
No cen�rio da expans�o urbana de Belo Horizonte, a maior fronteira que pressiona a ocupa��o de �reas inabitadas n�o est� exatamente dentro da capital mineira, mas nos seus limites com a vizinha Nova Lima.
O munic�pio abriga a extens�o da Zona Sul de BH, uma �rea formada por bairros como Vila da Serra e Vale do Sereno, que est�o praticamente interligados com a capital e s�o cada vez mais procurados por quem est� atr�s de apartamentos de luxo.
Basta tirar alguns minutos para rodar pela regi�o e perceber a quantidade de constru��es que despontam pelas montanhas de bairros como Vila da Serra, Vale do Sereno, Jardim da Torre, Jardim das Mangabeiras, Jardinaves e Alto Belvedere, este �ltimo que tamb�m fica em Nova Lima, apesar do nome que lembra o vizinho de BH.
No caso do Vila da Serra, a urbaniza��o da regi�o nos �ltimos anos praticamente tornou um s� o conjunto formado pela parte oficialmente em Nova Lima e pelo Belvedere, este que faz parte de BH. O que os divide � uma linha f�rrea. Esse ramal ferrovi�rio �, inclusive, palco de disputa entre a Prefeitura de Nova Lima e associa��es de moradores da regi�o que defendem a implanta��o de um parque linear na �rea. A op��o serviria para viabilizar uma �rea de lazer que � uma car�ncia da popula��o local e frear a especula��o. Por outro lado, a Prefeitura de Nova Lima pensa na ferrovia como a possibilidade de implantar uma Via Estruturante, op��o vi�ria � MG-030 que levaria ao Centro da cidade e atacaria problemas de mobilidade da regi�o.

Em uma pesquisa pela internet � poss�vel ter indicativos desse potencial. Hoje o site da Construtora Cowan se encontra fora do ar para reformula��o, mas enquanto ainda estava dispon�vel trazia informa��es sobre a Fazenda Ana da Cruz, �rea rural com 1.250 hectares, maior que o per�metro da Avenida do Contorno, “com grande potencial imobili�rio”.
PREOCUPA��O
Para Gonzaga, passou da hora de Nova Lima revisar seu Plano Diretor adotando restri��o no potencial construtivo dessas �reas. “A gente precisa modificar o potencial construtivo da regi�o. N�o � inviabilizar, n�o � isso que queremos, mas tem que ser racional. Praticamente 90% das pessoas que est�o aqui (Vila da Serra e regi�o) trabalham em BH. Nova Lima tem que ter um crescimento org�nico, ou seja, tem que absorver o pr�prio crescimento dela”, afirma.
A preocupa��o gerada pela especula��o imobili�ria esteve na pauta de Belo Horizonte, bem perto dos limites com Nova Lima, mas ainda dentro do territ�rio da capital mineira, h� duas semanas. Uma �rea usada durante anos pela Minera��o Lagoa Seca, atr�s da Vila Acaba Mundo, gerou rea��o da popula��o do Bairro Belvedere, na Regi�o Centro-Sul de BH, pelo que moradores da regi�o disseram se tratar de uma manobra para abrir espa�o para um novo bairro, o Belvedere 4.

A empresa Ind�stria de Madeira Imunizada Ltda (IMA), hoje respons�vel pela �rea minerada durante anos, tentou aprovar no Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) um projeto de recupera��o ambiental da regi�o que exclu�a uma parte do terreno, chamada de Pilha C. A popula��o denunciou que j� havia projeto pronto para constru��o de 1,5 mil apartamentos de luxo nessa �rea, mas o Comam obrigou a empresa a recuperar todo o territ�rio exaurido pela minera��o, fechando a porta para a evolu��o de um prov�vel projeto imobili�rio.
Em nota, a Prefeitura de Nova Lima informou que o adensamento populacional na regi�o citada pela reportagem vem acontecendo h� alguns anos, mas aprova��es de projeto sempre ocorrem em conformidade com a legisla��o municipal vigente. O Plano Diretor define expans�es e restri��es imobili�rias, n�o somente nas localidades citadas, mas em todo o territ�rio de Nova Lima, segundo a nota. A prefeitura informou ainda que a previs�o � encaminhar a revis�o do Plano Diretor para a C�mara Municipal da cidade em 2020, momento em que estar�o definidas quais ser�o as novas regras de adensamento.
Corredor ecol�gico estrangulado
A preocupa��o com o adensamento de Nova Lima nos limites com Belo Horizonte n�o se restringe apenas aos impactos gerados do ponto de vista urbano. Um dos maiores gargalos do aumento das constru��es desenfreadas � com o meio ambiente. Segundo ambientalistas, Nova Lima abriga uma grande �rea verde respons�vel pela recarga de mananciais importantes para o abastecimento de boa parte da Grande BH. � em Nova Lima, inclusive, que est� instalada a capta��o de Bela Fama, da Copasa, que retira �gua do Rio das Velhas necess�ria para abastecer 50% da popula��o que habita a regi�o metropolitana.
Essas caracter�sticas s�o suficientes para impor, por si s�, restri��es no adensamento de �reas verdes de regi�es lim�trofes com Belo Horizonte, como o Bairro Vila da Serra e adjac�ncias, na opini�o do ambientalista Manoel Augusto Caillaux, presidente da Associa��o para Prote��o Ambiental do Vale do Mutuca (ProMutuca). “Essa especula��o imobili�ria est� estrangulando o �nico corredor ecol�gico ainda bem configurado na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte que � o Vale do Mutuca. A fun��o de um corredor ecol�gico � interligar biomas e preservar esp�cies. No caso do Vale do Mutuca, o corredor contribui para interligar as bacias do Rio das Velhas e do Rio Paraopeba”, afirma Caillaux.
Ele tamb�m acrescenta que outro ponto importante � a oferta h�drica da regi�o. “Ningu�m at� hoje fez o balan�o sobre o deficit h�drico para os pr�ximos cinco anos na Grande BH. Esse balan�o � de suma import�ncia para verificar a possibilidade de abastecimento de BH pela capta��o de Bela Fama no futuro”, afirma.
� justamente essa quest�o que preocupa muito o presidente do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio das Velhas, Marcus Vin�cius Polignano. “A cidade demanda recursos e um dos essenciais � �gua. Nesse ponto, a atual situa��o preocupa demais porque estamos falando do Sinclinal Moeda, nossa maior �rea de produ��o de �gua para a Grande BH. A ocupa��o dessas �reas do Sinclinal tem dois problemas: um deles � o comprometimento da recarga. O outro � que quando voc� come�a a drenar a �gua na regi�o de cima, vai faltar embaixo e vai ter problema no uso da �gua”, diz.
O ambientalista diz ainda que a �nica sa�da � a cria��o de um pacto para preserva��o de mananciais e manuten��o de �reas de recarga, al�m de outras a��es importantes, sob o risco de problemas graves no futuro. “Se continuarmos com esse processo insano de adensamento, vamos pagar pre�o muito caro de n�o ter recarga h�drica nas bacias que mant�m a capital. J� lembrando que Rio Paraopeba se encontra comprometido pelo desastre da Vale e o Rio das Velhas com problemas cada vez mais cr�ticos de falta de �gua quando chega no meio do ano para frente”, completa.
