Prefeitura assegura R$ 7 milh�es para restaurar o Museu de Arte da Pampulha
Obras no pr�dio da d�cada de 1940, projetado por Niemeyer e que abrigou o antigo cassino de Belo Horizonte, ser�o feitas com recursos da pr�pria administra��o municipal e ainda dependem de abertura de licita��o, sem data marcada
postado em 16/07/2019 06:00 / atualizado em 16/07/2019 07:48
Apelidado de Pal�cio de Cristal, o pr�dio do MAP passou por sua �ltima reforma na d�cada de 1990 (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
As noivas adoram posar para as fotos do �lbum de casamento nos jardins projetados por Burle Marx (1909-1994), desde que o espelho d'�gua fique bem enquadrado ao fundo, como se fosse moldura da felicidade. J� as gr�vidas deixam o “barrig�o” bem � vista, de forma a eternizar o momento ao ar livre, enquanto adolescentes sobem a rampa, de bicicleta, com todo o vigor da juventude e sempre de olho na paisagem da Pampulha, em Belo Horizonte, cujo conjunto arquitet�nico projetado por Oscar Niemeyer(1907-2012) completa, amanh�, tr�s anos de reconhecimento como patrim�nio da humanidade, t�tulo concedido pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco). Entre os bens edificados na d�cada de 1940 est� o Museu de Arte da Pampulha (MAP), antigo cassino, palco de hist�ria com um legado precioso dos anos dourados.
Mesmo com tanta beleza e import�ncia do equipamento cultural na vida de BH, os frequentadores do MAP e defensores do patrim�nio cultural aguardam, h� anos, a restaura��o do pr�dio, que funcionou como cassino de 1944 a 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra (1883-1974) proibiu a pr�tica do jogo no pa�s. Onze anos depois, foi reaberto como Museu de Arte, na administra��o do prefeito Celso Mello Azevedo (1915-2004). A gerente do conjunto moderno da Pampulha/Funda��o Municipal de Cultura/Prefeitura de Belo Horizonte, Jana�na Fran�a da Costa, adianta que est�o assegurados recursos no valor de R$ 7 milh�es, pr�prios dos cofres p�blicos municipais para a obra.
A licita��o para as interven��es no pr�dio, apelidado de Pal�cio de Cristal, ainda n�o t�m data marcada, embora o projeto esteja aprovado, desde 2014, pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha-MG) e munic�pio. Segundo Jana�na, ser� feita a restaura��o completa do pr�dio, no qual foram realizados servi�os pontuais na sequ�ncia de um trabalho maior na d�cada de 1990. A respeito dos jardins de Burle Marx, a gerente explica que foram restaurados, estando previstas interven��es caso ocorra algum dano durante as futuras obras. O MAP foi alvo de outra negocia��o com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) para libera��o de verbas, mas n�o prosperou.
J� restaurados, os jardins de Burle Marx dever�o sofrer interven��es caso ocorram danos durante as obras na constru��o (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
GERA��ES Quem visita o Museu de Arte da Pampulha, nestas f�rias de julho (veja o servi�o), pode ver pessoas de todas as gera��es curtindo o visual, posando para fotos, admirando as plantas do jardim ou simplesmente sentadas na grama em clima de contempla��o. Mas tem tamb�m as obras expostas no interior ou ao ar livre. Nas suas velozes bikes, os amigos Marlon Francisco da Silva, Gabriel In�cio Lopes da Silva e Cau� Gabriel Nieman da Costa, estudantes do ensino m�dio e moradores da Regi�o de Venda Nova, visitaram a instala��o Mais dia, menos noite, de Tatiana Blass, com curadoria de Douglas de Freitas.
A exemplo dos demais visitantes, o trio foi recebido por um longo tapete vermelho, que se estende at� um tear manual, e as linhas na mesma cor sobem para o segundo piso, num belo efeito. O folheto informativo diz que “a simbologia do tapete est� intimamente ligada ao poder a ao luxo, ao glamour das noites de cassino”. Os jovens gostaram da instala��o (termina em 31 de agosto), elogiaram os tra�os da arquitetura de Niemeyer e prometeram terminar o passeio na Igreja S�o Francisco de Assis, a ser reaberta, restaurada, em 4 de outubro, data consagrada ao santo protetor do templo. No jardim do museu, Marlon, Gabriel e Cau� puderam contemplar as formas e cores das plantas da flora brasileira e das esculturas O abra�o, em m�rmore, de Alfredo Ceschiatti (1918-1989), Pampulha, de Jos� Pedrosa (1915-2002), e Nu, do polon�s August Zamoyski (1893-1970).
Cau�, Marlon e Gabriel In�cio em visita a instala��o em cartaz no museu. Visitantes chegaram a 79,4 mil em 2018 (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Desde o t�tulo conquistado em 17 de julho de 2016, o colecionador de carros antigos Jefferson Rios Domingues mant�m um servi�o tur�stico de jardineiras, estilo 1950, para percorrer os pontos de destaque do conjunto moderno e contar “causos” sobre os monumentos e seus personagens. Em tr�s anos, informa, embarcaram mais de 5 mil pessoas, sendo 2,5 mil de escola p�blicas. “Noventa por cento dos turistas s�o de fora”, afirma Jefferson, que tem um encanto especial pelo antigo cassino. “JK chegava de smoking, numa lancha de madeira, e, mais tarde, trocava de roupa e seguia para a Casa do Baile, do outro lago da lagoa. Era um ambiente muito chique. As mulheres usavam chap�us, vestido longo e luvas e tinham um lugar especial no banheiro para retocar a maquiagem”, conta o colecionador. Ele diz ainda que Joaquim Rolla, dono do cassino, era propriet�rio de outros estabelecimentos Brasil afora. “Mas o da Pampulha era o �nico do mundo com janelas”, revela com bom humor. A jardineira funciona sempre nos fins de semana e feriados, das 10h �s 17h, com ingresso a R$ 20.
Vista do Cassino na d�cada de 1940: palco da hist�ria e legado dos anos dourados (foto: Eug�nio Silva/O Cruzeiro - 3/1/1948)
HIST�RIA O antigo casino, hoje Museu de Arte (MAP), ancorava todo o Conjunto Moderno da Pampulha, por ser o equipamento respons�vel pela atra��o do grande n�mero de visitantes desejado pelo ent�o prefeito de BH Juscelino Kubitschek (1902-1976), na �poca do lan�amento do projeto, em 1940. Al�m do destaque garantido pela implanta��o em terreno mais elevado, o edif�cio apresentava os princ�pios da arquitetura moderna formulados pelo franco-su��o Le Corbusier (1887-1965).
Segundo os especialistas, a estrutura em concreto e a op��o pelos planos envidra�ados proporcionam a alta integra��o visual entre interior e exterior, um dos mais importantes pilares da arquitetura moderna, presente em todas as edifica��es do conjunto. O volume prism�tico regular – explorando a liberdade de ordena��o dos espa�os internos permitidos pelos pilotis – apresenta-se como uma caixa de vidro, com rampas ligando o t�rreo ao sal�o de jogos e � boate.
O pr�dio tem paredes revestidas de �nix e colunas cobertas de a�o inoxid�vel, uma inova��o para a �poca, al�m de espelhos de cristal belga. A esse volume se associa o corpo curvil�neo que abriga a pista de jogos e a boate. A solu��o invoca um efeito c�nico comum � arquitetura barroca mineira. O cassino propiciou noites de grande esplendor at� 1946, quando foi desativado pela proibi��o dos jogos de azar no Brasil.
ACERVO Com acervo de 1,4 mil obras em reserva t�cnica e abrigando exposi��es e diversas a��es art�sticas, educativas e culturais, o MAP tem um audit�rio com capacidade para 170 pessoas. No ano passado, o museu recebeu 79,4 mil pessoas, e, neste ano, janeiro teve o maior movimento, com 6 mil. Fazem parte da constru��o os setores de Artes Visuais, Conserva��o e Restauro, Centro de Documenta��o e Pesquisa, Biblioteca e Educativo. Desde 2001, o museu adotou um modelo de curadoria voltado para a produ��o em arte contempor�nea, com �nfase nos trabalhos que dialogam com o patrim�nio arquitet�nico e paisag�stico da Pampulha.
Servi�o
Museu de Arte da Pampulha (MAP)
Aberto de ter�a a domingo, das 9h �s 18h, com entrada franca
Avenida Otac�lio Negr�o de Lima, 16.585, na Pampulha