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Estado de Minas

A luta de Talita: como est� a v�tima mostrada no dram�tico resgate em Brumadinho

Salva em uma das mais dram�ticas cenas de resgate em Brumadinho, �ltima v�tima internada se recupera de fraturas graves e se torna esperan�a para fam�lia marcada pela trag�dia da Vale


postado em 24/03/2019 06:00 / atualizado em 24/03/2019 10:37

(foto: Reprodução/ TV Record e Arquivo pessoal)
(foto: Reprodu��o/ TV Record e Arquivo pessoal)

 

A dimens�o da cat�strofe provocada pela Vale ap�s o rompimento da Barragem 1 da Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, faz com que olhos do Brasil e do mundo ainda se voltem para a enorme mancha de lama, no meio da qual se mant�m buscas incans�veis por 93 desaparecidos. Mas, na v�spera de a trag�dia completar dois meses, chama a aten��o uma outra batalha, esta silenciosa e invis�vel para a maioria das pessoas, travada a 35 quil�metros do local onde mais de 300 pessoas tiveram os sonhos interrompidos em quest�o de minutos pela avalanche de rejeitos. Salva do meio do lama�al e internada desde 25 de janeiro, Talita Cristina Oliveira de Souza, de 15 anos, �ltima pessoa resgatada com vida ainda hospitalizada, come�a enfim a dar os primeiros passos, depois de cirurgias complexas para corrigir fraturas no quadril e no f�mur. Com apoio de um andador, a adolescente protagoniza uma verdadeira batalha pela vida, que ainda depende do tratamento contra infec��es causadas por bact�rias consideradas muito resistentes, segundo familiares.

Talita protagonizou uma das mais dram�ticas cenas p�s-trag�dia, ao ser arrancada do p�ntano de rejeitos por uma dupla de volunt�rios e i�ada para um helic�ptero dos Bombeiros que voava poucos cent�metros acima do atoleiro. Vencido o primeiro round da luta pela vida, come�ava naquele momento outro desafio, este ainda em andamento. Uma das pessoas que acompanham diariamente como a adolescente vem enfrentando e vencendo as batalhas no Hospital Mater Dei, em Betim, tamb�m na Grande BH, � o cunhado da jovem, que, na verdade, era como um segundo pai para Talita e agora assumiu de vez a fun��o. Jos� Ant�nio Soares Pereira, de 46 anos, � casado com Alessandra Paulista de Souza, de 43, irm� de Talita, que tamb�m ficou ferida no desastre, mas j� recebeu alta. O casal assumiu a cria��o da jovem desde que a m�e, v�tima de c�ncer, faleceu em V�rzea da Palma, cidade natal da fam�lia, no Norte de Minas, no fim do ano passado.

Z�, como � conhecido, e Alessandra carregam outras cicatrizes ainda mais profundas do desastre, no qual perderam a filha biol�gica. Lays Gabrielle de Souza Soares, 14 anos, foi uma das 212 pessoas retiradas da lama sem vida. “Elas foram criadas como irm�s. A diferen�a de idade � de um ano. A Talita ficou muito abalada com a situa��o e sofre junto com a gente. Ainda chora bastante com tudo o que aconteceu”, conta o pai de Lays. A m�e dela, ainda muito abalada e traumatizada, tamb�m acompanha a recupera��o da irm�, Talita, mas n�o consegue falar sobre o assunto.

Talita estava com a irm� Alessandra e a sobrinha Lays na casa onde as tr�s moravam com Jos� Ant�nio, dentro da fazenda onde ficava a Pousada Nova Est�ncia, quando tudo aconteceu. A adolescente havia acabado de chegar do Norte de Minas para viver com os parentes em C�rrego do Feij�o. “Minha fam�lia hoje somos eu, Alessandra e Talita. Enxergo na Talita uma possibilidade de recome�o na minha vida. Ela quer viajar ao Norte de Minas para rever os colegas que tinha acabado de deixar, mas fala que onde n�s estivermos quer estar junto da gente”, acrescenta Z� Ant�nio.

Se v� na filha adotiva uma esperan�a de supera��o, Z� tamb�m guarda na mem�ria o brilho de Lays, considerada por ele uma estrela. “Era uma menina de ouro, uma menina de luz. Brincava que era uma estrela, e mesmo quando a estrela morre continua brilhando, nunca apaga. Ent�o o que vou levar � esse brilho. Tudo que estava ao meu alcance eu fiz para a minha filha. N�s �ramos uma fam�lia divina”, afirma.

Agora, o recome�o com a filha do cora��o � incerto. Afinal, a casa e a renda principal que ele e a mulher tinham estavam na Nova Est�ncia, varrida do mapa pela onda de lama. Os donos, M�rcio Mascarenhas, a esposa, Cleosane Mascarenhas, e o filho do casal, que tinha o mesmo nome do pai, tamb�m morreram. “Todo mundo fala que � para recome�ar do zero. Mas at� hoje eu ainda n�o achei meu ponto zero. Quando encontrar, a� sim vou recome�ar”, diz ele.

Per�cia e solidariedade marcaram salvamento

Jos� Ant�nio Soares Pereira era o bra�o direito do propriet�rio da Pousada Nova Est�ncia e tocava todas as quest�es relacionadas a obras e instala��es da hospedaria, na qual sua mulher, Alessandra, tamb�m trabalhava como copeira. No dia da trag�dia, ele tinha ido atender um cliente em Belo Horizonte, pois tamb�m trabalhava com a instala��o de pain�is de energia solar. Na casa em que morava com a mulher, com a filha, Lays, e com Talita, a onda de lama pegou cada uma das tr�s em um ponto.

Depois que a onda de rejeitos passou, a primeira a ser salva foi Alessandra, pelos dois homens considerados por Z� Ant�nio seus anjos da guarda. Jefferson Ferreira dos Passos e Michel Fernandes Guimar�es conseguiram ajud�-la, mas ouviram os gritos de Talita e por isso retornaram � lama. Eles procuravam tamb�m pela irm� de Jefferson, Jussara, que era funcion�ria da Nova Est�ncia e acabou morrendo.

Os dois conseguiram achar Talita e come�aram um trabalho de resgate j� com ajuda dos bombeiros. A situa��o da jovem era t�o complexa que mais alguns minutos em meio � lama seriam decisivos para seu destino. A major Karla Lessa, uma das tr�s pessoas a bordo do helic�ptero dos bombeiros que retirou Talita da lama, conta qu�o complexo foi o salvamento. Quando a aeronave chegou, Talita n�o foi visualizada imediatamente, pois quase desaparecia em meio � lama. Foi a movimenta��o de Jefferson e Michel que apontou para a militar onde estava a jovem.

“A dificuldade para fazer essa opera��o foram os obst�culos pr�ximos, o risco de algo tocar a aeronave, a proximidade da aeronave com quatro pessoas desembarcadas, a necessidade de manter a aeronave o mais est�vel poss�vel, para que a miss�o pudesse ser cumprida, e a obriga��o de manter a tranquilidade naquele ambiente in�spito, considerando a gravidade do quadro cl�nico da paciente”, conta a major. Mesmo assim, ela conduziu o Arcanjo 4 com maestria, estabilizado a cent�metros da lama enquanto o subtenente Gualberto e o sargento Welerson faziam o que era poss�vel para tirar do lama�al Talita, que era amparada por Jeferson e Michel.

Imagens desse trabalho rodaram o mundo, registradas pelo helic�ptero da TV Record. Dali, Talita seguiu para o primeiro posto montado em um campo de futebol, bem perto de onde foi resgatada, e ficou aos cuidados de uma equipe do Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu). A major Karla e seu time retornaram para buscar uma segunda v�tima, Paloma Ferreira, que tamb�m trabalhava na pousada. Quando voltaram ao ponto de apoio, Talita e Paloma seguiram de helic�ptero para o Hospital Jo�o XXIII.

Paloma j� teve alta. Talita ainda se recupera, atualmente no Hospital Mater Dei, para onde foi cinco dias depois do rompimento da barragem. “Ela � uma guerreira. Desejo for�a para superar esse per�odo de recupera��o que ela est� vivendo e que sabemos que � sofrido. Mas ela teve a oportunidade de continuar viva”, completa a major Karla, que pretende visitar a adolescente logo que ela tiver alta hospitalar.

 

"Eu n�o precisava ter perdido minha filha"

(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Qual � a situa��o cl�nica da Talita no momento?
Ela come�ou a dar os primeiros passos com a ajuda de um andador, mas para voltar a andar normalmente ainda vai depender de muita fisioterapia, e isso � mais para frente. O certo � que ela est� evoluindo bem, tornou-se quase da fam�lia dos funcion�rios do hospital e isso ajudou demais no tratamento. Mas tamb�m vai ter que tomar antibi�ticos por um longo per�odo, porque pegou infec��es de bact�rias muito resistentes.

Voc� receberam amparo da Vale para lidar com essa situa��o?
Recebemos os valores de doa��o pela perda de nossa filha e pela casa que perdemos, mas a remunera��o que t�nhamos pelos empregos na pousada, que chegava a R$ 6 mil somando os nossos ganhos, acabou. A Vale fala em um sal�rio m�nimo por adulto e meio para a Talita, o que vai significar R$ 2,5 mil para n�s, e isso n�o � suficiente. Eles bancaram o hotel em que ficamos hospedados. Agora estamos nos mudando para uma casa, tamb�m paga por eles, mas com uma estrutura muito abaixo da que eu tinha na minha casa. Quando pedimos algo nesse sentido, eles dizem que fizeram as doa��es, mas eu penso que doa��o � para usar do jeito que eu quiser. Fazemos ainda acompanhamento semanal com psic�logo e minha esposa tamb�m est� acompanhando com um otorrino a evolu��o da fratura que ela teve acima do olho, por culpa deles. Temos ainda transporte para resolver essas situa��es.

Voc� acha que o rompimento da barragem foi um acidente?
Foi neglig�ncia, eles sabiam de tudo. Estiveram meses antes fazendo levantamento dos bens materiais que n�s t�nhamos, mas na hora n�o admitiam isso. Estiveram em toda aquela �rea da pousada antes da trag�dia, e n�o tomaram nenhuma medida para frear esse impacto. Isso me revolta e me deixa indignado. Eu n�o precisava ter perdido minha filha.

 


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