Moradores de rua dispensam lua de mel por n�o ter onde deixar cachorrinha
Casal disse o 'sim' em cerim�nia realizada com ajuda da Prefeitura de Belo Horizonte e de comerciantes, mas dispensou noite de n�pcias oferecida por hotel para n�o deixar Lilica, que j� faz parte da fam�lia, desprotegida
postado em 12/07/2019 06:00 / atualizado em 12/07/2019 11:38
Um casamento parou a Av. Oleg�rio Maciel, em BH, nesta quinta. Selma, 42, e Jo�o, 38, %u201Cpais%u201D da cachorrinha Lilica, s�o moradores de rua. Eles celebraram a uni�o ao som de %u201C� o Amor%u201D, de Zez� di Camargo e Luciano, entoada por pedestres e convidados. V�deo: M�rcia Maria Cruz/EM pic.twitter.com/1S8XyseoDV
O casal de moradores de rua Selma Zenilda Maria de Jesus, de 42 anos, e Jo�o Ramalho de Souza, de 38, que disse 'sim' em cerim�nia que parou a Avenida Oleg�rio Maciel na manh� de ontem, foi presenteado com festa e lua de mel. No entanto, os dois agradeceram a gentileza da oferta das n�pcias, mas n�o puderam aceitar. A recusa tem motivo nobre. N�o querem deixar sozinha a cachorrinha de estima��o. “Eles ganharam a lua de mel de um hotel, mas n�o quiseram, porque n�o teriam onde deixar a Lilica”, informou F�tima Gomes Pereira, supervisora de servi�o especializado em abordagem social. Com vestidinho branco, Lilica foi a dama de honra do casamento.
A cerim�nia foi promovida pela equipe do Centro de Refer�ncia Especializado de Assist�ncia Social (Creas) da Prefeitura de Belo Horizonte e contou com todos os elementos presentes nas festas mais requintadas: vestido de noiva, bolo, ornamenta��o, m�sica ao vivo, �lbum de casamento, caderno para os votos e os comes e bebes. O desejo da uni�o, por�m, partiu do casal. "Eles externaram o desejo de se casar. Fizemos a cerim�nia para mostrar que, mesmo na rua, � poss�vel se amar, encontrar a cara metade e seguir em frente", afirma a supervisora.
No colo de Selma, Lilica acompanhou a cerim�nia bem de perto (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Com a mudan�a do status de relacionamento de Selma e Jo�o, os assistentes sociais esperam que o casal possa tamb�m encontrar um teto. O coordenador do Creas, S�rgio Riani, explica que o objetivo da a��o � promover a sa�da deles das ruas de forma n�o compuls�ria. A equipe que faz a abordagem a moradores de rua j� ofereceu a possibilidade de irem para um abrigo, mas, at� ent�o, a op��o de Selma e Jo�o era seguir vivendo nas ruas. “Agora que ter�o uma vida a dois, quem sabe n�o aceitam a oferta de ir para um abrigo de fam�lia”, diz F�tima.
Incentivados pela assist�ncia social da prefeitura, Selma e Jo�o Ramalho trocaram alian�as na Oleg�rio Maciel e emocionaram quem estava no local (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
A cerim�nia foi realizada embaixo de frondosa �rvore na Avenida Oleg�rio Maciel, �s 12h. Dezenas de pessoas pararam para assistir ao t�o esperado momento do “sim”. Ao som do cl�ssico � o amor, Selma e Jo�o disseram que querem ficar juntos seja na riqueza ou na pobreza. Sem-teto, eles se conheceram em Ita�na, na Regi�o Centro-Oeste de Minas, apaixonaram-se e resolveram se mudar para Belo Horizonte h� dois anos. Apesar da dureza de viver ao relento, o afeto entre eles cresceu como a flor de l�tus desabrocha em terreno pantanoso. Veio o gostar, o querer bem e, ent�o, Selma avaliou que era o momento de darem um passo adiante na rela��o.
Os comerciantes da regi�o se juntaram para fazer a cerim�nia, que parou a Avenida Oleg�rio Maciel, na Regi�o Centro-Sul da capital, na manh� de ontem. Jo�o estava ansioso � espera da amada, que, como manda a tradi��o, se atrasou alguns minutos. A avenida se transformou na nave da igreja por onde a noiva seguiu acompanhada at� encontrar o companheiro. De branco, com v�u, maquiagem impec�vel e buqu� nas m�os, Selma se emocionou com o momento. "Ele gosta de mim e eu gosto muito dele", afirmou.
N�o faltaram vestido de noiva, bolo, m�sica, comes e bebes. Eles ganharam at� lua de mel num hotel, que dispensaram por n�o ter onde deixar a cachorrinha de estima��o (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Jo�o repetiu diversas vezes que a amava e, com ela, quer viver por toda a vida. N�o faltaram padrinhos para dar f� do momento de amor entre o casal, que de posses tem o aconchego um do outro. Para a festa n�o faltou nada. Bolo de noiva, salgados e at� espumante. Tamb�m teve chuva de arroz e Selma jogou o buqu�. Os convidados presentearam os noivos e deixaram os votos em caderno que registrou a presen�a de todos.
O casamento n�o tem valor legal, mas para os noivos nem � preciso ir ao cart�rio. A celebra��o, que representou a realiza��o de um sonho de ambos, foi conduzida por arte-educadores, que cuidaram do rito e tamb�m da m�sica. “A arte transforma nosso meio. Deixa leve a realidade dura. Muita gente poderia nem dar a devida aten��o a Selma e Jo�o, que, como qualquer outra pessoa, t�m sonhos. Tanto para eles quanto para n�s foi momento �nico e especial”, afirmou o arte-educador Felipe Mar�al Anuncia��o.