O relat�rio da consultoria alem� T�v S�d, que atestou a estabilidade da barragem que rompeu em Brumadinho (MG), mostra que a base da estrutura estava no limite de seguran�a previsto pelas normas do Pa�s. Em visita a campo, a equipe encontrou 15 pontos que exigiriam aten��o, como necessidade de um novo radar e medidores de press�o na estrutura. O documento foi conclu�do em agosto de 2018. A Vale disse que fazia inspe��es constantes - a �ltima em 22 de janeiro, tr�s dias antes do colapso.
O documento foi apresentado pelo advogado Augusto de Arruda Botelho, que defende os dois t�cnicos da empresa presos pela investiga��o no dia 29, o coordenador do projeto, Makoto Namba, e o consultor em geot�cnica, Andr� Jum. Mostra que os profissionais fizeram uma s�rie de recomenda��es � Vale sobre a barragem, mas atestaram a seguran�a.
Na semana passada, a Justi�a decretou a pris�o tempor�ria por 30 dias de Namba e Jum por suspeita de homic�dio qualificado, crime ambiental e falsidade ideol�gica. Tr�s funcion�rios da Vale - C�sar Augusto Grandchamp, Ricardo de Oliveira e Rodrigo Arthur Melo - tamb�m foram detidos. O documento de 265 p�ginas, elaborado com base em informa��es fornecidas pela Vale, an�lises t�cnicas e vistorias de campo, indica que a apresenta��o inicial aconteceu em novembro de 2017. A partir da�, foram feitas reinterpreta��es de ensaios, inclus�o de medidas e revis�o de dados entre maio e agosto de 2018.
O material mostra que a estabilidade do alteamento estava no limite de seguran�a pelas regras do Pa�s para estruturas desse tipo. Em uma escala onde o fator m�nimo de seguran�a � 1,50, a base da barragem foi registrada como de fator 1,60. "O desempenho se encontra adequado, atendendo �s exig�ncias das normas brasileiras", afirma a consultoria.
Entre as medidas recomendadas estavam a instala��o de novo radar para monitorar deslocamentos em frente � barragem - que poderia ter garantido o acionamento das sirenes. Outra sugest�o era implementar um conjunto adicional de medidores de press�o (os piez�metros) em "locais estrat�gicos". Al�m disso, recomendam um conjunto de obras de conten��o. Apesar de todas as indica��es, a T�v S�d atestou a seguran�a da barragem.
Tamb�m estavam entre as recomenda��es revisar a drenagem e recompor a eros�o superficial entre dois alteamentos e adequar a cobertura vegetal em locais deficientes. Apesar disso, apontava essa eros�o como restrita, sem possibilidade de comprometer a estrutura.
O relat�rio tamb�m destaca que a Vale n�o forneceu informa��es completas � consultoria. A barragem come�ou a ser constru�da em 1976 e recebeu dez alteamentos sucessivos de 1982 a 2013. Os t�cnicos da consultoria receberam informa��es sobre os alteamentos feitos s� a partir de 2003, quando a Vale assumiu a estrutura, que antes pertencia � Ferteco.
"Grande parte da informa��o oferecida se refere aos �ltimos alteamentos, sendo que para o dique de partida e os alteamentos iniciais as informa��es dispon�veis n�o s�o confi�veis ou inexistem, em especial no que diz respeito aos sistemas de drenagem interna e caracteriza��o f�sica e mec�nica dos materiais", aponta o relat�rio, na p�gina 84.
"Queremos mostrar que a pris�o deles � ilegal e desnecess�ria, tomada com base em elementos pr�vios e incompletos. Os dois t�cnicos fizeram um trabalho extenso, de acordo com as normas internacionais", diz o advogado de Namba e Jum, fundadores da consultoria no Brasil, vendida para o grupo alem�o h� cerca de cinco anos.
Nesta segunda-feira, 4, os cinco presos pelo desastre de Brumadinho entraram com pedido de Habeas Corpus no Superior Tribunal de Justi�a (STJ). O Tribunal de Justi�a de Minas negou liberdade a eles nesse fim de semana.
Procurada, a Vale informou que a barragem tinha todas as declara��es de estabilidade aplic�veis e passava por constantes auditorias externas e independentes. Havia inspe��es quinzenais, reportadas � Ag�ncia Nacional de Minera��o (ANM), sendo a �ltima de 21 de dezembro de 2018.
Conforme a mineradora, a estrutura passou tamb�m por inspe��es em 8 e 22 de janeiro e as provid�ncias t�cnicas recomendadas v�m sendo normalmente executadas. A mina, diz a empresa, era monitorada por 94 piez�metros e 41 INAs (Indicador de N�vel D'�gua). As informa��es dos instrumentos eram coletadas periodicamente e os dados, analisados pelos geot�cnicos respons�veis. Dos 94 piez�metros, 46 eram automatizados.
A companhia frisou que n�o tem nenhuma barragem no Pa�s com n�vel alto de risco, conforme as determina��es da ANM.

�gua
A Vale ainda informou nesta segunda que duas membranas de conten��o de rejeito instaladas no Rio Paraopeba j� est�o em opera��o. Elas foram colocadas para proteger o sistema de capta��o de �gua em Par� de Minas, que fica a cerca de 40 quil�metros de Brumadinho. As membranas t�m 30 metros de comprimento e at� 3 metros de profundidade. Funcionam como um tecido filtrante, evitando a dispers�o das part�culas s�lidas, como argila e mat�ria org�nica. A turbidez da �gua no local tem preocupado especialistas.
Suspens�o
A T�v S�d, empresa que atestou a estabilidade da barragem, j� foi suspensa pela Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) de trabalhos no setor ambiental. Minutas de reuni�o em mar�o de 2010, obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, revelam que ela n�o atendeu a requisitos b�sicos e teve de fazer corre��es para voltar a atuar nos projetos internacionais.
Em reuni�o de 26 de mar�o de 2010, em Bonn, o Conselho do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto "suspendeu a entidade operacional designada, T�v S�d Industrie Service GmbH (T�V S�D)" da "valida��o de projetos e verifica��o de redu��o de emiss�es".
Dois foram os fatores que pesaram. Um deles foi o fato de haver "opini�o positiva de valida��o", mesmo quando havia preocupa��o sobre o projeto. O conselho da ONU ainda indicou que essa situa��o "coloca em d�vida" a habilidade da empresa dar "opini�o s�lida que n�o fosse influenciada por press�es indevidas".
Outro problema teria sido a falta de experi�ncia suficiente de parte de seus funcion�rios. Alguns meses depois, a empresa recuperou o credenciamento.
A T�V S�D se limitou a dizer que est� "profundamente afetada" pelo caso de Brumadinho. Relatou ter feito duas avalia��es em nome da Vale em 2018. Tamb�m indicou que os dois funcion�rios que foram presos eram "especialistas reconhecidos" e disse estar colaborando com as autoridades.