
O rompimento das barragens 1, 4 e 4-A do complexo da Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Grande BH, h� exatos dois meses, � o mais grave desastre humano da hist�ria da minera��o brasileira e figura entre os piores do mundo.
Contudo, nessa trag�dia que custou a vida de 212 pessoas e ainda soma 93 desaparecidos, a ruptura do reservat�rio que retinha mais de 12 milh�es de metros c�bicos (m3) de rejeitos de min�rio de ferro n�o foi exatamente uma surpresa. Mas a informa��o de que o risco era conhecido leva a uma revela��o ainda mais estarrecedora: “Existe uma esp�cie de ranking das piores barragens no setor de seguran�a e licenciamento (da Vale). C�rrego do Feij�o era a terceira pior para n�s. Nesse sentido, foi, sim, surpreendente, mas porque a situa��o de estabilidade de Vargem Grande (Nova Lima) e de Forquilha 2 (Ouro Preto) � muito mais dram�tica”.
Segundo o especialista, a pior dessas barragens no ranking interno da pr�pria Vale, Vargem Grande, � um maci�o de 35 metros de altura, que comporta 9,5 milh�es de metros c�bicos de rejeitos de min�rio de ferro na Mina de Ab�boras. No dia 20 de fevereiro, 38 fam�lias foram removidas da �rea que pode ser soterrada em caso de rompimento, a chamada zona de autossalvamento (ZAS) – assim conhecida por ficar t�o perto da estrutura que, em caso de rompimento, os atingidos t�m que contar com os pr�prios recursos para escapar, j� que n�o h� tempo para interven��o do poder p�blico.
Vargem Grande fica a cerca de um quil�metro da Rodovia BR-356, que liga Belo Horizonte a Ouro Preto. Devido ao perigo de rompimento, quatro pontos da estrada foram fechados e os ve�culos s� podem passar em esquema de siga e pare, observando sempre os trechos demarcados como seguros em caso de inunda��o.
Amea�a � �gua de BH
Como em C�rrego do Feij�o, as primeiras v�timas de uma poss�vel ruptura seriam os pr�prios funcion�rios da Vale, j� que h� in�meras estruturas t�cnicas e de pessoal na linha sob o barramento. Caso isso chegue a ocorrer, a Lagoa das Codornas seria atingida e em seguida o Rio do Peixe, respons�vel por cerca de 25% do volume d’�gua do Rio das Velhas na altura da capta��o da Grande BH de Bela Fama, em Nova Lima. Sozinho, essa estrutura responde por nada menos que 60% do abastecimento de �gua da regi�o metropolitana da capital.
A Barragem de Vargem Grande � fonte de problemas desde 2011, revela o ex-funcion�rio da Vale. Nesse per�odo, nenhuma solu��o foi alcan�ada, segundo o engenheiro, que relata um epis�dio de pr�-colapso. “Na Barragem de Vargem Grande chegamos a ter grandes eros�es no maci�o. Em 2011, o barramento quase se rompeu. Isso a Vale nem divulgou. A barragem j� estava com um processo avan�ado de trincas, vazando rejeitos. Eu estava l�. Foi uma coisa horrorosa. E n�o avisaram a ningu�m. N�o evacuaram ningu�m. S� se soube disso internamente. Contratou-se uma empresa terceirizada para fazer paliativos, e assim ficou”, conta.
Situa��o semelhante era observada nos barramentos de Forquilha, parte do Complexo da Mina de F�brica, em Ouro Preto. No entorno desse sistema, quatro fam�lias precisaram ser removidas na mesma data de Vargem Grande, devido � inseguran�a do local, um barramento de 89 metros de altura que cont�m 24 milh�es metros c�bicos de rejeitos, praticamente o dobro de C�rrego do feij�o. Tamb�m nesse complexo, as �reas administrativas e pavilh�es onde funcion�rios trabalham ficam em locais que podem ser atingidos em caso de rompimento.
“Forquilha (2) j� tinha problemas de estrutura em 2012. Problemas de instabilidade, com ravinamentos (fendas profundas no talude, estrutura de conten��o da barragem), trincas, fissuras, entupimentos de drenos. Fizeram sondagens em locais onde n�o deveriam fazer, igual ao que vinha ocorrendo em C�rrego do Feij�o”, compara. “Em n�vel de estado cr�tico, a pior era a de Vargem Grande e a segunda pior era a de Forquilha. A de C�rrego do Feij�o era a terceira. Por isso, quando se rompeu C�rrego do Feij�o, j� fiquei com medo das outras. A Vale sabendo disso tinha de ter paralisado (as opera��es) e evacuado as outras imediatamente. Mas ainda levou muito tempo. Era para ser imediato. Eu acho que n�o deveria voltar nunca. O caminho � s� um: descomissionar”, afirma o ex-funcion�rio, referindo-se ao processo de extin��o do barramento, com reintegra��o do espa�o ao ambiente natural. As duas barragens est�o dentro do plano de descomissionamento da Vale que vai desmantelar 10 barramentos ao custo de R$ 5 bilh�es, de acordo com a mineradora.
Para o engenheiro, que n�o trabalha mais nos quadros da Vale, o motivo de C�rrego do Feij�o ter ru�do antes de Vargem Grande e de Forquilha 2 foi o aumento da intensidade de trabalhos sem qualquer compromisso com a seguran�a. “C�rrego do Feij�o era uma mina paralisada. Foi quando come�aram a rodar com os caminh�es fora de estrada � que come�aram a haver as vibra��es de solo que aceleraram o processo de liquefa��o dos rejeitos dentro da barragem. Era um tr�fego intenso e talvez por ser mais intenso do que em Vargem Grande e Forquilha, tenha fragilizado mais (a Barragem 1 de) C�rrego do Feij�o”, avalia.
Os subterr�neos da seguran�a
Confira trechos de revela��es de ex-funcion�rio da Vale especialista em barragens
“Existe uma esp�cie de ranking das piores barragens no setor de seguran�a e licenciamento (da Vale). C�rrego do Feij�o era a terceira pior para n�s. Nesse sentido, foi, sim, surpreendente (o desastre), mas porque a situa��o de estabilidade de Vargem Grande (Nova Lima) e de Forquilha 2 (Ouro Preto) � muito mais dram�tica”
“A Vale sabendo disso tinha de ter paralisado (as opera��es ap�s a cat�strofe de Brumadinho) e evacuado as outras (�reas no entorno das barragens cr�ticas) imediatamente. Mas ainda levou muito tempo”
“Em Vargem Grande, chegamos a ter grandes eros�es no maci�o. Em 2011, o barramento quase se rompeu. Isso a Vale nem divulgou. A barragem j� estava com um processo avan�ado de trincas, vazando rejeitos. Eu estava l�. Foi uma coisa horrorosa. E n�o avisaram a ningu�m”
“Forquilha (2) j� tinha problemas de estrutura em 2012. Instabilidade, ravinamentos (fendas profundas no talude, estrutura de conten��o da barragem), trincas, fissuras, entupimentos de drenos. Fizeram sondagens em locais onde n�o deveriam fazer, igual ao que vinha ocorrendo em C�rrego do Feij�o”
“C�rrego do Feij�o era uma mina paralisada. Foi quando come�aram a rodar com os caminh�es fora de estrada � que come�aram a haver as vibra��es de solo que aceleraram o processo de liquefa��o dos rejeitos dentro da barragem”
Complexo Ab�boras - Barragem de Vargem Grande

Munic�pio: Nova Lima
Altura: 35 metros
Volume de rejeitos da represa: 9,5 milh�es de metros c�bicos
Particularidade: Eventual onda de rompimento atingiria o Rio do Peixe, que entrega cerca de um quarto do volume do Rio das Velhas em Bela Fama, onde � captada 60% da �gua para a Grande BH
Mina de F�brica - Barragem de Forquilha 2

Munic�pio: Ouro Preto
Mina: F�brica
Altura: 89 metros
Volume de rejeitos da represa: 24 milh�es metros c�bicos
Particularidade: Uma eventual onda de rompimento liberaria praticamente o dobro de material que atingiu Brumadinho ap�s o colapso na Mina C�rrego do Feij�o