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Estado de Minas

Veja como os impactos da atividade mineral atualizaram a hist�ria de Tiradentes

Picos tr�gicos como os desastres de Mariana e de Brumadinho mudam a hist�ria do alferes e da Inconfid�ncia Mineira 230 anos depois


postado em 21/04/2019 06:00 / atualizado em 21/04/2019 07:43

(foto: Son Salvador)
(foto: Son Salvador)


Se fosse um homem do s�culo 21, o alferes Joaquim Jos� da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), certamente levantaria a voz e se rebelaria contra a destrui��o provocada, no estado, pela atividade mineral “predat�ria”, que deixa um rastro de mortes, ru�na ambiental e medo em cada rosto. A trag�dia mais recente est� em Brumadinho, onde, em 25 de janeiro, se rompeu a Barragem 1 da Mina do C�rrego do Feij�o, da Vale, com o saldo de quase 300 v�timas, entre perda de vidas e desaparecimentos sob a lama de rejeitos. Neste domingo de P�scoa, quando s�o lembrados tamb�m os 230 anos da Inconfid�ncia Mineira, torna-se fundamental uma reflex�o sobre o movimento e os novos tempos, acredita o professor de hist�ria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Carlos Villalta, estudioso do tema e com livros lan�ados sobre o per�odo colonial. “Os inconfidentes tinham muito amor por esta terra, enquanto a domina��o portuguesa retirava ouro e diamantes para deixar, como dizia Tiradentes, muita pobreza, numa terra que era rica”, diz o professor.


Nas suas andan�as pela Capitania de Minas, Tiradentes sempre citava um serm�o do padre Ant�nio Vieira (1608-1697), datado de 1640, sobre a explora��o de Portugal e Espanha na Bahia: “O jesu�ta comparava Lisboa e Madri a uma nuvem que chupava as riquezas baianas. E ressaltava ser necess�rio restaurar o Brasil.” Quase 150 anos depois, o alferes mudava a palavra nuvem para esponja, estendia Portugal e Espanha para toda a Europa e mantinha o verbo chupar junto da necessidade de se restaurar o Brasil, colocando tudo no lugar certo. “Padre Ant�nio Vieira falava mal dos governadores e da a��o deles de se apropriar da coisa p�blica para fins privados. Tiradentes dizia que eles vinham para Minas roubar as riquezas e a honra de quem vivia aqui. O alferes criticava a administra��o dos portugueses, o monop�lio comercial, pois n�o havia livre com�rcio, e os tributos excessivos, principalmente a cobran�a do quinto do ouro, taxa, em teoria, de at� 20% sobre a produ��o do metal.”

Se tinha preocupa��o com a excessiva explora��o das riquezas e com o cen�rio de mis�ria, Tiradentes tamb�m voltava os olhos para os direitos humanos e contra as injusti�as, diz o integrante do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais (IHGMG), o promotor de Justi�a Marcos Paulo de Souza Miranda. “Ele n�o gostava de covardia, era um homem muito caridoso. Ainda muito jovem, trabalhando como tropeiro, foi preso em Minas Novas ao defender um escravo que estava sendo barbaramente castigado por seu senhor”. Lembrando que, sendo um homem da sua �poca, o alferes teve escravos, o pesquisador ressalta que Tiradentes “entrou em luta corporal com o opressor do negro ferido”.

MAIS RICA

A explora��o mineral come�a em Minas em 1680-1681, com a chegada dos bandeirantes de Taubat� (SP), mas, no Brasil, existia desde o s�culo 16. “Essa era a mais rica dentre todas as possess�es portuguesas na �sia, Am�rica e �frica. Muito mais rica do que a Bahia, por exemplo. Por isso mesmo, devemos enfocar o aspecto econ�mico para entender a Inconfid�ncia ou Conjura��o Mineira e os dias de hoje. Se antes estavam no foco o ouro e o diamante, agora � o min�rio de ferro. Em ambos os casos, resultam poucos recursos para Minas –, conforme j� foi denunciado muitas vezes por governadores, embora seja o esteio da economia –, enorme degrada��o ambiental e perigo para a popula��o”, afirma Villalta, o organizador dos livros Hist�ria de Minas Gerais – A Prov�ncia de Minas e Minas Setecentista, em parceria com a professora Maria Efig�nia Lage de Resende.

As consequ�ncias da atividade miner�ria “predat�ria” s�o as piores, al�m dos riscos para a vida humana, e Villalta chama a aten��o para a queda no turismo e amea�a a patrim�nios culturais erguidos no s�culo 18. “N�o se trata de uma cr�tica a partido a, b ou c, mas a um sistema que s� deixa pobreza. E era exatamente isso que Tiradentes combatia”, afirma o professor, colocando o dedo em outra ferida que continua aberta em Minas: o rompimento da Barragem do Fund�o, da mineradora Samarco, em Mariana, na Regi�o Central.

Se � oportuna a reflex�o sobre Minas em 1789, torna-se importante viajar no tempo para compreender a Inconfid�ncia, que teve ramifica��es em S�o Paulo e Rio de Janeiro. Villalta explica o momento de ebuli��o na capitania. Antes de mais nada, � bom conhecer o significado do “21 de abril”. A data se refere � morte por enforcamento de Tiradentes, em 1792, no Rio de Janeiro. Portanto, nada a ver com o fim do levante ou decreta��o da derrama, palavra-chave no epis�dio. “Na �poca, Portugal tinha o direito de cobrar o quinto do ouro, mas se os mineradores n�o pagassem ao governo 100 arrobas de ouro anuais, a Coroa portuguesa poderia decretar a derrama, obrigando as c�maras municipais a fazer o povo pagar o valor necess�rio para chegar �quele total.”

TEMPO DE CONSPIRA��O

A mobiliza��o que levou � Inconfid�ncia come�ou em 1785, com a circula��o, em Vila Rica, atual Ouro Preto, das Cartas Chilenas, poemas sat�ricos criticando Lu�s da Cunha Menezes, governador da Capitania de Minas de 1783 a 1788. Nesse �ltimo ano, chegava ao Rio, vindo da Europa, o mineiro Jos� �lvares Maciel (filho), cunhado do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, segunda autoridade militar da Capitania de Minas e inconfidente. “Sabe quem o esperava no porto, no Rio? Tiradentes, que logo prop�s a rebeli�o contra Portugal, embora o rec�m-chegado n�o lhe tenha dado muito cr�dito”, conta Villalta. Mesmo assim, o movimento vai crescendo e se espalha pela regi�o de S�o Jo�o del-Rei e outras localidades do Campo das Vertentes e das comarcas de Vila Rica e do Serro Frio.

J� em 8 de outubro de 1788 n�o havia mais como parar. E pairava o fantasma da derrama, pois, naquele ano, Lu�s Ant�nio Furtado de Castro do Rio Mendon�a, Visconde de Barbacena, chegara a Minas com ordem para decret�-la. A situa��o gerou descontentamento, em especial nas pessoas ligadas a grupos privilegiados – contratadores, cl�rigos, militares, contrabandistas etc. Na casa do p�roco Carlos Correia de Toledo, em S�o Jos� del-Rei (atual Tiradentes), alguns dos futuros inconfidentes come�am a arquitetar a conspira��o. H� sucessivos encontros em Vila Rica: no fim de dezembro, na casa do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrada; na casa do tenente-coronel, com a presen�a de Alvarenga Peixoto, �lvares Maciel e os padres Toledo e Rolim; e na casa do contratador de impostos Jo�o Rodrigues de Macedo, propriet�rio da Casa dos Contos.

� imprescind�vel conhecer o cen�rio no s�culo 18: novos ventos sopravam sobre o Ocidente, trazendo a filosofia de pensadores franceses que criticavam o poder absoluto dos reis, administra��o colonial, monop�lio comercial, intoler�ncia religiosa e sistema de trabalho escravo. “A Inconfid�ncia floresceu no ambiente de efervesc�ncia intelectual e pol�tica, como ocorria na Europa e Am�ricas, em especial, com a independ�ncia (1776) das 13 col�nias que deram origem aos Estados Unidos”, observa o professor. Ao lado disso, tomava como exemplo a Restaura��o Portuguesa de 1640, movimento pelo qual Portugal se libertou do jugo espanhol.


"Os inconfidentes tinham muito amor por esta terra, enquanto a domina��o portuguesa retirava ouro e diamantes para deixar, como dizia Tiradentes, muita pobreza numa terra que era rica"

. Luiz Carlos Villalta,
professor de hist�ria da UFMG

 


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