
Tr�s v�timas atra�das por um falso an�ncio, mantidas em c�rcere privado sob a mira de arma de fogo e obrigadas a transferir dinheiro para quatro sequestradores. Tudo isso coordenado por um quinto criminoso, que ditava, de dentro de um pres�dio de seguran�a m�xima, ordens para os comparsas. Esse � o enredo do �ltimo caso de extors�o mediante sequestro em Minas Gerais, que terminou bem para as v�timas gra�as � a��o da Pol�cia Civil em Pitangui, Centro-Oeste de Minas, onde foram presos todos os envolvidos sem que nenhum dos ref�ns ficasse ferido. O mais preocupante � que o golpe est� longe de ser pontual. Segundo o delegado Ramon Sandoli, da Delegacia Antissequestro, de janeiro de 2018 at� agora somente a unidade investigou 28 casos de extors�o e sequestro, todos com participa��o de presos da Penitenci�ria Nelson Hungria, unidade de seguran�a m�xima localizada em Contagem, na Grande BH, para onde v�o os detentos mais perigosos do estado. O delegado aposta no controle do uso de celulares nas pris�es para conter esse tipo de crime.
Dados da Secretaria de Estado de Seguran�a P�blica (Sesp) apontam redu��o de 37% nas ocorr�ncias de sequestro quando analisado o primeiro quadrimestre de 2019 em rela��o ao mesmo per�odo do ano passado. Foram 27 crimes de janeiro a abril de 2018, contra 17 nos mesmos meses deste ano. Por�m, quando comparados os dois �ltimos anos fechados (2017 e 2018), h� um aumento de casos em 36%, com o total saltando de 58 para 79, o que mostra que esse tipo de ocorr�ncia ainda desafia as autoridades.
Entre as modalidades que prevalecem em Minas Gerais est�o o golpe conhecido como “crime do sapatinho”, em que gerentes de banco e seus familiares s�o sequestrados e mantidos ref�ns para for�ar o banc�rio a facilitar o roubo de grandes quantias nas ag�ncias. O segundo caso � o golpe do falso an�ncio, em que bandidos anunciam determinados produtos, normalmente de maior valor, para atrair v�timas, sequestr�-las e roubar quantias sem que nenhuma transa��o seja efetivada. Foi justamente isso o que levou a Pol�cia Civil at� a quadrilha comandada por Breno Henrique Gon�alves de Barcelos, de 27 anos, preso da Penitenci�ria Nelson Hungria. Entre idas e vindas ao sistema prisional, essa � a realidade de Breno desde os 18 anos, segundo a pol�cia. Ele tamb�m � apontado como o mandante de um sequestro em novembro do ano passado na cidade de Nova Serrana, na Regi�o Central de Minas.
No caso de ontem, tudo come�ou com um an�ncio de venda de gado em um grupo de WhatsApp de compradores e vendedores de animais no Norte de Minas. Interessado em um lote de bezerras, um fazendeiro de 64 anos, seu filho de 38, e um intermedi�rio, amigo da fam�lia, de 40, foram at� Pitangui conferir os animais depois que chegaram a um acordo de R$ 850 por cada uma das 120 bezerras. Os tr�s chegaram a Pitangui na manh� de ter�a-feira, quando foram recebidos por uma mulher que se disse esposa do dono dos animais. Ela se encontrou com as v�timas em um posto de combust�veis e, quando seguiam para a suposta fazenda onde estariam os animais, o trio foi rendido por dois homens armados que anunciaram o sequestro.
De acordo com o delegado Ramon Sandoli, a Pol�cia Civil j� tinha informa��o de que a quadrilha chefiada por Breno estava planejando um crime de sequestro e por isso os investigadores faziam diversas dilig�ncias com o objetivo de descobrir onde o crime seria praticado. As v�timas chegaram a Pitangui por volta das 9h30, quando foram atra�das por Daiane dos Santos Marques, de 22. Cerca de 15 minutos depois, os policiais civis chegaram � cidade, mas j� n�o encontraram mais o fazendeiro, o filho e a terceira v�tima. “A partir da� come�amos uma s�rie de levantamentos at� identificar o cativeiro, por volta das 13h45”, diz Sandoli.
Com o cativeiro descoberto, a Pol�cia Civil fez uma entrada conjunta entre os policiais do Deoesp e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Segundo a pol�cia, os agentes atiraram porque Daiane ostentava uma arma. Ela foi atingida de rasp�o, assim como Get�lio de Oliveira Santos, de 25. Al�m dos dois, foram presos Rafael Silva Veloso, de 37, e Cristian Yago Faria, de 25. As v�timas chegaram a transferir R$ 85 mil para a quadrilha, mas a Pol�cia Civil conseguiu que o banco bloqueasse a quantia. O valor ficar� bloqueado at� a conclus�o do inqu�rito, esperando defini��o da Justi�a. Para o delegado Ramon Sandoli, a partir do momento em que houver uma efetiva restri��o do uso de celulares na Nelson Hungria a��es como essa do crime organizado tendem a diminuir. “Toda medida que for adotada buscando evitar tanto a entrada quanto o uso do telefone celular vai colaborar para n�o ocorrerem fatos criminosos, n�o s� esse de sequestro, mas outros que venham de dentro de penitenci�rias”, diz Sandoli.

Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Administra��o Prisional (Seap) informou que trabalhou em conjunto com a Delegacia Antissequestro para identificar os suspeitos nos casos citados na coletiva de ontem. De acordo com o texto, o setor de Intelig�ncia da Seap trabalha efetivamente em conjunto com as demais for�as de seguran�a para coibir poss�veis atua��es criminosas que partem de dentro das suas unidades prisionais.
Entre as a��es para evitar esses crimes nos 197 estabelecimentos prisionais que administra, a Seap citou revistas rotineiras a fim de retirar objetos il�citos do interior das celas, fiscaliza��es por meio de equipamentos de esc�ner corporal, portais e banquetas detectores de metais, al�m da aplica��o de procedimentos operacionais padr�es durante as visita��es de acordo com o Regulamento e Normas de Procedimentos do Sistema Prisional de Minas Gerais (ReNP). Ainda de acordo com a pasta, os presos identificados em a��es il�citas, al�m de responder criminalmente, sofrem san��es administrativas por parte do sistema prisional.
V�TIMA O fazendeiro, de 64, que foi uma das v�timas, ficou muito emocionado ao relembrar os momentos que passou com o filho e a outra v�tima nas m�os dos sequestradores. “Fomos fazer a compra, combinamos com o suposto fazendeiro de olhar o rebanho e fazer a transfer�ncia banc�ria. Na ida para a fazenda fomos surpreendidos pelos assaltantes, quando fomos transferidos para os ve�culos deles, levados para um cativeiro, amorda�ados e amarrados uns aos outros”, contou. Segundo ele, os criminosos n�o chegaram a usar de viol�ncia excessiva, apenas mencionaram entre eles que poderiam cometer algum ato violento.
A v�tima lembrou o momento em que os policiais entraram no cativeiro e os tiros. “A gente pensa em tudo, mas sempre acreditamos que o final seria feliz. Est�vamos entregues nas m�os de Deus. O filho preocupado com o pai e o pai preocupado com o filho, e o nosso amigo que estava sequestrado tamb�m”, comentou.