postado em 30/01/2019 06:00 / atualizado em 30/01/2019 08:16
Amigos de inf�ncia, os dois deixam a zona urbana Brumadinho �s 6h todos os dias desde o �ltimo s�bado (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A press)
Brumadinho – O sol ainda n�o raiou quando Laudinei Pessoa e Mateus de Morais Leal Parreiras, de 29 anos, levantam da cama. �s 5h, os dois acordam exaustos depois de pouco tempo de sono e come�am a se preparar para mais um dia de cansa�o f�sico e emocional. As pr�ximas horas ser�o de trabalho e apreens�o em meio � devastadora lama que tomou conta de regi�es pr�ximas � barragem que se rompeu em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.
Laudinei e Mateus n�o s�o bombeiros. Devastados por n�o saberem dos amigos que estavam na Vale no momento da trag�dia da �ltima sexta-feira, eles abandonaram a rotina e deixaram os respectivos trabalhos com um objetivo: ajudar voluntariamente nas buscas por desaparecidos. “Estamos aqui por causa de amigos nossos que cresceram com a gente. Todos os amigos que n�s perdemos estavam trabalhando na Vale. Amigos e conhecidos da cidade. A gente queria achar o pessoal com vida, mas estamos achando muitos corpos. Pelo menos isso d� uma satisfa��o � fam�lia”, lamenta Mateus ao Estado de Minas.
Amigos de inf�ncia, os dois deixam a zona urbana Brumadinho �s 6h todos os dias desde o �ltimo s�bado. O caminho n�o � nada simples. Em um intervalo de aproximadamente duas horas, eles percorrem a p� impressionantes 20 quil�metros at� a “�rea quente”, regi�o onde as buscas por desaparecidos se intensifica na Mina do C�rrego do Feij�o. No caminho, passam pela linha f�rrea que cruza o local e andam �s margens da lama em busca dos desaparecidos. Assim que chegam, juntam-se aos bombeiros.
Em um intervalo de aproximadamente duas horas, eles percorrem a p� impressionantes 20 quil�metros (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A press)
“O Corpo de Bombeiros tem sido bem amigo. Reconheceu que estamos aqui para ajudar. Eles nos d�o almo�o, lanche, �gua, o que a gente precisa. Estamos sofrendo juntos, porque � um trabalho bastante sofrido. Estamos aqui com o cora��o, que d�i, sabendo que tem pessoas sofrendo sem saber se v�o encontrar o ente querido para fazer o enterro, ter aquele descanso de familiar” conta Laudinei.
Bombeiros que est�o envolvidos no resgate n�o est�o autorizados a dar entrevistas. Em conversas informais com a reportagem, eles admitem: o fato de Laudinei e Mateus conhecerem bem a regi�o t�m auxiliado bastante nas buscas e at� mesmo na retirada dos corpos da lama. At� essa ter�a-feira, os dois haviam ajudado a encontrar cinco v�timas.
Trabalho
Apesar de tristes pelas perdas de amigos, os volunt�rios conseguem, vez ou outra, recuperar o clima leve em meio a tanta devasta��o. � o caso, por exemplo, de quando Laudinei conta como conseguiu deixar o trabalho de ajudante de linha f�rrea para ajudar os bombeiros nas buscas. “Tive a les�o do Neymar (risos). S� n�o vou ter o mesmo tratamento que ele”, brinca.
Laudinei fraturou o dedinho – ou quinto metatarso – do p� esquerdo e, por isso, conseguiu atestado m�dico v�lido por 15 dias. O craque do PSG e da Sele��o Brasileira sofre com esse problema, mas no p� direito. Mesmo com a regi�o enfaixada, o volunt�rio veste as botas durante todo o dia de buscas, que, para os dois, termina por volta das 19h. Depois da procura, mais 20 quil�metros percorridos a p� de volta para casa.
O abatimento fez com que Mateus pedisse libera��o da empresa em que trabalha como mec�nico para ajudar nas buscas. “Nem era para eu estar aqui, era para eu estar trabalhando, mas eu n�o tenho cabe�a. Falei na empresa que tenho que estar na cidade para ajudar o pessoal”, disse.
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Trag�dia de Brumadinho - Rompimento de rejeitos da Barragem 1 da Mina Feij�o (C�rrego Feij�o)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A press )
As buscas
O resgate “oficial” ganhou novos cap�tulos nessa ter�a-feira. Desde o in�cio da manh� do quinto dia de buscas, o Corpo de Bombeiros, com aux�lio de helic�pteros, retirou v�timas das regi�es mais afetadas pela lama. Segundo o porta-voz da corpora��o, o tenente Pedro Aihara, a maioria dos corpos encontrados deve ser, provavelmente, de pessoas que estavam no refeit�rio da Vale no momento do rompimento da barragem.
Ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros, o restaurante foi arrastado pela lama por uma dist�ncia entre 800 metros e 1 quil�metro. A maioria das v�timas est� nessa regi�o, segundo a corpora��o. A Vale informou que cerca de 600 funcion�rios estavam no refeit�rio e no pr�dio administrativo quando a barragem se rompeu. As buscas na regi�o onde est� um �nibus tamb�m continuaram.
Em algumas regi�es, a lama est� mais seca. Segundo bombeiros ouvidos pelo Estado de Minas, isso facilita o deslocamento, mas, em alguns casos, pode dificultar a identifica��o de corpos. Auxiliadas por equipamentos militares israelenses, as equipes brasileiras tamb�m contam com um aspecto intuitivo nas buscas: o cheiro, que indica �reas onde podem ser encontradas v�timas.
A �ltima parcial divulgada confirmava 84 mortes, com 42 v�timas identificadas. O n�mero aumentou durante as buscas dessa ter�a. Havia tamb�m 276 pessoas desaparecidas.