luar Furtado, 24 anos(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
'Hoje, ando de skate e passeio com meu cachorro toda montada no look isl�mico', Luar Furtado, 24 anos (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)


A designer acredita que os equ�vocos sobre a mulher mu�ulmana est�o ligados � falta de informa��o. “Muitas pessoas veem o v�u e as vestimentas como se fossem algo opressivo, mas � tudo uma quest�o de escolha. Eu escolhi me vestir assim, ter essa religi�o, na qual me encontrei, e isso � libertador. Quero que as pessoas entendam que eu n�o sou oprimida, sou muito feliz”, defende.

 

 A contabilista Daniela (nome fict�cio) se converteu ao isl� em 2009, quando planejava se mudar de pa�s. Ela conheceu mu�ulmanos em grupos de intercambistas e acabou se aproximando da religi�o, por admirar o comportamento dos novos amigos. “J� no in�cio tive empatia, pois a forma pela qual alguns se expressavam era bem organizada e p� no ch�o. Desisti de viajar, mas decidi visitar a mesquita de BH e conhecer melhor a religi�o”, relembra.


O epis�dio de agress�o que ela sofreu em uma padaria da capital foi um choque. Tanto que, atualmente, ela prefere n�o se expor, principalmente no ambiente de trabalho. “J� sofri preconceito v�rias vezes. No meu trabalho, procuro n�o comentar nada sobre a religi�o, apenas mantenho minha postura respeitosa”, comenta Daniela, que come�ou em novo emprego h� quatro meses.

Conquistas anteriores �s ocidentais

Se aos olhos da cultura ocidental as mu�ulmanas podem ser vistas como submissas, sem direitos, na �tica hist�rica dos pilares da religi�o a interpreta��o � outra. Pelas leis do islamismo, as mu�ulmanas t�m prerrogativas h� s�culos, como o direito ao voto, que s� foi conquistado pelas mulheres brasileiras h� pouco mais de 80 anos. “Esses direitos que conquistamos recentemente, como ao voto, ao trabalho, a escolher com quem se casar e ao div�rcio, j� eram realidade entre os mu�ulmanos h� quatro s�culos. As pessoas julgam por n�o conhecer a ess�ncia da religi�o”, diz Imane el Khal.

Ela ressalta a import�ncia de as pessoas n�o confundirem o islamismo com regras de estados e pa�ses. “A Ar�bia Saudita, o Ir� e todos esses Estados fechados, que t�m governos que oprimem, principalmente as mulheres, n�o est�o no isl�. Muito pelo contr�rio, o isl� garante os direitos � mulher”, afirma.

Em tempos de crescentes demandas feministas, Imane garante que a luta contra o machismo e a busca por igualdade de direitos entre homens e mulheres s�o pautas tamb�m dentro da religi�o. “Esse empoderamento feminino � algo que existe e que temos de manter vivo o tempo todo. Isso n�o � uma coisa que se oponha � f�, muito pelo contr�rio. A valoriza��o das mulheres e a igualdade de direitos s�o algo isl�mico, sim”, afirma a jovem.

'J� sofri preconceito v�rias vezes. No meu trabalho, procuro n�o comentar nada sobre a religi�o, apenas mantenho minha postura respeitosa'. Daniela (nome fict�cio), de 36 anos, contabilista

 

Saiba mais: Islamismo

� uma religi�o fundada nos ensinamentos de Muhammad, profeta ao qual Deus revelou o Alcor�o, livro sagrado mu�ulmano. A palavra isl� significa submeter-se � obedi�ncia, � lei e vontade de Allah (Deus, em �rabe). Atualmente, � a religi�o que mais cresce no mundo e est� presente em 80 pa�ses. O Brasil � o terceiro pa�s da Am�rica Latina em concentra��o de mu�ulmanos, cerca de 40 mil, de acordo com o Centro de Pesquisa Pew, dos Estados Unidos. Em Minas Gerais, o Centro Isl�mico, com sede em Belo Horizonte, abriga a �nica mesquita do estado. Na capital, o n�mero de frequentadores aumentou 35% e o de convertidos cerca de 40%, segundo dados da pr�pria institui��o religiosa.

* Estagi�ria sob supervis�o do editor Roney Garcia


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