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Estado de Minas

Brumadinho recebe religiosos e pessoas que querem ver cen�rio da trag�dia

Desde a cat�strofe � intenso o movimento de visitantes na �rea atingida. Muitos oferecem conforto espiritual e tentam ajudar, mas o fluxo de curiosos tamb�m incomoda moradores


postado em 04/02/2019 06:00 / atualizado em 04/02/2019 08:29

Maria Helena de Castro se concentra em preces diante do letreiro que virou memorial: pedido de conforto para as famílias(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Maria Helena de Castro se concentra em preces diante do letreiro que virou memorial: pedido de conforto para as fam�lias (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)


Logo na entrada da cidade, h� uma placa onde se l� “Oremos por Brumadinho”. Foi instalada ap�s o rompimento da Barragem 1 da Mina do C�rrego do Feij�o – o n�mero de v�timas j� chega a 121 mortos. Duzentos e doze est�o desaparecidos e, a cada divulga��o de balan�o pelas autoridades, mais apertado fica o cora��o das fam�lias atingidas. Sens�veis � situa��o e dispostas a ajudar com preces e energia positiva a quem sofreu ou perdeu parentes na cat�strofe, muitas pessoas de outros munic�pios chegam a todo momento e se unem de m�os dadas, rezam de m�os postas, elevam os bra�os ao c�u ou preferem o sil�ncio reflexivo.

Mais adiante da mensagem de convite �s ora��es, perto de um restaurante, fica o letreiro formando o nome do munic�pio, agora transformado em uma esp�cie de memorial ecum�nico de manifesta��es afetivas em homenagem aos mortos e desaparecidos. Sob as consoantes e vogais pintadas de branco h� velas, bandeiras do Brasil e de Minas, camisas de times, e, no gramado, palavras escritas em preto (sabedoria, igualdade, perd�o, entre outras), cruzes fincadas com nomes completos de v�timas e outras demonstra��es de saudade.

Enquanto uns rezam ou oram em respeito �s v�timas, outros chegam a Brumadinho movidos pela simples curiosidade de conhecer as �reas devastadas, conversar com as fam�lias enlutadas ou assistir aos pousos e decolagens dos helic�pteros das opera��es de resgate. No s�bado de manh�, a Pol�tica Militar isolou algumas vias de acesso � comunidade de Alberto Flores, j� que, na estrada de terra, era grande o n�mero de ve�culos com placas da capital e do interior. 

M�OS DADAS
Moradora de Divin�polis, na Regi�o Centro-Oeste, e de f� cat�lica, Maria Helena de Castro se emocionou muito diante do letreiro com mensagens de saudade. “S� pe�o mesmo a Deus que d� conforto a todas as fam�lias. S� Ele mesmo para ajudar neste momento t�o dif�cil. Rezo bastante, tudo � muito comovente”, disse ela, na companhia da nora e das netas que perderam uma pessoa pr�xima na trag�dia de 25 de janeiro.

“O momento � de solidariedade com o pr�ximo, de f� e for�a, independentemente da cren�a de cada um. Hora de ajudar o irm�o”, acredita Ledemir Fran�a, de 25 anos, atuante em movimentos sociais em Brumadinho. “Cremos em um s� Deus, a vida segue, por isso precisamos estar unidos. As ora��es s�o importantes para as almas que choram e pedem socorro”, disse o jovem que, na sexta-feira, participou da caminhada pac�fica pelas ruas da cidade.

Aproveitando a folga do fim de semana, um grupo de seis jovens evang�licos residentes no munic�pio vizinho de Betim fez quest�o de visitar comunidades com �reas devastadas pelos milh�es de metros c�bicos de rejeitos de min�rio despejados durante o estouro da barragem da Vale. “Viemos ajudar de alguma forma. E acho que o melhor jeito � orando”, disse Alex Mansur, de 26, ao lado de Pedro Henrique Campos, de 19, Alessandro Mendon�a, de 26, Laysse Medeiros, de 19, Fab�ola Borges, de 22, e da irm� dele, Melissa Mansur, de 19.

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)


Pela primeira vez em visita a Brumadinho depois da trag�dia que comove o mundo, os jovens da Igreja Batista Nova Jerusal�m, de Betim, Grande BH, caminharam pelas ruas do Parque da Cachoeira e de Alberto Flores. Depois se deram as m�os e, em sil�ncio, oraram por mortos e desaparecidos.

Chegar �s margens de onde um dia foi verde e teve vida plena causa um certo horror. Pisar a lama de rejeitos, ainda mole, sob o sol quente do meio-dia, faz o cora��o pulsar em ritmo de rever�ncia aos mortos e desaparecidos. Morador do Bairro Jardim Vit�ria, na Regi�o Nordeste de BH, o comerciante Gladiston Oliveira Santos, de 38, foi de moto a Brumadinho. Contou que n�o tem religi�o, mas sentiu a necessidade de fazer uma ora��o bem perto dos lugares afetados violentamente pela onde de res�duos.

De p�, em completo sil�ncio, Gladiston contemplou o lama�al que se tornou a parte baixa do Parque da Cachoeira e, por n�o seguir doutrinas religiosas, fez sua pr�pria ora��o. “S� estou pedindo a Deus que todas essas pessoas que morreram aqui e outros lugares descansem em paz. A tristeza � muito grande, ainda mais diante de toda essa terra devastada”, afirmou. 

“FOI DEUS”
Bem perto do lama�al do Parque da Cachoeira estava Cl�udio Pereira dos Santos, de 32, solteiro, que escapou milagrosamente de ser tragado pela onda de rejeitos. “Foi Deus”, resumiu, sobre os segundos que viveu no in�cio de tarde da �ltima sexta-feira de janeiro. Funcion�rio da Vale e com fun��es na portaria da unidade desde 2007, estava na sua sala quando recebeu uma mensagem da sobrinha, pelo WhatsApp, �s 12h24. “Fiz o cadastramento da �ltima nota fiscal e fui ao banheiro. O rompimento da barragem se deu �s 12h28.”

A primeira sensa��o, conta Cl�udio, foi de ouvir pneus estourando. Na sequ�ncia, na volta do banheiro, tomou p� da situa��o e saiu por uma janela em dire��o � mata. Como tinha conhecimento da regi�o, correu o que p�de at� ficar seguro. “Estou recebendo todo apoio da Vale, n�o posso reclamar. Estou sendo acompanhado por psic�logos e tomando rem�dios para dormir. Acho que ainda vai demorar um tempo para voltar ao trabalho”, afirmou Cl�udio, certo de que lugar diante de seus olhos virou um cemit�rio. “Acabou”, lamenta.

Várias pessoas se concentram em ponto no qual policiais militares montaram bloqueio(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
V�rias pessoas se concentram em ponto no qual policiais militares montaram bloqueio (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


VISITANTES PARAM EM BARREIRA Pelos caminhos que levam � mancha de lama que tomou conta de parte do munic�pio, tem sido quase uma invers�o do ditado: o que o cora��o sentiu, os olhos agora querem ver. Ver para crer no tamanho da cat�strofe. N�o foram poucos os moradores da Grande Belo Horizonte que aproveitaram o fim de semana para visitar Brumadinho e tentar chegar pr�ximo ao rastro de destrui��o provocado pelo rompimento da Barragem 1 da Mina C�rrego do Feij�o, da Vale.

“� a maior trag�dia do pa�s. Maior do que a da Boate Kiss, do que a do avi�o... Superou todas”, diz Gilberto da Silva, de 40 anos, que saiu de Betim com a filha e a esposa para tentar enxergar o tamanho do desastre. At� agora, 121 pessoas morreram e 212 est�o desaparecidas. Iv�nia da Silva, tamb�m de 40, quis ver com os pr�prios olhos a devasta��o causada pelos 12 milh�es de metros c�bicos de barro. “A gente v� na TV e parece n�o acreditar que � t�o perto da gente”, diz.

O isolamento montado pela Pol�cia Militar pr�ximo � “zona quente”, onde as buscas pelas v�timas est�o se concentrando, impediu o acesso de muitos curiosos, que tamb�m procuraram pontos mais altos para contemplar o mar de lama. Mas, mesmo quem ficou na barreira policial aproveitou para fazer selfies, fotografar e filmar a regi�o e as aeronaves que, a todo momento, cortam o c�u de Brumadinho no intermin�vel trabalho de resgate de corpos.

� tanta gente que moradores como Walisson Marcelino, de 37, do Parque da Cachoeira, n�o aguentam mais. “Tem muito curioso. Gente entrando no fundo da casa. Ningu�m tem mais sossego, n�o”, refor�a.

Antes destino tur�stico por causa da natureza buc�lica e do Instituto Inhotim, maior museu a c�u aberto do mundo,  Brumadinho agora tem atra�do visitantes que querem matar a curiosidade, oferecer ajuda ou at� se aventurar por �reas consideradas de risco pelas autoridades.

Corretor de seguros especializado em meio ambiente, Wilson Costa foi a Brumadinho para ampliar a bagagem profissional. “Trabalho justamente com risco ambiental”, justifica. Terminou a empreitada sem sucesso, na estrada de Alberto Flores, interditada para retirada de rejeitos.

O trio de ciclistas Adriano Andrade, de 49 anos, Vin�cius Andrade, de 18, e Henrique Andrade, de 15, pai e filhos, decidiram encarar a ida a Brumadinho como uma aventura. Eles sa�ram de Sarzedo e iam pedalar at� Casa Branca. “Estava acostumado a fazer esse trajeto, passando pela mineradora e por debaixo da ponte que caiu. Quero ver se o caminho ainda existe”, conta Vin�cius. 

AJUDA 
Muita gente tamb�m chegou ao munic�pio com bra�os abertos para ajudar. “Queremos sentir esse contato com a realidade. A gente quer ajudar, nem que seja para separar mantimentos”, comenta a dentista Isabel Gradisse, de 28. A professora Adriana Coury, de 45, moradora de Betim, passou pela regi�o uma semana antes da trag�dia. “ Viemos h� poucos dias aqui de moto para visitar o Inhotim. O sentimento � de querer ajudar, nem que seja fazendo uma ora��o “, comenta. Ela estava acompanhada do marido e de um casal de amigos. O grupo trouxe rem�dios calmantes para doa��o e aproveitou para tentar avistar parte da destrui��o.


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