
As m�quinas est�o a todo vapor. Hoje completam 72 dias desde que a barragem da Vale se rompeu e devastou o C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Ainda s�o mais de 70 pessoas desaparecidas e o Corpo de Bombeiros trabalha para que todos os corpos sejam encontrados. N�o, n�o h� prazo para que as buscas sejam interrompidas. Todos os dias corpos s�o encontrados. Inclusive, na �ltima ter�a-feira, uma caminhonete foi achada entre os destro�os com tr�s pessoas dentro. Haja for�a para continuar depois de tantos dias. E � o mural com diversas cartas escritas e desenhadas por crian�as de todo o Brasil que d�o g�s para que dezenas de militares continuem com os trabalhos.
S�o 131 bombeiros – sendo oito de outros estados –, 107 m�quinas e cinco cachorros que trabalham em 24 frentes de atua��o. E foi na regi�o 9, mais conhecida como a �rea de embarque de min�rio, que o trio foi localizado na ter�a-feira. No in�cio da semana, eles encontraram ind�cios de um ve�culo soterrado, em baixo de um vag�o retorcido. Tratava-se de um carro do modelo Duster, da Renault, que os bombeiros procuravam por quatro pessoas que trabalhavam em uma empresa terceirizada da Vale. “S�o dois homens e uma mulher. Mas temos informa��o de uma quarta pessoa que estava junto. Vamos continuar procurando”, disse a capit� Thaise Rocha, do Corpo de Bombeiros. Foi preciso escavar cerca de 10 metros para ach�-los. Todos foram encaminhados para o Instituto M�dico-Legal (IML) e j� foram identificados. Ontem, o Estado de Minas esteve at� o local onde os trabalhos continuem interruptamente com o maquin�rio pesado.
Os animais continuam como fundamentais os trabalhos. Nesta etapa, at� 80% dos segmentos encontrados foram por conta do trabalho conjunto do homem e do c�o. Por�m, agora, eles s�o chamados apenas quando h� um ind�cio de corpo no local. Tamb�m atuam na �rea de descarte – para onde a terra � retirada. “Nesta etapa, n�s estamos achando mais segmentos corp�reos. Todos os dias s�o encontrados. Alguns (dias) mais, outros menos”, explicou a capit�. O estado em que os corpos ou os segmentos s�o descobertos ainda ajuda para que os outros desaparecidos sejam localizados. “O min�rio ajuda na conserva��o dos corpos. Mas tudo depende do ponto onde est� sendo trabalhado por conta da �gua, do oxig�nio, da press�o onde se localiza”, acrescentou.

S�MBOLO E ESPERAN�A Em um dos postos de opera��es dos bombeiros em Brumadinho, uma bandeira do Brasil encontrada nas primeiras semanas de trabalho chama a aten��o no meio da sala. “Essa bandeira virou o s�mbolo da nossa opera��o”, contou a capit�. Do lado de fora, um varal com cartas aos militares: “Obrigado, bombeiros, por ajudar as fam�lias de Brumadinho. Voc�s s�o nossos her�is”, dizia uma delas, escrita em um papel laranja com um belo desenho de um militar retirando uma pessoa do mar de lama.
Logo ao lado, mais um recado motivador: “O trabalho de voc�s � uma d�diva de Deus. Voc�s t�m muito trabalho pela frente, mas podem ter certeza que Jesus tamb�m vai trabalhar na vida de voc�.” S�o centenas de papeis espalhados em varais improvisados que emocionam muitos militares, que acordam cedo para recome�ar os trabalhos. E � isso que d� g�s aos bombeiros que, apesar de cansados, se mostram dispostos nas buscas at� que o �ltimo corpo seja encontrado.
“Isso nos faz sentir especiais. � muito especial receber todo esse carinho de crian�as de todo o Brasil e compreens�o das pessoas que entendem como isso trabalho � dif�cil. S�o centenas de cartas que recebemos por dia”, contou com o tenente Lucas Alves, que est� nos trabalhos desde as primeiras horas ap�s o rompimento da Barragem 1 da Mina C�rrego do Feij�o, em 25 de janeiro, que deixou at� agora 223 mortos e 70 desaparecidos. Todos os dias ele para um pouco para ler os recados. Ele, que tem um filho de 12 anos, olha para o painel e se lembra dele: “Eu, que sou pai, me sento muito enaltecido.”