Protesto de mulheres em BH contra feminic�dio revive ato hist�rico da ditadura
Mulheres se re�nem nas escadas da Igreja S�o Jos� em manifesta��o pelo fim da viol�ncia contra as brasileiras. Em Minas, pol�cia registra 13 agress�es por dia
postado em 01/11/2018 17:47 / atualizado em 01/11/2018 18:30
Ver galeria . 15 FotosProtesto de mulheres em BH contra feminic�dio revive ato hist�rico da ditadura
(foto: Vera Godoy/Jair Amaral/EM/DA Press )
Quem ama n�o mata – e quem ama tamb�m sabe lutar pelos seus direitos, levantar a voz contra as injusti�as e ser guerreira para pedir paz. Com essa ideia na cabe�a e rosas nas m�os, um grupo de mulheres se uniu na manh� desta quinta-feira (1/11), na escadaria da Igreja S�o Jos�, no Centro de Belo Horizonte, para clamar por um “basta” na viol�ncia contra meninas, adolescentes, jovens, adultas e idosas, enfim, contra todas as brasileiras.
O ato p�blico e pol�tico recriou tamb�m um momento hist�rico: h� 38 anos, cerca de 400 mulheres se juntaram no mesmo local, naquela vez motivadas pelo assassinato de Elo�sa Ballesteros Stancioli e Maria Regina Souza Rocha. Para o pr�ximo dia 9, �s 18h, na Pra�a Afonso Arinos, no Centro da capital, est� programado outro ato, com um abaixo-assinado que ser� entregue �s autoridades.
Participante do primeiro movimento e hoje uma das organizadoras da mobiliza��o em defesa das mulheres, a jornalista Miriam Chrystus lembrou do ato na S�o Jos�, cujo mote “quem ama n�o mata” estava estampado, ontem, nas camisas brancas do grupo. “Na verdade”, explicou, “a frase era 'se se ama, n�o se mata', mas n�o soava bem, ent�o resolvemos trocar”. Realizada na noite de 18 de agosto de 1980, no per�odo da ditadura, a vers�o pioneira pedia tamb�m a redemocratiza��o do pa�s, mas com o foco na viol�ncia dom�stica, “pois tudo come�a dentro de casa”.
No ato, “estavam aqui dona Helen Grecco (1916-2011), que discursou em nome do Movimento Feminino pela Anistia, a poeta Ad�lia Prado, vinda de Divin�polis (na Regi�o Centro-Oeste) e muitas outras. O registro feito pela fot�grafa Vera Godoy e publicado no Estado de Minas mostra o grupo em meio a faixas, flores, velas e muita indigna��o.
Em quase quatro d�cadas, houve alguns avan�os para conter a viol�ncia, iniciados pelas delegacias especializadas, que come�aram a funcionar quatro anos depois, em S�o Paulo, no Rio e depois em Minas, a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, e a tipifica��o do crime de feminic�dio. Somente no primeiro semestre de 2018 foram abertos 2.360 procedimentos investigat�rios por agress�es �s mulheres em Minas, o que representa m�dia de 13 por dia.
BANDEIRA BRANCA Quem � guerreira sabe ser suave, quando necess�rio, e entre uma conversa e outra, as mulheres cantaram Bandeira branca, eternizada por Dalva de Oliveira: “Bandeira branca, amor/N�o posso mais/Pela saudade, que me invade/Eu pe�o paz”. E at� quem nem tinha nascido em 1980 aderiu ao movimento. “O pessoal come�ou se reunindo no Teatro da Cidade e vi a import�ncia. Acho que o assunto vai al�m, pois passa pela viol�ncia pol�tica. Acho que as mulheres precisam falar mais...falar mais ainda!”, disse a produtora cultural K�tia Bao, de 34 anos.
No meio da turma de branco, destacava-se Cec�lia, de 3, acompanhada da av�, a jornalista Mirtes Helena Scalioni. “Ela tem duas av�s que s�o muito ligadas na causa. Ent�o, �, como se diz no teatro, forma��o de p�blico”, brincou Mirtes sobre a presen�a da menina em atos pol�ticos desde cedo. Ao lado, a jornalista H�lia Ventura, se mostrava satisfeita com a reuni�o, pois foi por meio de um post dela no Facebook, conforme lembrou, que “a chama do movimento reacendeu”. Recordando da noite em que as mulheres lan�aram seu grito em defesa das mulheres, a atriz Matilde Biadi lamentou que, “infelizmente, os casos de viol�ncia t�m aumentado no pa�s”.
Soci�loga, poeta e jornalista, Elizabeth Fleury explicou que o movimento come�ou em 1975, no Diret�rio Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Em mar�o, haver� uma exposi��o na Biblioteca P�blica Estadual de Minas Gerais (ex-Luiz de Bessa), na Pra�a da Liberdade, na Regi�o Centro-Sul de BH, ter� uma exposi��o sobre a trajet�ria do movimento. Trabalhando na �rea de viol�ncia contra a mulher, Elizabeth contou que o sentimento ainda � de perplexidade diante do quadro. “Os n�meros aumentaram para surpresa at� mesmo das juristas, soci�logas e outras especialistas que atuaram na Lei Maria da Penha”. Para a soci�loga, que lembrou ter lido um poema seu na noite de 18 de agosto de 1980, a educa��o � a base para se evitarem novas ocorr�ncias.
O apoio ao movimento veio tamb�m da atriz e mulher transexual Walkiria La Roche, certa de que “as agress�es que as mulheres sofrem tamb�m nos atingem”. E resumiu: “Devemos nos unir, pois estamos sem perspectivas”.%u2028
MARCAS DA DOR
Doze anos de prote��o ampliada, mais den�ncias e mais conscientiza��o. O anivers�rio da Lei Maria da Penha – sancionada em 7 de agosto de 2006 e refor�ada em 2015 pela Lei do Feminic�dio – representou avan�os no combate � viol�ncia dom�stica e de g�nero. Mas as marcas negativas teimam em chamar a aten��o. Somente no primeiro semestre de 2018, foram abertos 2.360 procedimentos investigat�rios por agress�es contra elas em Minas, o que representa m�dia de 13 por dia.O �ndice subiu em rela��o aos anos anteriores. Nos 12 meses de 2017, foram 4.157 casos, ou m�dia di�ria de 11,3. Taxa que tamb�m havia crescido em rela��o ao ano anterior, quando foram 3.736 casos (10,2 por dia). Em 2018, de janeiro a junho, a m�dia de pris�es em flagrante por esse motivo chegou a 4,5 a cada 24 horas, contra 3,8 no ano anterior. A capital mineira responde por 15% do total desse tipo de crime no estado.
Trinta e oito anos separam as imagens de protestos de mulheres contra feminic�dio (foto: Vera Godoy/Jair Amaral/EM/D.A Press)