
Um ato solene, seguindo os ritos do Vaticano, marcou na tarde de ontem a abertura do processo de beatifica��o do monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro (1843-1924), natural de Caet�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, e considerado, no s�culo 19, um dos guardi�es da regi�o onde fica o Santu�rio Bas�lica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais. “Monsenhor Domingos era o ouro da nossa terra. Chamado de ‘Evangelista da Piedade’, sempre teve os olhos voltados para os pobres. Temos uma data importante, pois hoje � o dia da padroeira dos mineiros, Nossa Senhora da Piedade”, disse o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo. Com a abertura do processo, o monsenhor se torna Servo de Deus.
O rito da Santa S� para abertura do processo – tecnicamente denominado “inqu�rito”, conforme destacou o postulador da Causa dos Santos da Santa S� Apost�lica, o italiano Paolo Vilotta – teve in�cio �s 14h20, com a forma��o do tribunal que vai investigar a vida e o legado do candidato a beato. “Trata-se da fase diocesana e n�o sabemos quanto tempo vai durar. Neste per�odo, ser� investigada a exist�ncia de um milagre concedido por intercess�o de Monsenhor Domingos. Passada essa etapa, vem a fase romana”, disse dom Walmor. Al�m do arcebispo e do postulador, participam do grupo monsenhor Geraldo Calixto, padre Fernando C�sar do Nascimento, reitor do Santu�rio Bas�lica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais e agora promotor de Justi�a no inqu�rito, e os “not�rios e atu�rios”, professora Bet�nia Diniz Gon�alves e �lvaro Luiz Carvalho da Cunha.
Ap�s a assinatura em documento oficial de todos os integrantes do tribunal e do juramento de que manter�o sil�ncio sobre o transcorrer do processo, a multid�o que lotou a bas�lica, ex-Igreja Nova das Romarias, p�de ver o sarc�fago contendo os restos mortais de Monsenhor Domingos, fundador, em 1892, da Irmandade Nossa Senhora da Piedade, que deu origem � Congrega��o das Irm�s Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade (Ciansp).

Destacando que o candidato a beato foi o primeiro brasileiro a fundar uma congrega��o no pa�s, algo at� ent�o restrito a estrangeiros, o italiano Paolo Viotta, respons�vel por outros processos, como os dos beatos Nh� Chica e Padre Victor, em Minas, e Irm� Dulce, na Bahia, resumiu na palavra “coragem” a atua��o de Monsenhor Domingos. “Devoto de S�o Jos� e de Nossa Senhora da Piedade, o monsenhor viveu para ajudar os pobres. A solenidade deste s�bado, em que ocorre a abertura do inqu�rito, significa um procedimento jur�dico, um momento hist�rico. Agora, ser�o entrevistadas muitas pessoas e reunidos documentos. H� muito trabalho a fazer nesta primeira fase”, afirmou Vilotta.
� frente de uma caravana de professores, estudantes e funcion�rios da rede de escolas dirigidas pela Congrega��o das Irm�s Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, a madre-geral, Teresa Cristina Leite, ressaltou que o mais importante no legado de Monsenhor Domingos se refere �s quest�es defendidas por ele, muito atuais no mundo contempor�neo, como a luta contra o racismo e a ajuda aos pobres. “Trabalhou para a dignidade humana, lutou contra a escravid�o. O que fez n�o tem a ver com assistencialismo, mas com acolhimento. Muitas das escravas que defendeu se tornaram professoras”, disse a religiosa.

Acolhida �s ‘filhas do ventre livre’
Um dos feitos marcantes de Monsenhor Domingos foi acolher na institui��o de ensino criada por ele meninas libertas pela Lei do Ventre Livre. Embora n�o cativas, essas crian�as estavam em situa��o dif�cil, pois seus pais ainda eram escravos. Sensibilizado, e com o prop�sito de contribuir para a verdadeira liberta��o da popula��o negra, o monsenhor criou o Asilo S�o Lu�s, em 1878, formando a primeira turma de professoras negras do Brasil, que continuaram o trabalho de forma��o das crian�as no asilo. “No cora��o de Monsenhor Domingos surgiu o apelo evang�lico de trabalhar, continuamente, o processo de convers�o para transformar, por dentro, as estruturas da sociedade, para se respeitar e promover a dignidade”, disse a madre-geral.
A religiosa, que veio do Rio de Janeiro (RJ), informou que h� registros de milagres concedidos por intercess�o do fundador da congrega��o. O primeiro ocorreu ainda no s�culo 19, quando um grupo de irm�s se queixou de que n�o havia nada para comer e distribuir aos famintos. Com tranquilidade, o monsenhor pediu que elas voltassem � cozinha, e, para surpresa geral, as panelas estavam cheias de comida. Outro milagre diz respeito � cura de uma religiosa da congrega��o.