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Estado de Minas

Balada em ritmo de paz: EM mostra baile funk legalizado do Aglomerado da Serra

Depois de epis�dio que vitimou adolescente em 2017, comunidade se mobiliza e organiza o primeiro baile do g�nero com alvar� em Minas


14/10/2018 06:00 - atualizado 14/10/2018 11:47

 



Os barrac�es e casas assentados nos declives da serra que emoldura Belo Horizonte formam a maior favela de Minas Gerais. S�o oito vilas e cerca de 40 mil habitantes, segundo o censo do IBGE de 2010 – ou cerca de 120 mil atualmente, de acordo com moradores. De qualquer forma, um complexo maior do que muitas cidades mineiras. Na comunidade da Regi�o Centro-Sul da capital, a morte de um adolescente de 14 anos durante opera��o da Pol�cia Militar em um baile funk, em 8 de julho de 2017, marcou o Aglomerado da Serra. Mas o epis�dio tamb�m transformou a regi�o, que se mobilizou para conseguir uma grande conquista: o primeiro baile funk com alvar� de Minas. A equipe do Estado de Minas subiu o morro para acompanhar o evento regulamentado e mostrar como funciona essa balada, que j� coleciona admiradores entre quem vive em outros locais da cidade.

Ver galeria . 12 Fotos Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press )


S�o 20h30 de um domingo na Pra�a Esportiva da Vila Cafezal quando a DJ Ray La�s sobe ao palco, provocando um momento de �xtase. Gritos e assovios reverberam pelo ambiente. Mulheres se debru�am no alambrado que separa o p�blico do pequeno palco improvisado na carroceria de um caminh�o. Quem consegue se espremer na frente n�o s� garante vista privilegiada da apresenta��o, como assegura alguns cent�metros da grade que vai sustentar a firmeza do rebolado at� o ch�o. Espa�o � artigo de luxo na pra�a lotada. L� fora, as catracas travaram ao bater na marca de 3 mil funkeiros. Os quatro equipamentos posicionados na entrada do espa�o s�o novidade para os frequentadores do baile. Com as roletas chegaram a delimita��o do espa�o com grades, seguran�as particulares, bombeiros civis, ambul�ncia, banheiros qu�micos.... E a hora para acabar: sempre �s 23h. � o pre�o do pacote de exig�ncias para que o evento ocorra dentro da lei.

Evento reúne 3 mil pessoas, com seguranças, ambulâncias e outras exigências para a legalização. Só não há limite para a diversão(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Evento re�ne 3 mil pessoas, com seguran�as, ambul�ncias e outras exig�ncias para a legaliza��o. S� n�o h� limite para a divers�o (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


“Vim ‘embrasar’ no baile com meus amigos. Em que outro lugar voc� curte o baile com esta vista? Aqui n�o ‘lombra’, aqui n�o precisa correr. Se n�o fosse aqui, a gente tava tudo perdido no mundo. Aqui que n�s curte”, resume Henrique Juliano, de 20 anos, do Conjunto Jardim Felicidade, na Regi�o Norte de BH, no extremo oposto da cidade. Por ser o �nico local que atende �s normas de seguran�a exigidas pela Comiss�o de Monitoramento da Viol�ncia em Eventos Esportivos e Culturais (Comoveec), a pra�a de 12 mil metros quadrados, de onde se descortina uma vista panor�mica de Belo Horizonte, recebeu os dois �ltimos eventos.

O desafio agora � encontrar espa�os semelhantes, que atendam �s exig�ncias do poder p�blico para que o baile permane�a itinerante entre as oito vilas que comp�em a comunidade. “� um aglomerado que tem mais de 120 mil habitantes, e o pessoal reclamava que s� se fazia na Rua Bin�rio. Por conhecer todas as comunidades, comecei a rodar o baile, cada final de semana numa vila. Isso foi muito bom. A criminalidade dentro aglomerado abaixou demais, os conflitos diminu�ram”, conta Cristiane Pereira, conhecida como Kika, organizadora do baile e mobilizadora social no aglomerado. Ela e uma equipe composta de profissionais que v�o de advogada a jornalista criaram, h� pouco mais de um ano, o Observat�rio do Funk, entidade respons�vel pela legaliza��o do baile.

A funda��o do movimento ocorreu no dia seguinte � morte do adolescente no baile, em 2017. “A vers�o da pol�cia foi de que, devido a um enfrentamento do tr�fico, um homem tinha sido assassinado. O pessoal ficou muito revoltado, primeiro porque n�o era um homem, era uma crian�a. Segundo, que n�o tinha nenhuma rela��o com o tr�fico de drogas. Todos os relatos de testemunhas dizem que os tiros vieram de policiais. Portanto, entendemos que essa era uma forma de narrar para criminalizar o funk”, argumenta a advogada do movimento, Ma�ra Neiva. “Articulamos o observat�rio para fazer a defesa do direito das pessoas de terem lazer em sua comunidade, de se expressarem culturalmente e de terem o seu espa�o respeitado. O que aconteceu foi uma viola��o grav�ssima dos direitos”, diz a defensora.

Na �poca do assassinato, a PM sustentou ao Estado de Minas ter sido acionada por moradores que reclamavam do barulho da festa. Ao chegar, os policiais teriam sido recebidos com o arremesso de pedras e garrafas. Ainda segundo o relato oficial, os militares reagiram com bombas de efeito moral, o que teria sido respondido com tiros por criminosos que estavam no evento. Os policiais recuaram e, quando voltaram ao local, afirmaram ter encontrado o adolescente morto. Outras duas pessoas se feriram na ocasi�o.

LEGAL, MAS FICOU CARO


O baile acompanhado pelo EM ocorreu depois de um intervalo de mais de um m�s desde o �ltimo realizado. Normalmente, os eventos ocorriam todos os domingos, mas a regulamenta��o encareceu a festa – o custo de produ��o saltou da m�dia de R$ 1 mil para R$ 8 mil por noite. “Antigamente, a gente conseguia pagar a estrutura com as barraquinhas. Hoje, n�o conseguimos a grana com a venda de comida e bebida. Agora est� assim: faz no dia que d�”, conforma-se Kika.

Para conseguir fazer a festa em intervalos menores, os organizadores apresentaram a proposta de cobrar entrada de R$ 2, no �ltimo evento. A ideia acabou barrada pela Comoveec, por se tratar de um espa�o p�blico. Entretanto, houve um pedido de colabora��o. “Precisamos da contribui��o de todos voc�s. � simplesmente para a gente continuar fazendo. Conseguimos sim, a libera��o do alvar� para fazer, mas a gente tem de pagar”, anunciou no microfone a organizadora, durante a festa.


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