
Em um mundo cada vez mais digitalizado, onde campeonatos mundiais de games estilo XBox dominam, o jogo de tabuleiro, ou o board game (em ingl�s) como � mais conhecido, ganha cada vez mais a prefer�ncia de divers�o. Afinal, quem nunca se reuniu com os amigos ou com a fam�lia para um Banco Imobili�rio? Pois �, a brincadeira de “inf�ncia” tem conquistado muitas pessoas em um vasto universo de estilos, dados, pe�as e de fi�is jogadores. E para quem acha que essa divers�o � uma coisa “recente”, est� enganado. Para se ter uma ideia, Belo Horizonte sedia neste fim de semana a quarta edi��o do UaiBG. A expectativa dos organizadores � que o evento receba aproximadamente 1 mil pessoas entre ontem e hoje. E esse n�o � o �nico evento que ocorre na capital.
O motivo para tantos f�s? � que a variedade dispon�vel impressiona. O site Board Game Geek tem catalogados mais de 100 mil jogos espalhados em todo o mundo. Somente os Estados Unidos produzem 1 mil jogos por ano, aproximadamente. O Brasil n�o fica atr�s. O movimento em Belo Horizonte, que come�ou a crescer no in�cio da d�cada de 2010, j� tem encontros de gamers, p�ginas em redes sociais e grupos no WhatsApp. Al�m de reunir aficionados pelos tabuleiros, os eventos estimulam a cria��o de jogos.
O hobby n�o � dos mais baratos, uma vez que muitos jogos ainda n�o s�o encontrados no Brasil. Por isso, Jo�o Vitor conta que ele e os amigos gastaram um bom valor no final de 2015 e in�cio de 2016. “Se somarmos as compras de jogos na minha turma, deve ter chegado a uns R$ 5 mil f�cil. Come�amos a buscar os mais elaborados e estrat�gicos (Terra Mystica, Projeto Gaia, Blood Rage), que �s vezes demoram quase tanto como um War ou Banco Imobili�rio, mas como eles s�o mais imersivos, voc� nem v� o tempo passar.” Ele conta que as partidas do jogo Twilight Imperium duram entre sete e 12 horas. “Lan�aram uma edi��o dele agora que diminuiu um pouco (o tempo de jogo), mas ainda vai entre seis e oito horas.”
Em rela��o ao tempo, o professor Lucas Bleicher, de 38, relembra um caso que ocorreu com ele. “Um dos meus jogos preferidos, o 1.846, � parte de um nicho que n�o tem tantos f�s aqui em Belo Horizonte (s�o jogos sobre investimentos em companhias de trem). Por ser mais pesado, � comum que dure entre tr�s e quatro horas. Uma vez, eu estava de passagem no Rio de janeiro e encontrei uma pessoa, que inclusive cria jogos tamb�m, e ele me buscaria para jogar �s 10h. Achei at� meio estranho e falei ‘nossa, o jogo � longo, mas n�o tanto assim’ e ele falou ‘ah, � que voc� nunca jogou com fulano de tal’.” A brincadeira durou 12 horas e s� no final ele descobriu que jogava com uma pessoa que era “praticamente uma refer�ncia nacional em como se jogar lentamente”.
Apesar dessas hist�rias, nem todos os jogos s�o t�o longos assim. O chamado ‘party games’, que engloba a maioria dos jogos, tem dura��o m�dia de uma hora e meia a duas horas, garantindo maior rotatividade de jogadores. Lucas enfatiza que o jogo de tabuleiro aproxima as pessoas. “� uma oportunidade �tima de reunir pessoas e fazer algo menos digital e mais interativo. E acabei at� fazendo amigos com esse hobby tamb�m”, afirma Lucas, que teve a honra de trocar e-mail com um “papa” dos jogos.
“Cheguei a trocar algumas mensagens com o Mac Gerdts, criador de um dos meus jogos preferidos (o Imperial) e h� uns meses fui surpreendido com um e-mail dele perguntando se n�o daria para a gente se encontrar no Brasil, j� que ele estava avaliando a possibilidade de ir a um casamento em S�o Paulo”, lembra-se. O encontro, segundo ele, n�o ocorreu porque Gerdts n�o veio para o Brasil. “Imagina a minha cara quando soube que esse amigo meu, que tamb�m � professor na UFMG, foi este ano a Essen (que � o maior evento mundial sobre jogos de tabuleiro e ocorre na Alemanha), encontrou esse autor e ele perguntou sobre mim”, diz satisfeito.
FAMILIAR Apesar de ter um custo um pouco alto – parte dos Board Games s�o importados –, em eventos gratuitos como o UaiBG � comum os gamers levarem seus jogos para disponibilizar para o p�blico, permitindo que se pegue emprestado, contando ainda com ajuda de monitores, que s�o os jogadores experientes ou donos, para ensinar. “O evento foi uma ideia minha, que com lojistas da cidade e outras pessoas da comunidade levamos em frente e fizemos a primeira edi��o em uma loja especializada no Bairro Prado (Regi�o Oeste de Belo Horizonte), em outubro de 2016”, lembra-se Jo�o Vitor. Na capital, existem muitas lojas, f�sicas e on-line, voltadas para esse p�blico, que cresce a cada dia, inclusive entre as mulheres e fam�lias inteiras.
Esse � o caso do sacerdote Victor Peixoto Pereira, de 47. Pai de tr�s, ele se divorciou quando os filhos ainda eram pequenos. Para driblar a falta de contato, j� que a ex-mulher foi morar em Bras�lia e ele morava em S�o Paulo na �poca, encontrou no Board Game uma maneira de se aproximar mais das crian�as. “Na primeira visita, percebi que a programa��o que faz�amos era sempre voltada para algo externo (todos no cinema olhando para a tela, todos jogando videogame olhando para a TV, todos no teatro olhando para o palco etc.). A�, buscando algo que voltasse nossas aten��es uns para os outros, decidi tentar os BGs. Foi sucesso desde a primeira experi�ncia e, desde ent�o, tem sido uma excelente pr�tica de uni�o familiar pra n�s”, relembra.
O �xito na empreitada foi t�o grande que ele conta que, quando adquire novos jogos, pensa primeiro nos que os filhos gostariam. “(Os filhos) s�o meu grupo principal. Todas as aquisi��es que fa�o priorizam as prefer�ncias deles.” A participa��o feminina tem total aval de Victor, uma vez que a filha e a atual namorada jogam. “Nunca testemunhei algum problema em rela��o a isso.”
INCLUS�O PARA DIVERSIDADE DE PESSOAS
Amana alerta para alguns h�bitos machistas que podem atrapalhar a divers�o. “Quando comecei a jogar, os meninos me colocaram como iniciante, mas nunca houve preconceito deles. Mas n�o posso falar que n�o exista (preconceito). Por mais experi�ncia em determinado jogo, sempre tem um que tenta ensinar, cantar a jogada, dar palpite”, conta. Apesar disso, a professora de ingl�s diz que isso n�o impede o crescimento no interesse das mulheres de qualquer idade nos jogos. “Quando entrei no grupo feminino, tinha s� umas 30 meninas, hoje tem mais de 800 s� no Facebook. Sinto o crescimento porque quando elas percebem que h� um ambiente tranquilo e saud�vel, elas se sentem mais confiantes para ficar no hobby.”
A diversidade � t�o bem aceita, que existem grupos de jogos para praticamente todos os tipos. “� gratificante ver que o hobby � bem inclusivo e est� alcan�ando cada vez mais esse status. Mas, como � bastante visual, h� certas barreiras de game design que devem ser superadas para alcan�ar a totalidade, ent�o, para o deficiente auditivo � mais f�cil de uma maneira geral, por�m para o (deficiente) visual � mais complicado”, diz o empres�rio paulistano Fernando Celso, de 39, organizador do BoardGames SP, maior evento mensal de jogos de tabuleiro modernos do pa�s. Al�m disso, ele auxilia e orienta outras reuni�es pelo Brasil. Em Belo Horizonte, existe um evento pr�prio para deficientes auditivos e jogos sendo criados para dalt�nicos.
Morador de Florian�polis, ele � uma das refer�ncias nacionais de board games e explica o sucesso. “O hobby tem crescido bastante e com certeza n�o � modismo. � algo bem diferente do que est�o acostumados em termos de jogos porque n�o s� traz a fam�lia � mesa, mas despluga as pessoas do mundo digital, e traz a rela��o e conviv�ncia pessoal para a mesa. Com isso, muita gente faz amizade, formam-se grupos de jogo etc. Com certeza, os board games tendem a fazer as pessoas a conviverem mais pessoalmente umas com as outras. Tem um car�ter l�dico muito forte”, atesta o empres�rio, que j� participou de encontros como o GenCon, nos Estados Unidos.
EDUCA��O E USO EM EMPRESAS

Patr�cia revela que foi convidada, como psic�loga, para desenvolver um trabalho no Rio de Janeiro, onde mora atualmente, para treinamento de equipe e gestores. “S�o in�meros os benef�cios. Voc� consegue fazer diagn�stico de grupo, sele��o pessoal por meio de habilidades espec�ficas, treinamento. Sujeita-se ao que � necess�rio. Dependendo do que � requisitado, os jogos de tabuleiro podem vir, sim, como uma ferramenta eficiente para trabalhar essas quest�es (profissionais), que s�o analisadas no RH de uma maneira geral.”
A sua prefer�ncia � por board games “cabe�a”. “Tem uma gama enorme de jogos, para todos os gostos. Os meus favoritos s�o os que envolvem estrat�gia e racioc�nio. Tamb�m gosto dos estilos cooperativos, que s�o completamente diferentes do que t�nhamos como ideia de jogo, em que todos trabalham juntos por um objetivo comum, que s�o muito bacanas e nos fazem ver os games de uma forma diferente.”
Servi�o
UaiBG
Neste domingo, das 12h �s 17h
Local: PUC S�o Gabriel (Rua Walter Ianni, 255)
Estacionamento local
Mais informa��es: www.uaibg.com.br