
Brumadinho – “No dia em que a barragem arrebentou, os bombeiros e policiais vieram at� as casas pedindo para as pessoas sa�rem. Eu fiquei quieta, fiquei escondida aqui. Estava presa na minha pr�pria casa, parecia que eu era uma bandida fugitiva.” Josefa Evangelista Braga, de 38 anos, felizmente n�o chora a perda de familiares na trag�dia provocada pelo rompimento da represa de rejeitos da Vale, mas perdeu a liberdade e a tranquilidade de viver em C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Ela se mudou para a cidade nos anos 2000, com o intuito de fugir do aluguel em Itabirito (na Regi�o Central). Hoje, est� em uma das duas casas ainda ocupadas da rua onde vive, com tr�s filhos e o marido, a cerca de 50 metros de onde a onda de rejeitos carregou o que encontrava pela frente. Os demais vizinhos esperam os trabalhos de �rg�os de Defesa Civil do estado e de Brumadinho, que vistoriam im�veis para emitir laudos de seguran�a. Mas nem os que forem liberados poder�o ser reocupados, j� que isso ainda depender� da elabora��o de um novo plano de emerg�ncia pela mineradora, atrasando ainda mais o sonho da retomada da rotina.
At� quando, ningu�m sabe. At� porque a volta depende, al�m da Vale, de avalia��es de resgatistas e policiais militares. “Hoje, na reuni�o do gabinete de crise, ficou acertado que a Pol�cia Militar, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros precisam autorizar a volta ao local, pois h� alguns riscos”, explicou o representante da Cedec. Segundo ele, a Vale precisa repassar qual a situa��o da represa que resiste na Mina C�rrego do Feij�o e apresentar um novo plano de emerg�ncia em caso de novo acidente. Al�m disso, nas �reas em que bombeiros ainda fazem buscas por v�timas, � preciso avaliar se o retorno trar� impactos para o trabalho. Finalmente, como a PM faz vigil�ncia para evitar saques em locais que foram evacuados, n�o ser� poss�vel liberar o acesso a apenas alguns dos im�veis, o que dificultaria o controle.
“N�o tem como prever quando vai acontecer o retorno para as casas. Estamos sendo cautelosos: nosso maior medo � permitir a volta dessas pessoas e precisar retir�-las novamente por algum motivo. Se � para voltar, que seja em definitivo”, acrescentou o capit�o. Ele adianta que o novo plano de a��o da Vale considera que um eventual rompimento atingiria o mesmo trajeto feito pela lama – com pequenas altera��es. “Acreditamos que quem n�o foi afetado da primeira vez n�o estar� suscet�vel”, informou.
Entretanto, quase toda a rua de Josefa foi esvaziada, e assim continua. Apenas ela e o operador de m�quinas Wagner Rog�rio, de 43, continuavam l� at� a tarde de ontem. “A Vale ofereceu hotel para n�s, mas eu n�o tenho interesse. � minha casa, meu investimento e daqui eu n�o saio. A Defesa Civil veio a nossa casa no �ltimo s�bado. Eles fizeram vistoria e medi��o, e disseram que estamos em uma �rea de risco”, contou a moradora. Com o impacto da lama, o muro rachou. Na casa, nada foi afetado, pelo menos visualmente. Mas, eles t�m medo dos riscos a longo prazo: “Quando o tsunami chegou, a terra tremeu.”
O desastre deixou um rastro de 169 mortes comprovadas, mas o total de v�timas pode passar de 300. Isso porque 141 pessoas continuam desaparecidas na lama. Josefa, com seus parentes correram em dire��o a um ponto alto da cidade e conseguiram se salvar.
Itabira ter� visitas a 5,2 mil moradias
Depois das trag�dias em Mariana (2015) e em Brumadinho, Itabira, na Regi�o Central do estado, se mobiliza para garantir a seguran�a de 5,2 mil fam�lias. A partir do dia 27, em parceria com a Defesa Civil Municipal, a mineradora Vale promete desenvolver um trabalho de “porta em porta” a fim orientar moradores sobre como agir durante em um eventual rompimento de barragens de rejeitos. A informa��o foi divulgada ontem pelo gerente-executivo do Complexo Itabira e �gua Limpa, Rodrigo Chaves, em reuni�o ordin�ria do Legislativo que lotou o plen�rio e terminou com duas pessoas conduzidas � delegacia por “desacato” aos vereadores, como explicou o presidente da C�mara, Heraldo Noronha Rodrigues (PTB). O munic�pio tem 15 barragens cadastradas na Ag�ncia Nacional de Minera��o (ANM), das quais cinco pr�ximas de n�cleos urbanos, e tem estruturas entre as maiores do pa�s, como a de Itabiri�u, que junto das de Pontal, Rio de Peixe e Concei��o totaliza 401 milh�es de metros c�bicos de rejeitos.