
D�cadas de atraso nas pequisas cient�ficas, perda de cole��es de animais e arquivos de documentos hist�ricos, interrup��o na din�mica de estudos de doutorado e ainda uma completa perplexidade diante do inc�ndio que destruiu o pr�dio e grande parte do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ). Pesquisadores das �reas de hist�ria e biologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) n�o t�m contabilizados todos os estragos causados pela trag�dia, ocorrida h� pouco mais de uma semana, mas sabem que as perdas em muitos casos s�o irrepar�veis. “Trata-se de uma perda irrepar�vel para a ci�ncia, afinal, o Museu Nacional tinha a cole��o de aracn�deos mais antiga do Brasil. Mas, como h� interc�mbio entre as institui��es de ensino, temos aqui cole��es do museu, que ficaram protegidas”, diz o chefe do Laborat�rio de Aracnologia do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas (ICB), professor Adalberto Jos� dos Santos.
“H� material da mata atl�ntica, por exemplo, que n�o ser� mais poss�vel coletar”, acrescenta o bi�logo Vin�cius Diniz, que faz doutorado em zoologia no ICB e integra o grupo de pesquisadores coordenado pelo professor Adalberto. O pesquisador explicou a perda maior foi do lado mineiro. Para o Museu Nacional, fora cedida uma fam�lia de aranhas semiaqu�ticas comuns da Am�rica do Sul e encontradas tamb�m no Jap�o. O objetivo � conhecer a diversidade do grupo e as rela��es evolutivas entre as diferentes esp�cies da fam�lia Trechaleidae.
Outra perda que deixa os pesquisadores consternados se refere a um grupo de esp�cimes de aracn�deos chamado opili�o, encontrado na mata atl�ntica. Trata-se uma cole��o formada durante d�cadas. “Muito desse material n�o poder� mais ser coletado, tanto por que pode estar extinto como por exigir verbas, um aspecto dif�cil neste momento de crise que o pa�s vive. Pode-se dizer que � algo irrecuper�vel”, afirmou, lembrando que outro fator de risco para a recomposi��o � a degrada��o do meio ambiente.
Levantamentos est�o em andamento, pela equipe do Laborat�rio de Aracnologia do ICB, para que sejam avaliados os preju�zos. “Temos, aqui, material do Museu Nacional, como parte do interc�mbio. Mas � pequeno em rela��o ao que emprestamos a eles”, afirma Vin�cius, reiterando que ser�o necess�rias muitas d�cadas para recuperar o acervo destru�do.
DOCUMENTOS Graduada em ci�ncias sociais e com mestrado em hist�ria na UFMG, a doutoranda Stefany Sid� Ventura tamb�m v� um grande atraso nas pesquisas na sua �rea de estudos. Ela tem alguns anos pela frente para defender a tese sobre a Exposi��o Antropol�gica Brasileira de 1882, que ficou em cartaz no Museu Nacional e recebeu a visita do imperador dom Pedro II (1825-1891). Stefany conta que o objetivo da grande mostra, com estrutura baseada em tr�s eixos – antropologia, etnologia e arqueologia –, j� quase no fim do s�culo 19, era entender o homem brasileiro e o homem americano, com sua constitui��o f�sica, ra�a, comportamento, moral e outros aspectos.
Para desenvolver a tese, a doutoranda tirou c�pias de v�rias pastas de documentos do Museu Nacional a respeito da exposi��o, que geraram uma revista e um guia. “Os originais ficaram l�, e consegui arquivos digitais de outros documentos. Agora, com o inc�ndio, terei que aprofundar meus estudos em outras institui��es no Rio de Janeiro, mas isso causa uma mudan�a na din�mica do trabalho e dos estudos. Tenho mais uns quatro anos de pesquisas, mas, para a ci�ncia de modo geral, h� um atraso de d�cadas”, refor�ou.