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Estado de Minas

Casa de JK, em Diamantina, fecha as portas por problemas financeiros

Funcionando a duras penas nos �ltimos anos por causa da falta de repasse de verbas de conv�nios pelo governo do estado, im�vel onde viveu o ex-presidente encerra seu marco na hist�ria


postado em 21/02/2019 06:00 / atualizado em 21/02/2019 12:04

Depois de 35 anos recebendo grande fluxo de turistas, monumento do Brasil sai de cena (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 22/1/19)
Depois de 35 anos recebendo grande fluxo de turistas, monumento do Brasil sai de cena (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 22/1/19)


Diamantina – Grande perda para a cultura de Minas, a mem�ria do pa�s e o lazer de moradores e visitantes. Depois de 35 anos em funcionamento, a Casa de Juscelino, no Centro Hist�rico de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, vai fechar as portas amanh�. O im�vel hist�rico guarda parte da hist�ria de Juscelino Kubitschek (1902-1976), ex- presidente do Brasil (1956-1961), ex-governador do estado (1951-1955) e ex-prefeito de Belo Horizonte (1940-1945). “A situa��o aqui est� cr�tica. Funcionamos a duras penas. Al�m do atraso no repasse de verbas pelo governo do estado, tivemos o nome bloqueado no Sistema Integrado de Administra��o Financeira de Minas Gerias (Siafi), pela Secretaria de Estado da Cultura (SEC), o que nos impede de receber verbas de conv�nios”, lamenta Serafim Jardim, presidente da entidade sem fins lucrativos que administra o monumento, localizado na Rua S�o Francisco, 241, no Centro Hist�rico da cidade, reconhecida como patrim�nio da humanidade.

Declarando-se sem alternativas, Jardim ajuizou, no m�s passado, a��o na Vara da Fazenda P�blica Estadual da comarca de Belo Horizonte, para que fosse determinado o desbloqueio da Casa de Juscelino, constru��o de mais de 150 anos com muito para se ver e curtir no museu, biblioteca, bar e pra�a de eventos. “Os preju�zos s�o grandes, estamos numa luta de d�cadas. Temos um projeto aprovado pela Lei Rouanet para manter o funcionamento, mas n�o podemos receber os recursos devido a essa situa��o”, afirma, com indigna��o, o homem que foi amigo de JK durante 9 anos, desde o retorno do ex-presidente do ex�lio na Europa, e sempre orgulhoso da intimidade com o conterr�neo ilustre. “Alguns at� me chamavam de ‘secret�rio’”, lembra o autor do livro Juscelino Kubitschek – Onde est� a verdade?, sobre a morte misteriosa do presidente, num acidente de carro na Via Dutra, em Resende (RJ), em 22 de agosto de 1976.

O movimento no casar�o sempre foi constante e o entra e sai de turistas no equipamento cultural prestes a fechar deixa Jardim, de 84 anos, com uma ponta de satisfa��o em meio � decep��o com as autoridades. “Em janeiro, recebemos cerca de 1 mil visitantes. S� numa manh�, foram mais de 50 pessoas”, revela, com a certeza de quem cuida de um patrim�nio �nico. “A Casa de Juscelino exerce a fun��o p�blica de manter �ntegro e preservado o rico acervo sobre a vida de JK, a quem Minas e o Brasil devem tanto. Nesse sentido, as leis estaduais reconhecem isso por meio do financiamento p�blico da institui��o, que � uma sociedade civil sem fins lucrativos.”

"Minha sogra estudou aqui em Diamantina, quando jovem, e disse que n�o poder�amos deixar de vir" - M�rio Dias, engenheiro, de Uberl�ndia, com a mulher, Vanessa Amorim, e os filhos Guilherme e Mariana (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 22/1/19)


De posse de uma s�rie de documentos, o conterr�neo de JK relata os problemas que se agravaram a partir de 2013, culminando em 2017, quando o governo estadual ficou 22 meses sem fazer os repasses de verbas, no valor anual de R$ 140 mil. A SEC celebra o Termo de Fomento com in�meras casas culturais, institutos e museus em Minas, e um desses compromissos se refere � institui��o em Diamantina. Para evitar o pior, ele pediu ajuda ao vice-governador, Paulo Brant, “natural de Diamantina pela merc� de Deus”. No dia 15, Brant visitou a Casa de Juscelino e pediu a Serafim para procurar o rec�m-nomeado secret�rio de Estado da Cultura, Marcelo Matte – o que foi feito, embora ainda sem resposta.

“O atraso gerou a quebra do fluxo de caixa, sendo que, no ano passado, ao serem liberados os recursos, n�o foi poss�vel seguir nosso plano de trabalho”, revela Jardim. Diante da alega��o do governo anterior de que havia pend�ncias na presta��o de contas de 2012, ele se defende: “Houve uma indevida an�lise extempor�nea da presta��o de contas, mas foi esclarecida. Por isso, essa quest�o foi objeto de processo judicial, a fim de resgatar a capacidade da Casa de Juscelino, para receber recursos p�blicos indispens�veis para a fun��o relevante que, a duras penas, executa”.

QUARTO DO PRESIDENTE Pintada de branco, com janelas e portas azuis, aonde se chega subindo uma ladeira pavimentada com pedras capistranas, t�picas de Diamantina, a Casa de Juscelino est� bem conservada. E sempre em movimento, com grupos de seresta se apresentando no interior e na cal�ada. Para abrigar todo o acervo, est� dividida em duas partes, interligadas pela Pra�a Seresteiro Boanerges Meira. Nesse espa�o, fica uma jabuticabeira, na qual o menino Non�, apelido de inf�ncia de JK, se deliciava com a fruta preferida. Com o tempo, a �rvore morreu e, para n�o ficar na saudade, Jardim decidiu conservar o tronco, o qual foi envernizado, em vez de substitu�-la por outra. Ficou parecendo uma escultura.

Serafim explica que JK nasceu na Rua Direita, 106, e morou na casa que hoje leva seu nome dos 3 anos aos 19. Para Jardim, preservar a casa � mais do que uma miss�o, pois, 13 dias antes de morrer, JK lhe pediu que comprasse o im�vel, ent�o em poder de uma fam�lia, e zelasse por ele. O visitante pode ver o pequeno quarto onde JK dormia na inf�ncia e uma foto de quando ele, j� adulto, a revisitou e sentou na cama. Na parede, foi instalado um quadro com uma frase pin�ada de seus escritos: “Meu quarto era acanhado. N�o comportava mais que a cama, uma min�scula mesa, feita em caixote, com a respectiva cadeira arranjada n�o sei onde. E a�, de fato, �s seis horas da manh�, eu come�ava a estudar”.

Perto dali, h� um arm�rio, sem um prego, s� com encaixes, doado pela ex-primeira dama Sarah Kubitschek (1909-1996) e feito pelo bisav� de JK, o marceneiro Jan Nepomusky Kubitschek, conhecido como Jo�o Alem�o e natural da regi�o da Bo�mia, na Rep�blica Tcheca. Em outras partes da resid�ncia h�, nas paredes, desenhos a l�pis, do arquiteto modernista e urbanista L�cio Costa (1902-1998), datados de 1924, e outros com esbo�os de Bras�lia. Chamam a aten��o o belo retrato da m�e, a professora J�lia Kubitschek (1873-1971) e a cozinha com o fog�o a lenha e utens�lios dom�sticos. “As pessoas entram no quarto de Juscelino e ficam muito tempo sentadas na cama. Algumas ficam comovidas”, conta Jardim. No casar�o, trabalham cinco funcion�rios, e o pagamento em dia eleva as preocupa��es de Serafim, “e, muitas vezes, n�o tive como pag�-los, sendo obrigado a fazer vales”.
Imposs�vel n�o destacar a import�ncia do monumento. Um giro pela casa permite descobertas. No anexo, nos fundos, constru�do em 1994, est� o primeiro consult�rio de JK, formado na Faculdade de Medicina da UFMG em 1927, na capital. Num canto, um aparelho de anestesia, de 1930, doado por um particular de S�o Paulo; no outro, o equipamento para eletrocardiograma, do mesmo ano; e, pendurado, um jaleco branco. Na sala ao lado, estudantes e pesquisadores t�m espa�o para estudar em obras doadas pela ex-primeira-dama.

Na biblioteca, pode ser visto ainda um retrato de JK, a �leo, pintado por Di Cavalcanti (1897-1976), que apresenta uma curiosidade. “A obra foi feita em 1952, quando Juscelino ainda era governador de Minas. Mas ele j� traz, no peito, a faixa de presidente da Rep�blica, o que soa como premoni��o”, diz Jardim. O quadro foi doado � institui��o em 2001 pelos irm�os Walduck Wanderley e Saulo Wanderley e por Sinval de Moraes.

NOTAS ESCOLARES De f�rias, o designer Wagner Campelo, morador do Rio de Janeiro, diz que gosta de conhecer as cidades coloniais mineiras e elogiou a preserva��o do im�vel. “� muita boa a disposi��o dos ambientes, um patrim�nio a ser mantido.” Na volta da viagem a Porto Seguro (BA) para Uberl�ndia, na regi�o do Tri�ngulo, uma fam�lia fez quest�o de percorrer com bastante calma a Casa de Juscelino. “Minha sogra estudou aqui em Diamantina, quando jovem, e disse que n�o poder�amos deixar de vir”, revelou M�rio Dias Maur�cio Neto, engenheiro civil, ao lado da mulher, Vanessa Amorim Maur�cio, e dos filhos Guilherme, de 14, e Mariana, de 8.

Curiosos, Guilherme e Mariana se surpreenderam diante da vitrine com as notas escolares do menino Non�. “Olha s� o que eles est�o olhando: as notas baixas de Juscelino”, brincou Vanessa, lembrando que essa parte n�o era exemplo para estudantes. Perto dali, Serafim explicou que se tratava de uma prova de �lgebra. Vanessa contou que a m�e dela, Maria do Carmo Amorim, costumava se sentar com os colegas na porta do casar�o e cantar. “Ela fala sempre com muito carinho desta cidade.”

Em resposta, a assessoria da vice-governadoria informa que “em 2014, 2015 e 2016 foram assinados outros instrumentos jur�dicos e efetuados os repasses, sendo que se encontra vigente o termo de fomento referente ao per�odo de 2017/2018 at� 22/3/2019”.

AMEA�AS � CULTURA A amea�a de fechamento de museus mineiros – primeiro o de Cabangu, em Santos Dumont, na Zona da Mata, e agora o de Sant’Ana, em Tiradentes, no Campo das Vertentes, e o do Orat�rio, em Ouro Preto, na Regi�o Central – aumentou a preocupa��o na Casa de Juscelino, no Centro Hist�rico de Dimantina, no Vale do Jequitinhonha. Mantido por tr�s institui��es – Escola Preparat�ria de Cadetes do Ar (Epcar), Funda��o Casa de Cabangu e Prefeitura de Santos Dumont, o Museu de Cabangu ficou dois dias fechado, voltando a funcionar em 16 de janeiro. Em nota, a prefeitura, que mant�m conv�nio para pagamento de subven��o mensal de R$ 12,6 mil, informa que foram feitos os repasses no valor de R$ 50,4 mil e depois de R$ 38,2 mil. E mais: existe a possibilidade de inclus�o do Instituto Federal (Ifet) de Santos Dumont no pr�ximo conv�nio, por oferecer cursos de turismo e hist�ria, elaborar projetos e explorar o museu para melhor comodidade dos visitantes. Na antiga Fazenda Cabangu nasceu Santos Dumont (1873-1932), chamado de Pai da Avia��o.


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