Capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa para sentir o que ela sentiria em determinada circunst�ncia. Esse � o conceito de “empatia”, que alunos do Col�gio Magnum Cidade Nova, na Regi�o Nordeste de Belo Horizonte, exerceram na pr�tica ontem. O grupo Batucabrum – composto por crian�as e adolescentes de Brumadinho – foi convidado para a realiza��o de atividades culturais e, tamb�m, para receber brinquedos e alimentos arrecadados pelos alunos do 2º ao 5º ano, doados aos que sofreram perdas na trag�dia. Ontem, foram doados cerca de 500 brinquedos e arrecadadas aproximadamente 1,5 mil unidades de produtos para lanche (biscoitos, achocolatados e sucos) –, n�mero que deve dobrar ao longo da semana.
O Batucabrum foi fundado pelos irm�os m�sicos Sanrah Angelo e Leci Giovane, com o objetivo de levar cultura e alegria para as crian�as e adolescentes de escolas p�blicas da cidade de Brumadinho. O projeto oferece v�rias oficinas gratuitas para as crian�as entre 7 e 17 anos, como aulas de viol�o, confec��o de instrumentos musicais, dublagem, percuss�o, conceitos de um est�dio de grava��o, e ainda refor�o escolar e suporte para uma alimenta��o saud�vel e equilibrada.
Com o rompimento da barragem, no desastre com 240 mortes j� confirmadas e 30 desaparecidos, a demanda aumentou, e o grupo passou a prestar assist�ncia �s crian�as e adolescentes que perderam entes queridos na trag�dia. “O trabalho come�ou h� nove anos e, hoje, atendemos 150 crian�as. Estamos aqui para valorizar a vida e resgatar os sonhos. Ap�s a trag�dia, fam�lias atingidas pelo rompimento da barragem passaram a procurar ainda mais pelo grupo. Isso porque muitos diziam que ‘� preciso confortar o cora��o das crian�as’. A procura aumentou em 40%. Gostar�amos de atender ainda mais, mas, infelizmente, precisamos de recurso”, contou Leci Giovane.
Imagine, de um dia para outro, perder familiares, amigos, n�o ter mais sua casa, seus animais... Ficar sem seu mundo, inesperadamente, � um trauma que afeta qualquer ser humano, mas fica ainda mais dif�cil quando � enfrentado por crian�as e adolescentes. “Assim que aconteceu, muitas das crian�as tinham crise de choro. Muitas n�o conseguiam dormir. Algumas tinham medo at� de sair de casa ou pegar um �nibus. S�o muitos os traumas. Tem amigos meus sumidos. Estamos um abra�ando o outro, caminhando juntos. E est� longe disso terminar”, completou o coordenador, ao explicar que, apesar de dif�cil, v� um avan�o no quadro p�s-trauma que muitas delas carregam. “Por meio da cultura e da arte vamos conseguir”, acrescentou.
Ontem, 12 crian�as foram at� a escola para se apresentar e receber muito amor e carinho de outros pequenos, que, apesar de terem a mesma idade, vivem uma realidade muito diferente. Baldes viram surdos que, bem ensaiados, produzem um batuque harmonioso acompanhado por palmas dos alunos no gin�sio do col�gio.
Os viol�es feitos a m�o tamb�m chamam a aten��o. Denilso de Oliveira Porto, de 13, e Victor Gabriel Paiva Reis, da mesma idade, sa�ram cedo de Brumadinho para se apresentar. “Entrei no projeto h� cinco meses. Sempre quis fazer aula de viol�o, mas n�o podia. Agora � muito legal aprender e poder tocar aqui. � uma honra representar minha cidade”, disse Denilso. O colega, Victor, frisa que a solidariedade � muito importante em um momento t�o dif�cil: “� o que d� for�a para n�s e para o projeto”, complementou.
Ana Villela, aluna do Magnum, tem apenas 9 anos, mas entende a dimens�o do que ocorreu em 25 de janeiro. “Algumas pessoas sofreram muito perdendo familiares e aqui elas podem ser acolhidas. A gente fez cartas bem legais. Escrevi uma mensagem para eles: ‘Voc� pode ter perdido algum familiar, mas a vida n�o para a�. Voc� tem que seguir’”,contou a pequena.
Laura Menezes, de 10, tamb�m disse que tem aprendido muito sobre a palavra empatia: “A gente se coloca no lugar deles. Se fosse a gente que tivesse perdido algu�m da fam�lia, a gente tamb�m ia ficar triste.” Henrique Figueredo, de 11, fica muito impressionado com o trabalho dos bombeiros. “Eles n�o t�m superpoderes, mas s�o super-her�is. N�o her�is que podem voar, s�o her�is que podem salvar as vidas”, contou.
Maria Cl�udia Santana, coordenadora do Magnum Social, conta que a iniciativa partiu dos pr�prios alunos. “Iniciamos um conjunto de atividades voltados para a solidariedade e o amor ao pr�ximo e os alunos tinham a vontade de doar coisas que eram significativas para eles, por isso, escolheram doar brinquedos”, explica. Lana Medeiros, coordenadora de forma��o do ensino fundamental 1, afirma que o compromisso da institui��o � desenvolver no aluno as habilidades cognitivas e socioemocionais, garantindo, assim, sua forma��o integral.
“Colocar em pr�tica o que ensinamos na teoria”, complementou. Em 2010, foi conferido ao Magnum o certificado de inclus�o no Programa de Escolas Associadas (PEA) da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco). O certificado representa o compromisso em criar e praticar educa��o de qualidade na busca da paz, liberdade, justi�a e desenvolvimento humano, a fim de atender �s necessidades educacionais de crian�as e jovens em todo o mundo.
O grupo tamb�m vai � escola na sexta, quando ser�o entregues as doa��es de lanches. O Corpo de Bombeiros Militar tamb�m estar� presente para receber homenagens, cartas e desenhos feitos pelas crian�as, que foram transformados em um “livr�o”. E, quem tiver interesse em ajudar o projeto Batucabrum pode entrar em contato pelo Instagram @Batucabrum ou pelo telefone: (31) 99978-1588.