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Estado de Minas

Apps de transporte: estudo in�dito mostra por que despencou a qualidade do servi�o

Pesquisa da UFMG mostra quadro preocupante em BH: ve�culos e apps se multiplicaram, mas situa��o dos condutores se deteriorou e qualidade do servi�o e dos carros despencou


postado em 02/09/2018 07:00 / atualizado em 02/09/2018 08:10

(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Desde novembro de 2014 em Belo Horizonte, com um mercado inaugurado pela Uber e seguido por outras empresas como Cabify e 99pop, os aplicativos de transporte se tornaram ferramentas populares nos celulares dos belo-horizontinos, como forma de se deslocar pela cidade. Mas a dissemina��o dessas plataformas, com a explos�o do n�mero de carros e motoristas associados e tamb�m de novos apps, traz a reboque consequ�ncias que come�am a ficar evidentes nas ruas da capital mineira, mensuradas principalmente por relatos que trazem reclama��es quanto ao servi�o e den�ncias de sucateamento da frota, diante da falta de fiscaliza��o adequada. Pesquisa pioneira no Brasil feita na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que a rela��o das empresas com os motoristas tem levado � precariza��o das condi��es de trabalho e trazendo de volta uma situa��o que parecia superada no pa�s.


Entre v�rios aspectos observados pelo pesquisador F�bio Tozi, professor do Departamento de Geografia do Instituto de Geoci�ncias da UFMG, e sua equipe, destacam-se a exposi��o dos condutores a longas jornadas ao volante, sob o argumento de que o motorista tem liberdade de escolha de hor�rio, al�m da press�o dos custos para manuten��o dos ve�culos, que a longo prazo dificultam a atividade e os investimentos necess�rios para manter os carros em boas condi��es. O resultado aparece, claro, na qualidade dos ve�culos, no atendimento ao passageiro e na satisfa��o com as viagens.

As condi��es abrem caminho para o resultado observado tanto em conversas com motoristas quanto usu�rios: carros cada vez mais sucateados e qualidade das corridas em queda livre. “A tecnologia dos aplicativos gera um volume muito grande de pessoas dispon�veis e elas acabam entrando nessas plataformas. Isso n�o quer dizer que o dinheiro n�o circule. O motorista consegue ter dinheiro a curto prazo, mas n�o consegue perceber que a m�dio e longo prazos os gastos s�o altos e v�o ser pagos por ele. N�o est� incorporado o desgaste, a manuten��o, o seguro, al�m da deprecia��o do ve�culo”, afirma o professor F�bio Tozi.

O resultado da pesquisa, que come�ou em 2016 e continua sendo feita, foi o artigo “As novas tecnologias da informa��o como suporte � a��o territorial das empresas de transporte por aplicativo no Brasil”, que F�bio Tozi j� apresentou na Universidade de Barcelona e na Science Po, em Paris, considerada a principal universidade francesa. “Como os carros rodam muito, o envelhecimento � intenso e a manuten��o � alta, enquanto o retorno se torna cada vez menor. Quanto mais velho ficar o carro, mais consumir� em manuten��o. O sistema e a forma como tudo isso funciona v�o levar ao envelhecimento do carro”, diz.

VOLTEI AO T�XI As consequ�ncias desse quadro de precariza��o do trabalho e queda de rendimentos j� fizeram, por exemplo, o hoje taxista S�vio Valadares, de 28 anos, deixar os aplicativos e voltar a dirigir um t�xi, fun��o em que come�ou h� seis anos. Naquela �poca, chegou a pagar at� R$ 185 de di�ria para trabalhar como taxista auxiliar. Largou o servi�o comandado pela BHTrans atra�do pela inova��o e pelos rendimentos prometidos pelo Uber.

H� um ano, pressionado pelas condi��es mencionadas pelo professor F�bio Tozi, resolveu voltar para o t�xi. “Minha ficha caiu quando percebi que, mesmo com um fluxo muito grande de corridas, os valores que recebia eram muito pequenos. Quando fui ver, a manuten��o do carro pesou e n�o estava tendo lucro. A jornada era muito longa, eu sa�a de casa de manh� cedo e voltava perto de meia-noite. Chegava muito cansado e no outro dia era a mesma coisa”, conta S�vio.

As jornadas eram t�o pesadas que o motorista come�ou a ter pouco tempo para as tr�s filhas. “Hoje, colocando na ponta do l�pis, o t�xi compensa mais, al�m de o meu desgaste ser menor”, afirma. Pesou na decis�o tamb�m o fato que o pre�o das di�rias para taxistas ter despencado. Atualmente, o condutor conta que paga R$ 70 ao dono da placa por dia para ficar com o carro 24 horas, e usa diferentes aplicativos que oferecem corridas para taxistas, alguns com at� 40% de desconto na tarifa.

O crescimento da frota dos aplicativos � um dos fatores que pesaram para os motoristas, que passaram a ter menos corridas dispon�veis. Segundo o professor F�bio Tozi, durante a discuss�o do projeto de lei que autorizou os apps no Brasil mediante algumas obriga��es, a Uber – um dos aplicativos mais difundidos e populares – usou dados para amparar sua tese de que uma regula��o diferente da aprovada iria trazer impactos para a vida de milhares de motoristas. Na ocasi�o, a companhia divulgou que tinha 50 mil motoristas cadastrados no Brasil em 2016, e que esse n�mero passou para 500 mil em 2017.

Um deles � Roberlan Nunes, motorista da Uber em BH desde 2016. Ele acredita que a chegada da empresa ajudou a melhorar a vida de quem n�o tinha op��o de trabalho. Mas essa situa��o mudou, segundo ele, e mesmo ainda sendo uma op��o para os condutores, a entrada indiscriminada de mais ve�culos a servi�o de aplicativos pesou bastante. “Come�ou bem, mas est� a cada dia pior. Os nossos ganhos s�o muito baixos. A taxa de 25% que a gente paga para a companhia tamb�m � bem alta, mas como a gente precisa disso para viver e sustentar a fam�lia, infelizmente temos que aguentar.”

Em meio � febre dos aplicativos, Roberlan destaca que j� chegou a se deparar, inclusive, com um t�xi cadastrado como Uber. Quando estava de folga, ele pediu um carro pelo aplicativo de celular, para uma conhecida. “Imediatamente reportei a situa��o � Uber. O carro que chegou era um t�xi e a placa era a mesma do cadastro”, conta.

Para Iori Takahashi, que tamb�m � motorista de app e faz parte do Movimento dos Motoristas de Aplicativo em BH, a precariza��o do trabalho � facilmente percebida no dia a dia. “H� cerca de um ano, ainda houve redu��o da tarifa e sofremos a press�o do aumento da gasolina. Desse jeito, sobrou menos ainda para o motorista, que precisa rodar muito mais horas para conseguir algum dinheiro. Tem dia que voc� n�o ganha nem R$ 30”, relata. Para Iori, essa situa��o motivou a debandada de muitos condutores dos aplicativos. O pr�prio movimento do qual ele faz parte chegou a ter 7 mil integrantes. Hoje, s�o cerca de 3 mil.


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