
Devido aos efeitos da trag�dia, localidades �s margens do manancial est�o sendo esvaziadas e virando comunidades fantasmas, sustentaram participantes de semin�rio promovido na sede da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), com a participa��o de lideran�as de movimentos sociais, pesquisadores e representantes de comunidades atingidas pela cat�strofe ocorrida em 25 de janeiro. A atividade foi organizada pelo Grupo de Estudos em Tem�ticas Ambientais (Gesta) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pela Unimontes e outras entidades.
No encontro, ficou evidente tamb�m a grande apreens�o entre vazanteiros, pescadores e pequenos produtores ao longo do Rio S�o Francisco, preocupados com a possibilidade de que o Velho Chico tamb�m venham sofrer os efeitos da lama com rejeitos minerais. O rompimento da barragem em Brumadinho provocou 233 mortes, enquanto 37 pessoas seguem desaparecidas, acarretando tamb�m grandes impactos ambientais na Bacia do Paraopeba, afluente do S�o Francisco. Al�m de debate entre especialistas, o evento teve uma parte dedicada a depoimentos dos atingidos.
Um dos participantes, Clarindo Pereira dos Santos, l�der da comunidade tradicional de Canabrava, situada �s margens do Rio S�o Francisco, no munic�pio de Buritizeiro (Norte de Minas), disse que constatou in loco os danos provocados pela trag�dia de Brumadinho ao fazer “visitas solid�rias” a localidades ao longo do Rio Paraopeba, para verificar danos provocados pela lama de rejeitos de min�rio. “Ouvimos depoimentos, olhando nos olhos das pessoas, entre pescadores, vazanteiros, pequenos produtores e demais ribeirinhos”, relatou Clarindo.
Ele informou que constatou que muitas dessas pessoas est�o abandonando os lugares de origem, diante da falta de condi��es de vida nas �reas afetadas pela lama, j� que ficaram impossibilitadas de plantar e n�o podem consumir e nem usar a �gua do Paraopeba. “Descobrimos que comunidades (nas margens do Paraopeba) est�o se tornando praticamente fantasmas”, disse.
O l�der comunit�rio citou como exemplo uma comunidade do munic�pio de S�o Jos� da Varginha (Regi�o Central do estado), onde esteve por duas ocasi�es ap�s o rompimento da barragem em Brumadinho. “Na primeira vez em que estivemos no lugar, logo depois do desastre, existiam l� umas 30 fam�lias. Quando retornamos, recentemente, encontramos muitas casas abandonadas”, revelou Clarindo. “Por causa da lama, ribeirinhos n�o podem plantar e colher nada a 100 metros do rio. N�o podem aproveitar a produ��o do que plantaram nem para fazer ra��o para animal”, lamentou.
O l�der comunit�rio disse que existe uma grande preocupa��o de moradores das dezenas de comunidades situadas nas proximidades do Rio S�o Francisco de que eles tamb�m venham ser afetados pelos impactos da trag�dia em Brumadinho. “Tudo o que atinge a calha do Rio Paraopeba ser� transportado, ano a ano, em dire��o ao S�o Francisco”, disse, citando a previs�o de que, a cada per�odo chuvoso seja carregada mais contamina��o para o Velho Chico.
Maria Aparecida Ferreira Paz Souza, moradora da �rea quilombola de Lapinha, �s margens do S�o Francisco, no munic�pio de Matias Cardoso (Norte de Minas), disse que a preocupa��o da comunidade, onde vivem 120 fam�lias, � de que a polui��o venha a impedir o uso da �gua do manancial. “O nosso medo � de n�o puder mais beber e usar a �gua do S�o Francisco. O rio � nossa vida”, disse.
O integrante da Comiss�o da Pastoral da Terra (CPT) Alexandre Gon�alves disse que tamb�m participou de uma peregrina��o de representantes de pastorais e de movimentos sociais pelo Rio Paraopeba, desde Brumadinho at� a usina hidrel�trica de Tr�s Marias, j� no S�o Francisco, percorrendo cerca de 330 quil�metros. “Constatamos que o Paraopeba est� praticamente morto. Em um trecho perto de Brumadinho, o rio virou um caldo de ferro e de rejeitos miner�rios. Acabou-se qualquer forma imagin�vel de vida naquela altura”, afirmou Gon�alves.